Continua acesa a troca de acusações entre o Governo e a Renamo, em torno das razões que ditam o atraso no encerramento do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos guerrilheiros da Renamo.
Depois de o Chefe de Estado ter acusado a Renamo, na semana finda, de estar a promover um autêntico festival de trocas constantes de listas dos combatentes a serem enquadrados na Polícia da República de Moçambique (PRM), agora é a vez de a Renamo voltar a acusar o Governo de estar a violar sistematicamente os Acordos de Paz de Maputo.
No último fim-de-semana, por exemplo, o Presidente da Renamo, Ossufo Momade, defendeu que a base da Serra da Gorongosa, localizada na província de Sofala, não foi encerrada na semana finda “por causa dos sistemáticos incumprimentos dos outros intervenientes”, com destaque para o Governo.
Os atrasos que se verificam no pagamento de pensões aos guerrilheiros já desmobilizados continuam a ser invocados pela Renamo como a principal violação dos Acordos de Paz de Maputo e, consequentemente, o principal entrave para a conclusão do processo, iniciado em Junho de 2019.
“Ficamos cada vez mais preocupados com a alegada falta de fundos e alegada insustentabilidade de pensões para os nossos combatentes”, afirmou o líder do maior partido da oposição no xadrez político moçambicano, em declaração aos jornalistas, na província de Nampula, onde se encontra a passar as festas de Natal e do Fim do Ano.
As declarações de Ossufo Momade chegaram dias depois de André Magibire, ex-Secretário-Geral da Renamo, ter garantido que o encerramento da referida base está condicionado ao pagamento de pensões. “Dos mais de quatro mil [guerrilheiros] que já foram desmobilizados, nenhum deles já recebeu pensão. Não haverá paz enquanto aqueles combatentes que já desmobilizaram não têm dinheiro para comprar medicamentos, para mandar seus filhos à escola e, muito menos, para alugar a casa. Como é que vamos avançar com a desmobilização da última base?”, questionou André Magibire, ex-Secretário-Geral da Renamo, em entrevista à STV.
Lembre-se que o processo de DDR devia ter sido concluído no passado dia 19 de Dezembro, com o encerramento da 16ª e última base militar da Renamo, porém, tal facto não aconteceu devido ao boicote protagonizado pelos guerrilheiros acantonados no “quartel-general” da “perdiz”.
O falhanço no encerramento da maior base militar da Renamo levou Ossufo Momade a deslocar-se àquele local para acalmar os ânimos dos guerrilheiros. Aliás, Momade ficou retido no local durante alguns dias, no entanto, acabou sendo liberado pelos guerrilheiros.
Refira-se que o Chefe de Estado disse, semana finda, durante a apresentação do seu Informe Anual sobre o Estado Geral da Nação, já ter sido definida a pensão a ser paga aos guerrilheiros da Renamo, estando em curso, actualmente, o estudo da sua sustentabilidade.
“O conceito pensão já foi conseguido. O que está em causa agora, e que fique claro, é a sustentabilidade da pensão e em que momento arranca (…), porque o universo que nos foi presente, quando se faz as contas, é preciso ter sustentabilidade, pois, não basta ser entregue um cheque amanhã. É preciso ter o anzol para sempre criar peixe. É o que está a acontecer”, Filipe Jacinto Nyusi. (Carta)