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segunda-feira, 04 abril 2022 04:12

Namaponda: Um Posto Administrativo iluminado, mas “isolado” do país

O Posto Administrativo de Namaponda, no distrito de Angoche, província de Nampula, esteve em festa no passado sábado com a inauguração do sistema de fornecimento de energia eléctrica, construído pela empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM).

 

No entanto, o sorriso apresentado pela população durante os 60 minutos em que o Chefe de Estado esteve naquele Posto Administrativo, contrasta com a realidade que esta vive no seu dia-a-dia. É que o Posto Administrativo de Namaponda carece de água potável, maternidade condigna, posto policial e, sobretudo, de estradas.

 

Para chegar a Namaponda é um autêntico desafio, para não dizer aventura, pois, a viagem não proporciona qualquer adrenalina. Localizado no sudoeste do distrito de Angoche, Namaponda dista a aproximadamente 130 Km da Cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome, porém, o percurso chega a ser feito em aproximadamente 5 horas, devido às péssimas condições da via.

 

Segundo Paulino Adriano, comerciante de Namaponda, normalmente a viagem daquele Posto Administrativo para Cidade de Nampula dura quase 3 horas (de viatura particular), mas a contínua degradação da via e o bloqueio de alguns troços pelas águas das chuvas, tornam a viagem cada vez mais longa e perigosa. Aliás, as autoridades não aconselham a saída de automobilistas da Namaponda a Nampula e vice-versa depois das 13:00 horas.

 

“Carta” integrou, semana finda, a comitiva de jornalistas convidados para efectuar a cobertura da cerimónia de inauguração do sistema de energia eléctrica de Namaponda e testemunhou in loco o drama vivido pela população daquele ponto do país.

 

 

A estrada que liga Namaponda à cidade de Nampula é de terra batida, estreita e degradada, atravessando o Posto Administrativo de Corane (distrito de Meconta) e a sede distrital de Liúpo. Mas, no lugar de percorrer 127,3 Km, que representam o troço Nampula/Corane/Liúpo/Namaponda, a nossa comitiva (constituída por duas viaturas com tração a quatro rodas) teve de percorrer 151,1 Km, fazendo o trajecto Nampula/Mecua/Corane/Liupo/Namaponda. Ou seja, teve que percorrer mais 23,8 Km.

 

Com a queda das chuvas, a via Nampula/Corane/Liúpo está completamente intransitável, sobretudo no troço Corane-Cidade de Nampula, o que requer o uso de vias alternativas, sendo que a mais segura é uma picada de pouco mais de 35 Km, que parte do Km 44, na Estrada Nacional Nº 104 (que liga a cidade de Nampula à vila de Nametil, no distrito de Mogovolas), até à sede do Posto Administrativo de Corane. Sublinhar que é a única via que também liga as Cidades de Nampula e Angoche, na sequência do arrastamento da estrutura metálica montada sobre o rio Mutacazi, no distrito de Mogovolas.

 

Trata-se de uma picada com troços lamacentos, em que só circulam viaturas com tração a quatro rodas. Ou seja, nenhuma viatura sem tração a quatro rodas pode atrever-se a entrar nessa via. Aliás, durante a viagem de Nampula a Namaponda, a nossa reportagem viu duas viaturas pesadas enterradas. Já no regresso, uma viatura da escolta do Presidente da República – que tinha a missão de transportar as viaturas protocolares de Filipe Nyusi de Namaponda até à Cidade de Nampula – enterrou numa das covas engolidas pelas águas das chuvas.

 

Fome ameaça Namaponda e Angoche

 

Devido a esta situação, Paulino Adriano conta que o Posto Administrativo de Namaponda ressente-se da falta de produtos alimentares, visto que os comerciantes não conseguem chegar à cidade de Nampula para adquiri-los.

 

“Não posso meter meu carro nesta estrada, que está cheia de água e lama”, disse a fonte, sublinhando que a situação se agrava, devido ao arrastamento da estrutura metálica montada sobre o rio Mutacazi, no distrito de Mogovolas.

 

“Se a estrada de Mogovolas estivesse em condições, íamos usar esta via, mas também não está transitável devido à queda da ponte. Estou há 1 mês sem pisar a cidade de Nampula, porque as condições de estrada não são favoráveis. Já não tenho produto na minha loja por causa disso”, explicou.

 

No entanto, se o stock de produtos alimentares já está quase no limite, o mesmo não se pode dizer do transporte. Desde a passagem da Tempestade Tropical “ANA” que os transportadores não retiram as suas viaturas das garagens, devido às péssimas condições em que a estrada se encontra. Os que arriscam a meter seus carros na lama, aplicam tarifas especulatórias. Isto é, as péssimas condições da via impedem a população de Namaponda de se deslocar à cidade de Nampula e vice-versa.

 

Refira-se que se trata de uma realidade que se vive um pouco por todo o país. Na província do Niassa, por exemplo, a via que liga a cidade de Cuamba às vilas de Metarica, Maua, Marrupa e Mecula é de terra batida, havendo troços que em período chuvoso são autênticas lagoas.

 

Sublinhar que o Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, deslocou-se a Namaponda de helicóptero e, durante o seu discurso, não fez menção às condições da estrada. Também não se pronunciou em torno da reposição da ponte metálica sobre o rio Mutacazi, que já começa a causar prejuízos na cidade de Angoche. (Abílio Maolela, em Namaponda)

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