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terça-feira, 20 setembro 2022 06:38

Depois da afronta de Castigo Langa, Nyusi garantiu que não está interessado no "terceiro mandato"

Na passada sexta feira, 15 de Setembro, no calor do debates sem chama do Partido Frelimo, Filipe Nyusi foi mais uma vez confrontado com a alegada pretensão de querer avançar para um terceiro mandato, contrariando a Constituição da República e a práxis sucessória dentro o "vermelhão".

 

O confronto veio de Castigo Langa, um antigo ministro de Joaquim Chissano, que liderou, durante anos, o gabinete de Análise e Estudos do partido. "Carta" obteve uma cópia do texto confrontacional de Langa. Ontem, Castigo Langa recusou-se a abordar o assunto.”A reunião do Comité Central foi à porta fechada. Tudo o que foi dito foi apenas para  órgão. Não vou acrescentar nem uma linha ao que que foi dito”, reagiu ele, à Carta de Moçambique.

 

O que é que Castigo Langa disse no CC de sexta-feira? Eis algumas das notas relevantes do seu manifesto de desafio da clarificação das águas sobre o tabu do terceiro mandato.

 

“Por vezes perguntam-me se não tenho medo de abordar assuntos tão delicados no Comité Central. Eu respondo que não, porque os membros do Comité Central são meus Camaradas. Se eu estiver errado, hão-de corrigir-me. Tenho medo, por exemplo, de ir a Nelspruit porque oiço dizer que em Nkomati Port há bandidos”. (...)

 

Durante alguns anos chefiei o Sector de Estudos e Análise do Partido e nessa  condição tive o privilégio de reunir-me regularmente com diferentes quadros e estudiosos para debatermos os mais diversos assuntos e produzirmos recomendações para a direcção do Partido. Tal como se diz na gíria, uma vez polícia, polícia para o resto da vida. Esta função criou-me o vício de tentar prever  o desfecho ou consequências de determinados fenómenos. Foi assim que no Congresso de Muchara, ao comentar o discurso de encerramento com o Camarada Filipe Jacinto Nyusi, então Ministro da Defesa Nacional, sugeri que tomasse nota de determinado aspecto, porque ele iria ser o nosso Presidente. Abriu a sua pasta, tirou um bloco de notas e assim o fez. Quando finalmente foi eleito pelo Comité Central como candidato a candidato à Presidente da República, fui dar-lhe um abraço e ofereci-lhe um texto por mim  escrito em 2012 intitulado A FRELIMO E O SÉCULO XXI e um livro intitulado PORQUE FALHAM AS NAÇÕES?, escrito por Daron Acemoglu e James Robinson. Então perguntou-me: --'"Como é que sabias?'"

 

Castigo Langa continuou: “Este relato vem à propósito duma iniciativa que teve lugar no último Congresso, em que, sem estar na agenda, foi aprovada uma resolução indicando o Camarada Presidente como candidato presidencial da Frelimo para eleições que se avizinhavam, bem como da narrativa de alguns fazedores de opinião acerca de um terceiro mandato”.

 

Depois o apelo final: “O meu apelo vai pessoalmente para o camarada Presidente: caso apareça uma proposta no sentido de ser o próximo candidato da Frelimo nas eleições presidenciais, por favor, faça como fez com a oferta de tractor: não aceite! Não seria bom nem para o Camarada Presidente e sua família, nem para a Frelimo e, seria um precedente com consequências imprevisíveis para o nosso país”.

 

“Uma proposta nesse sentido, tanto pode provir de oportunistas com o objectivo de cavalgarem o Camarada Presidente na prossecução de seus fins egoístas, contrários ao interesse nacional, como de camaradas de boa-fé, apenas invadidos pelo medo do desconhecido. Em relação a estes últimos, gostaria de socorrer-me do debate havido quando o Camarada Presidente Joaquim Alberto Chissano manifestou perante o Comité Central a intenção de não se recandidatar nas eleições de 2004. Alguns camaradas expressaram o seu receio de não encontrarmos um  candidato capaz de assumir o cargo. Em resposta, o Camarado Presidente Joaquim Chissano sossegou-nos dizendo que, do seu conhecimento dos vários chefes de estado pelo mundo fora, naquele Comité Central havia muitos camaradas capazes de exercer devidamente o cargo. A experiência provou que estava certo. Depois do camarada Presidente Armando Guebuza que era um veterano com longos anos na direcção da FRELIMO, temos connosco o Camarada Filipe Jacinto Nyusi que até poucos anos antes, não frequentava sequer  os bastidores do governo Central mas saiu-nos um grande estadista, um presidente com obra feita nas mais diversas vertentes da vida do País”.

 

E rematou: ”Dada à nossa amizade dos tempos de estudantes de Engenharia, estaria pessoalmente confortável com a eventual continuação do Camarada presidente Filipe Jacinto Nyusi, mas pesa-me a consciência porque sei que mudanças inconstitucionais podem encorajar iniciativas de igual natureza por parte de outros protagonistas, com elevado potencial de descambar em tragédia. Se da tragédia resultar sangue, será o Camarada Presidente a sujar as  mãos enquanto os proponentes se distanciam sem qualquer pudor nem hesitação”.

 

Confrontado com este pedido de clarificação, Nyusi foi peremptório. Disse que nunca, em nenhuma ocasião, manifestou intenção de avançar para um terceiro mandato e que apenas ouvia dizer.  O assunto ficou encerrado naquela sessão do CC de sexta-feira. Ninguém mais falou nele. (Carta)

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