Arrancou, na manhã desta sexta-feira, 23 de Setembro de 2022, o XII Congresso da Frelimo, a principal reunião do partido no poder que decorre a cada cinco anos. Mais de duas mil pessoas marcaram presença no primeiro dia dos trabalhos, dos quais, 1.495 delegados e 750 convidados, com destaque para a Presidente da Tanzânia e do partido Chama Cha Mapinduzi, Samia Suluhu.
O evento, que decorre na Escola Central do partido Frelimo, na cidade da Matola, província de Maputo, irá definir o futuro da maior formação política do país e, quiçá, do país. Trata-se de uma reunião que paralisou literalmente o país – com toda máquina governamental concentrada no local – e que deixou a cidade da Matola completamente agitada.
Logo cedo (por volta das 6:00 horas) já era possível notar o impacto da reunião dos “camaradas” na vida da cidade da Matola, com as estradas que dão acesso àquela cidade a apresentar um congestionamento fora do comum e com a Polícia a inundar as principais paragens, tal como os cruzamentos e entroncamento. A Polícia de choque, a força canina e os carros blindados foram mobilizados para o evento.
Já a Escola Central do partido Frelimo encontrava-se vestida a rigor, com vermelho, o batuque, a maçaroca e a cara de Filipe Jacinto Nyusi a caracterizarem os detalhes das indumentárias dos participantes.
A Casa Militar, a guarda presidencial moçambicana, chamou para si responsabilidade de garantir segurança do evento e montou um dos mais vistosos dispositivos de segurança, com os seus homens a controlarem todos acessos à Escola Central do partido Frelimo e os francos atiradores espalhados pelos cantos do recinto, incluindo no telhado.
Como sempre, as comunicações foram restringidas no perímetro a volta do local, o que dificulta a interação com o exterior. Os congressistas e demais participantes do evento foram impedidos de portar telemóveis no interior da sala de sessões, uma medida que vigora desde que Filipe Jacinto Nyusi subiu a poder. “A decisão visa não distrair os congressistas e garantir a segurança do presidente”, explicam os especialistas na matéria.
Diferentemente dos congressos anteriores, desta vez, o partido Frelimo impediu os jornalistas de acederem a sala de sessões, um privilégio reservado apenas aos operadores de câmara e aos jornalistas das televisões e rádios que fazem transmissão em directo das sessões abertas à comunicação social.
Os restantes profissionais da comunicação social foram confinados em uma sala que, no primeiro dia, se mostrou inútil. Durante a sessão de abertura, por exemplo, os jornalistas enfrentaram dificuldades para obter imagens e som da sessão, devido aos frequentes cortes de energia. Aliás, alguns tiveram que recorrer ao centro social para acompanhar os “hossanas” e intervenções dos participantes.
“Hossanas” voltam a dominar o congresso
De acordo com o programa fornecido aos jornalistas, o arranque do XII Congresso da Frelimo estava marcado para às 9:30 horas, mas o Presidente do partido, Filipe Jacinto Nyusi, só entrou na sala às 10:00 horas, depois de ter-se dedicado 60 minutos a saudar as delegações provinciais que foram escaladas para cantar e apitar durante as “hossanas”.
Aliás, os cânticos e as apitadelas voltaram a dominar a sessão de abertura da reunião dos “camaradas”, tendo como protagonistas as organizações sociais (OJM, OMM, ACLLIN) e pela delegação da província de Maputo, na qualidade de anfitriã do evento. O momento durou quase 1 hora e 30 minutos.
Nos seus discursos, os Secretários-Gerais da OJM (Organização da Juventude Moçambicana), da OMM (Organização da Mulher Moçambicana) e da ACLLIN (Associação dos Combatentes da Luta de libertação Nacional) reiteram o seu apoio à continuidade de Filipe Nyusi na liderança do partido.
Por exemplo, Silva Livone, Secretário-Geral da OJM, disse esperar uma eleição a 100% de Filipe Nyusi como Presidente do partido, como forma de “respeito, reconhecimento e agradecimento pelas vitórias que a Frelimo alcançou” nos últimos anos.
Convidado a proferir o discurso de abertura, Filipe Jacinto Nyusi fez uma radiografia aos 60 anos da Frelimo e às relações históricas entre o seu partido e o poder no poder na Tanzânia. Orientou os congressistas a discutirem os assuntos agendados e não os que “nos pode dividir”.
Entre os assuntos que devem ser debatidos, disse Nyusi, está a consolidação da unidade nacional, o custo de vida, a sustentabilidade do partido, o combate ao terrorismo, o rejuvenescimento do partido, o impacto das mudanças, estratégia para vencer as próximas eleições e o pacote de medidas de aceleração à economia.
Dos 750 convidados que marcaram presença ontem, Samia Suluhu, Presidente da Tanzânia e do Chama Cha Mapinduzi, foi a única que teve o privilégio de intervir no evento. No seu discurso, a Chefe de Estado tanzaniana agradeceu o convite formulado pelo seu homólogo moçambicano e reiterou a necessidade de as duas formações políticas consolidarem a sua relação.
Suluhu disse que os dois partidos devem lutar pela emancipação económica dos seus países, assim como lutar contra os que financiam os partidos da oposição para derrubarem os partidos libertadores.
Este é o retrato do primeiro dia do XII Congresso da Frelimo, evento que termina na próxima quarta-feira, 28 de Setembro. (A. Maoela)