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quarta-feira, 15 janeiro 2025 11:54

Daniel Chapo: Do “cativeiro” à promessa de “motorista” de um povo

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O novo Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo, assume o cargo com uma trajectória mais singular do que os seus antecessores, com sagas que incluem uma etapa de vida em cativeiro da guerrilha da Renamo, após ser capturado com os pais, durante a guerra civil de 16 anos, que terminou em 1992, culminando agora com a ascensão à função mais importante do país, que o próprio chama de “motorista” que vai “conduzir” um povo.  
 
Vencedor improvável das eleições internas na Frelimo e com a legitimidade severamente ferida por relatórios que apontam fraude nas eleições gerais e por violentas manifestações convocadas pelo seu opositor Venâncio Mondlane, Chapo – 48 anos acabadinhos de fazer em 06 de Janeiro - é também o primeiro chefe de Estado com passagem pelo jornalismo em Moçambique.
 
As habilidades de comunicação, que seus discursos e aparições públicas falham em evidenciar, adquiridas na sua passagem pelo canal TV Miramar serão de suma importância para uma postura dialogante que possa contribuir para ajudar a “curar” o ódio e intolerância política que flagelam a nação nestes tempos de cólera.
 
Em entrevistas que deu durante a campanha eleitoral, assinalou o compromisso com o diálogo com todas as esferas sociais, incluindo com a sociedade civil.
 
Terá sido esse talento no diálogo que persuadiu a multinacional sul-africana Sasol a assumir uma política de responsabilidade social mais humana junto às comunidades dos campos de gás que explora na província de Inhambane, sul do país. Ainda que essa nova abordagem da Sasol – que Daniel Chapo rejeita como favor – tenha ficado aquém das elevadas expectativas das comunidades, como se atesta pela revolta que amiúde tem manifestado.
 
A estratégia de uma governação e interacção de proximidade também lhe valeram louros nos programas de reassentamento em Nacala, para dar lugar ao Corredor de Desenvolvimento de Nacala, onde começou a carreira política, como administrador, e no distrito de Palma, no âmbito dos projectos de gás de Rovuma.
 
Prometeu várias vezes transpor essa bagagem para, durante a sua presidência, demover as multinacionais, no sentido de deixarem mais-valias a favor das populações, principalmente das zonas onde realizam actividades extractivas.
 
Após fazer Direito, a primeira profissão jurídica que abraçou foi de conservador e notário em Nacala, nos serviços distritais da Conservatória de Registos e Notariado. A sua actividade cobriu os escopos do Registo Predial (actos de compra, venda, transmuta e transmissão por herança de imóveis), o Registo de Entidades Legais (que constitui e ou formaliza a dissolução de empresas, igrejas, associações, etc), o Registo Criminal (que centraliza e passa atestados comprovativos de conformidade com as leis ou cadastro criminal de cidadãos) e o Registo Civil (que formaliza assentos de nascimento e falecimentos, oficializa casamentos, inicia ou consolida laços de família mas também tem a missão ingrata de consumar legalmente divórcios).
 
Aliado à fé católica, meio no qual conheceu e se enamorou de sua  esposa, transporta consigo a expectativa de unir a família desavinda moçambicana, na sequência das eleições gerais. Sem ser pastor, nem mensageiro de Deus e muito  menos senhor do dom da oratória evangelista nos púlpitos públicos, traços característicos do seu maior adversário político (VM7), em vídeos curtos que circulam pelas redes sociais digitais e microblogues, os marqueteiros de Chapo procuram ''vender'' a imagem de um Chapo que faz profissão de fé ao acto de se ajoelhar e rezar, qual humilde servo, devoto e temente a Deus.
 
Ou procuram, sem que ele o propale, nos antípodas de Venâncio Mondlane, passar a ideia de que Chapo é o Daniel ''Filho de Deus'', ungido para liderar Moçambique na sua maior encruzilhada, precisamente no ano do Cinquentenário da proclamação da Independência Nacional e do render da guarda à gerontocracia (dos libertadores e seus descendentes ao leme dos destinos da Pátria Amada)? Facto curioso, em seu Discurso de Tomada de Posse, Chapo fez votos e rogou que ''Deus Abençoe Moçambique'', variação não contraditória senão alusiva, sucedânea para sermos mais assertivos, da frase-chamamento da campanha de VM7: ''(Este País é Nosso), Salve Moçambique!''.
 
Como governador da província de Inhambane e durante a campanha eleitoral, enveredou por uma postura humilde e mais jovial, traços de que vai precisar para estar à altura das aspirações dos jovens que foram a principal “carne para canhão” durante as manifestações contra os resultados eleitorais que o levaram à Ponta Vermelha, residência oficial do chefe de Estado moçambicano.
 
Filho de um ferroviário funcionário dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e de uma mãe doméstica, Daniel Chapo pautou-se pela modéstia, para tentar condizer com a sua origem e contacto com a pobreza, marca d'água de seus discursos quando se lhe pede que fale de sua identidade, valores e princípios por que pugna.
 
Considerado por quem o conhece e auto-assumido tributário da ética e disciplina de  trabalho, foi o próprio Daniel Chapo quem cunhou a mensagem-chave da sua campanha: ''Vamos Trabalhar''. Já investido Chefe de Estado, agora é a hora de fazer jus a tal e provar que #VamosTrabalhar é mais do que um ''slogan'' e ''hashtag'' mobilizador nesta era de domínio das redes sociais digitais e do efeito viral.
 
A partir de hoje, o “motorista” Daniel Chapo já tem o “carro” Moçambique para “conduzir” o povo, durante os próximos cinco anos, como prometeu durante a campanha eleitoral. Cinco anos é um tempo fugaz, mas Daniel Francisco não pode em ritmo ''txapo-txapo'' - corruptela do inglês chop-chop, neologismo moçambicano para significar ''apressado'', ''acelerado'' - almejar as reformas que pretende implementar e incrementar. (Carta)

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