O dia 09 de Agosto de 2021, uma terça-feira cinzenta, ficará na memória dos moçambicanos, como a data em que Filipe Jacinto Nyusi lançou o seu Plano “Quinquenal” para o sector económico, sete anos depois de ter ascendido ao poder.
Também ficará conhecido como o dia em que o Presidente da República se orgulhou por ter gerido o país com fundos próprios durante este período, devido à suspensão do Apoio Directo ao Orçamento do Estado (OE) pelos parceiros internacionais, na sequência da descoberta das “dívidas ocultas”.
No seu discurso de quase 1 hora e 20 minutos, Nyusi voltou a mandar recados aos doadores, tal como o tinha feito em Maio de 2021, em relação ao combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado. “Sempre dissemos que somos fortes em termos de cooperação e não precisamos de meninos de recados para podermos falar sobre problemas de um país irmão, de um país vizinho”.
Nesta terça-feira, como que a respirar de alívio, por um lado, pelo facto de o país estar a emitir “sinais fortes e concretos da retoma da nossa economia”, com o PIB a crescer 4,59% no primeiro semestre de 2022, contra 4,16% registado em 2021, e, por outro, devido ao regresso do Fundo Monetário Internacional (FMI), Nyusi voltou a abrir o seu coração e disse, em alto e bom som, que o país não ficou desesperado com a saída dos doadores.
Segundo Nyusi, a retirada de mais de 800 milhões de USD anuais no Apoio Directo ao OE teve um impacto negativo na economia, tendo resultado na depreciação do Metical (chegou a ser cotado a 82,00 Meticais face ao Dólar norte-americano), na subida da inflação (chegou a atingir cerca de 27% em Novembro de 2016), na redução do espaço fiscal e, claro, no crescimento económico do país. No entanto, o país nunca ficou de cócoras.
“Ficamos confinados. Não ficamos desesperados. A grande perda foi a confiança dos investidores no país, porque a retirada por si só do apoio, ainda se prevalecesse a confiança, ainda tínhamos espaço de manobra”, defendeu Nyusi.
De seguida, atirou: “graças às respostas pontuais e acertadas, que vínhamos dando, o pior foi evitado e hoje podemos afirmar que Moçambique continua em pé e na rota de crescimento”.
Já direccionando o discurso aos detractores da sua governação, Filipe Nyusi disse que a retirada do apoio externo veio destapar algumas fragilidades estruturais e tradicionais da economia moçambicana que antes eram invisíveis, tais como “os crónicos défices orçamentais, desequilíbrios históricos da balança de pagamento, baixa capacidade de competitividade e elevado nível de endividamento público”.
“Eram coisas invisíveis, mas quando ficamos a depender de nós mesmos, foram visualizadas”, disparou, revelando que, desde a sua chegada ao poder, em 2015, a economia do país cresceu, em média, 2,8% por ano, contra a média anual de 7.3% que se verificou durante a governação de Armando Emílio Guebuza (entre 2006 e 2014).
Para o Presidente da República, para além da retirada do Apoio Directo ao OE, o seu Governo foi também afectado pela pandemia da Covid-19, ataques terroristas e pelos desastres naturais, sobretudo ciclones. “Nos últimos quatro anos, Moçambique enfrentou mais de nove ciclones. Isso não é invenção. Não sei porquê nos últimos anos”, interrogou-se, perante uma plateia constituída por membros do Governo, titulares de órgãos de soberania, diplomatas e empresários.
Nyusi reitera que o país tem tudo para dar certo, alegando que temos uma linha de costa com os melhores portos de África. Portanto, defende o contínuo investimento no capital humano, assim como na boa governação.
Refira-se que o grupo de doadores internacionais ao OE, conhecido como G-14, suspendeu a sua ajuda em Maio de 2016, depois que o FMI suspendeu a sua ajuda devido ao escândalo das “dívidas ocultas”, que levaram o país à sargeta. À data dos factos, o G-14 era composto pelos seguintes doadores: Áustria, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Mundial, Canadá, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça e União Europeia. (Abílio Maolela)