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sexta-feira, 07 outubro 2022 07:24

Cobertura dos ataques pela mídia

Desde o começo, a cobertura dos ataques terroristas foi um desafio para jornalistas e investigadores. O governo ficou fechado e a mídia passou a usar fontes não oficiais, em alguns casos omitindo a sua identidade, para contar o modus operandi do terrorismo em Cabo Delgado.

Grupos de comentadores pró-governamentais usaram as redes sociais e outros órgãos de comunicação social, em especial os públicos, para incentivar o ódio contra jornalistas e jornais que continuam reportando os ataques. Egídio Vaz, conhecido comentador pró-governamental, até chegou a sugerir a execução sumária contra jornalistas da Carta de Moçambique e de outros órgãos de comunicação social por reportar de forma recorrente os ataques terroristas. 


Em 2018, o jornalista Estácio Valoi e o investigador da Amnistia Internacional, David Matsinhe, foram impedidos e até retidos por algumas horas, quando faziam trabalho de campo numa aldeia em Mocímboa da Praia, depois de ter sido atacada pelos terroristas. 

Mais do que isso, foi a prisão ilegal do jornalista Amade Abubacar, na vila de Macomia, quando entrevistava famílias deslocadas do posto Administrativo de Mucojo, a 5 de Janeiro de 2019. Amade Abubacar, que ainda espera decisão do tribunal, ficou 108 dias em prisões militar e civil em Mueda e Mieze, e com prazo de prisão preventiva extrapolada sem acusação. 

Na cidade de Pemba, o palco de chegada de deslocados em situação dramática, o jornalista Izidine Acha, do canal televisivo STV, também foi ameaçado pelas FDS, quando reportava sobre famílias deslocadas dos ataques terroristas.

Neste cenário, o desaparecimento do jornalista da rádio comunitária de Palma, Ibrahimo Mbaruco, sob custódia das FDS (militares governamentais) veio mostrar o quão as forças moçambicanas estiveram na dianteira de violação dos direitos humanos, em Cabo Delgado, onde até chegaram a maltratar pessoas por falta de documentação, ainda que soubessem que eram deslocadas e perderam documentos durante a fuga. 

Estas ameaças fazem com que os órgãos de comunicação social, implantados em Cabo Delgado, incluindo as rádios comunitárias, retratem pouco sobre os ataques. O governo continua fechado, sobretudo quando se trata de novos ataques, e só abre as portas ou convida a imprensa quando muito triunfalmente celebra os avanços das FDS. Ou seja, o sentido do jornalismo de guerra em termos de cobertura de ocorrência de novos ataques em Cabo Delgado, não tem sido prioridade, levando os jornalistas a escrever mais em termos da reconstrução.

Luís Nhachote, jornalista do Centro de Jornalismo Investigativo, tem estado em Cabo Delgado, para reportar sobre os ataques terroristas, e considera "a cobertura da mídia não abrangente, pois só tem um lado (versão do governo). 

Os jornalistas em Cabo Delgado continuam a enfrentar dificuldades para ter acesso às informações sobre a situação do conflito em Cabo Delgado, sendo que o governo, nos últimos anos, para mostrar as fases da reconstrução tem colocado em cena os seus órgãos, nomeadamente, a TVM, RM e Notícias.

Contudo, a entrada em cena de agências noticiosas internacionais, incluindo os meios de propaganda do Ruanda, bem como os comunicados de  organismos de assistência humanitária  das Nações Unidos em Cabo Delgado e as pesquisas persistentes têm estado a contribuir para o fluxo de informação sobre os ataques terroristas, mas mesmo assim, a situação em termos de abertura da imprensa ainda não está resolvida. 

Hoje, nenhum jornalista baseado em Cabo Delgado se sente seguro para reportar sozinho nas zonas de conflito, excepto quando está em missões do governo, facto que põe em causa a liberdade de imprensa. 

Neste momento, os deslocados são as principais fontes de informação sobre os ataques terroristas na província de Cabo Delgado, onde as autoridades, através do então governador Júlio Parruque, chegaram a proibir a cobertura dos ataques supostamente para não alarmar a comunidade internacional.

Mas quem são os financiadores do terrorismo em Cabo Delgado?

Vários estudos levantam muitas hipóteses sobre as causas, com destaque à pobreza, exclusão social, desemprego, falta de presença do Estado e o radicalismo islâmico, mas até aqui ainda não se sabe sobre as reais motivações, muito menos os líderes do grupo.

O Chefe do Estado primeiro acusou os madeireiros como sendo os financiadores, depois, os comerciantes locais e, muito recentemente, os proprietários das bombas de combustível, entretanto, ainda não explicou aos moçambicanos as reais causas e ainda insiste que "com o terrorista não se negoceia", numa altura em que alguns analistas políticos, como por exemplo, Muhammad Yassine, entendem que o diálogo com os terroristas seria a melhor forma para pôr fim ao conflito em Cabo Delgado, embora o investigador João Feijó tenha observado que as desigualdades sociais podem ser a  fonte de recrutamento para as fileiras terroristas.(Carta)

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