O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), ONG moçambicana, pediu ao Estado que dê informações sobre o recém-anunciado endividamento de 247 milhões de euros da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB).
O CDD considera ser "urgente" uma "comunicação do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) sobre o que está de facto a acontecer na HCB e que estratégias estão a ser seguidas para mitigar o risco financeiro", lê-se em comunicado.
A posição do CDD surge 20 dias depois de ter pedido mais informações sobre os empréstimos em causa: um de 125 milhões de euros do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e um outro da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e da União Europeia (UE) de 122 milhões de euros.
"Um mês depois de terem sido rubricados dois importantes acordos de financiamento, não se encontra na página oficial da empresa nenhuma informação sobre os pacotes de empréstimo, sua razão, nem como deverão afetar a situação financeira da empresa, os rendimentos do Estado e dos moçambicanos na qualidade de acionistas", lê-se no comunicado, em que pede a intervenção do IGEPE.
O CDD sublinha que, além de ser maioritariamente pública (detida a 85% pelo Estado), a HCB dispersou 4% do capital em bolsa, considerando assim descabida a falta de informação, que classifica de "secretismo".
"Esta situação é preocupante não só pela forma pouco transparente como o processo tem sido conduzido, mas também pelo timing (político) dos endividamentos multimilionários", ou seja, no início de um novo ciclo eleitoral, aponta o CDD, referindo-se às eleições autárquicas este ano e gerais em 2024.
A HCB, a par da seguradora Emose e da empresa pública de Caminho-de-Ferro (CFM), são as únicas do Setor Empresarial do Estado (SEE) "com forte capacidade de resposta às obrigações financeiras", nota o CDD, temendo que "a empresa caminhe em direção àquelas que são consideradas empresas-cancro do SEE".
A Lusa tentou obter uma reação por parte da HCB, mas a empresa remeteu esclarecimentos para mais tarde.(Lusa)