O julgamento da alegada tentativa de assassinato de Nini Satar foi ontem dedicado a ouvir o visado, como declarante. Ontem foi o terceiro dia. Nos dias anteriores, dois dos réus admitiram terem participado na trama, mas outros dois trouxeram a narrativa de uma "inventona" orquestrada pelo próprio Nini Satar. Um quinto réu, uma oficial da PRM, está fugitivo.
Nini Satar imputou os cinco como tendo estado envolvidos na tentativa do seu assassinato. Num certo dia em janeiro de 2022, disse ele, apercebeu-se de movimentos estranhos dentro da BO, onde ele cumpre uma pena de prisão maior de 24 anos. Um dia depois, um recluso fez-lhe uma revelação: havia um plano para acabar com a sua vida. O mesmo plano foi-lhe partilhado por outro recluso 2 dias depois da primeira revelação. Alertado, contou Nini ao Tribunal, ele pediu a um terceiro recluso para que ficasse atento e recolhesse as provas do referido plano.
Já na posse de todas “provas”, Nini disse ter denunciado o plano à Procuradoria Geral da República. Também “abriu” uma linha de investigação junto da “inteligência da SERNAP”, a qual culminou com a prisão de 2 agentes policiais. Um deles acabou fugindo.
Uma contradição veio à tona no julgamento. Na acusação proferida pelo Ministério Público, consta que todos os réus confessaram a sua participação no plano, em sede de instrução contraditória. Agora no Tribunal, dois agentes da PRM detidos trouxeram a narrativa de que a trama nao passava de uma ªinventona” de Nini. Na sessão de ontem, o Nini disse que os dois réus “usaram a estratégia de mentir ao tribunal por orientação dos seus advogados, advogados estes que estão a ser pagos pelos verdadeiro mandantes”.
Os dois alegaram que Nini teria preparado o seu próprio atentado visando buscar fama. Nini retorquiu que não precisa de fama porque ele já é famoso há 20 anos. O depoimento de Nini Satar levou 1 hora e 30 minutos, tempo em que ele passou a explorar as contradições dos dois réus, denunciando “algumas mentiras”.
Parte da materia que deu origem as investigacpos deste caso teve como fonte escutas telefonicas onde se ouvem detalhes da planificacao da tentativa do assassinato. O Juíz do caso fez questão de desclassificar todas as gravações apresentadas no Tribunal pois, explicou, elas foram feitas sem a observância dos requisitos estabelecidos. “Todas as gravações ou escutas telefônicas devem ser ordenadas por um juiz de instruao”.
Já em relação aos áudios que circularam nalgumas redes sociais, onde alegadamente aparece uma suposta voz de Nini, não conseguiu se provar que era sua voz. A gravação foi apresentada pelos dois réus policiais. Seja como for, o Tribunal descartou-as, pois não têm nenhum valor jurídico.
Ontem foram também ouvidos mais 3 declarantes que revelaram que haviam sido aliciados pelos réus para atentar contra a vida do Nini Satar. O julgamento retoma na quarta-feira com a audição de mais 2 declarantes. (Carta)