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sexta-feira, 24 março 2023 07:12

Homenagem a Azagaia: Nyusi anuncia investigação às atrocidades da Polícia, mas… com convicções “pré-concebidas”

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Cinco dias depois de o país e o mundo terem testemunhado uma onda concertada de violência, protagonizada por agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) sobre os cidadãos, nas cidades de Maputo, Xai-Xai, Beira e Nampula, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, veio a público, finalmente, reagir aos episódios registados no último fim-de-semana.

 

Discursando ontem, em Maputo, durante a realização da XVIII cerimónia de graduação em Ciências Policiais, que teve lugar na Academia de Ciências Policiais, o Chefe de Estado anunciou a abertura de uma investigação para se apurar as razões que levaram a Polícia a adoptar uma postura de violência contra os cidadãos, que pretendiam marchar em homenagem ao rapper Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia, falecido no passado dia 09 de Março.

 

Segundo Filipe Nyusi, a investigação será dirigida pelo Ministério do Interior, concentrando-se apenas nos episódios ocorridos na capital do país, ignorando os que ocorreram nas restantes cidades moçambicanas. O Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS) disse ainda que a investigação deverá igualmente identificar os que tentam se aproveitar da obra de Azagaia para atingir os seus intentos, sem, no entanto, citar nomes e/ou sua posição política ou social.

 

“Face aos acontecimentos da capital do país, Maputo, orientamos o Ministério do Interior para que proceda com uma averiguação das razões que levaram a Polícia da República de Moçambique a adoptar uma postura de confronto físico com os jovens. Igualmente, identificar aqueles que procuram se aproveitar da virtude individual do jovem rapper Azagaia para atingir os seus intentos”, anunciou.

 

Lembre-se que, numa comunicação tida como infeliz, Fernando Tsucana, vice-Comandante-Geral da PRM, disse, na terça-feira, ter identificado o deputado Venâncio Mondlane; os edis da Beira e de Quelimane, Albano Carige e Manuel de Araújo, respectivamente; os políticos João Massango e Augusto Pelembe; e as activistas Quitéria Guirengane e Fátima Mimbire, como indivíduos que se queriam aproveitar, politicamente, da obra de Azagaia.

 

Num discurso com tom eleitoralista, Filipe Nyusi defendeu que as atrocidades testemunhadas no último fim-de-semana colocaram à prova o limite entre a actuação institucional e o exercício dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, facto que “obriga o reforço do diálogo, como mecanismo de busca de pontos de convergência para a salvaguarda desses dois imperativos constitucionais”.

 

“Avaliamos positivamente o trabalho de recolha de informação [da Polícia], saudamos a necessidade de prevenir a desordem pública no nosso país. Contudo, advertimos para que a actuação das forças policiais não se traduza na violência indiscriminada contra civis ou jovens inocentes. Devemos lembrar que, em situações como esta, há muitas agendas concorrentes, mas não devemos permitir que isso ofusque o trabalho que é feito pela Polícia dia após dia para defender os valores democráticos que tanto prezamos. Mesmo havendo infiltrados no seio desses jovens, o trabalho da Polícia deverá, em diante, ser de isolar este grupo de gente mal-intencionada e responsabilizar de forma exemplar”, afirmou o Chefe do Estado.

 

Sem condenar, de viva voz, a brutalidade protagonizada pela Polícia e muito menos prestar sua solidariedade ao cidadão Inocêncio Manhique, que perdeu o olho esquerdo pela acção macabra dos agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), Filipe Jacinto Nyusi sublinhou o discurso do vice-Comandante-Geral da PRM que garantiu haver dados que faziam recear a existência de elementos estranhos aos jovens que queriam homenagear o rapper Azagaia.

 

“Sobre essa afirmação, há vídeos produzidos e difundidos pelos próprios a incitar violência que desvirtua a intenção inicial da camada juvenil, que não politizou o pedido de manifestação feito com o conhecimento das autoridades autárquicas”, assegurou o Presidente da República.

 

“Desde o início do nosso mandato, o nosso apelo tem sido constante: a repressão deve ser usada para os inimigos da democracia. A violência do Estado deve ser dirigida contra os que querem usar vias não democráticas para alcançar o poder. Deve ser usada para os que agridem o nosso país”, defendeu, referindo: “quando se trata do povo, a verdadeira arma da Polícia é o seu comportamento, a sua palavra e o seu gesto de apoio ao cidadão pacífico”.

 

Nyusi justifica seu silêncio pela morte de Azagaia

 

No seu discurso, forçado pela reacção internacional à violência policial verificada no passado dia 18 de Março, num mês em que Moçambique preside o Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Chefe de Estado provou, mais uma vez, estar atento ao debate social, sobretudo em relação ao seu silêncio face ao desaparecimento físico do rapper Azagaia, cuja obra musical teve como alvo principal o Governo da Frelimo.

 

Filipe Nyusi disse que o seu Governo endereçou as suas condolências à família do rapper, através da Ministra da Cultura e Turismo, Eldevina Materula, tal como tem sido “habitual”. “O Governo de Moçambique expressou formalmente as suas condolências e seu pesar durante as exéquias do cantor Azagaia, através da Ministra do pelouro da Cultura e Turismo, tal como aconteceu nos casos anteriores”, afirmou, justificando-se, assim, do seu silêncio ensurdecedor em relação à morte do “herói do povo”.

 

Entretanto, o Chefe do Estado esqueceu-se que, em 2021, aquando da morte do promotor musical Adelson Mourinho, mais conhecido por Bang, enviou uma mensagem de condolências à família do empresário e até marcou presença nas exéquias fúnebres.

 

Continuando, Filipe Nyusi disse: “durante vários quilómetros, a Polícia acompanhou o cortejo e ajudou para que o desfile de pessoas e viaturas decorresse de forma fluída e ordeira”, no entanto, esqueceu-se que a polícia acompanhou o cortejo fúnebre, depois de ter lançado gás lacrimogénio sobre o mesmo, na sua tentativa de inviabilizá-lo. (A. Maolela)

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