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sexta-feira, 17 novembro 2023 08:53

Pirataria de conteúdos: O fim de carreiras

A pirataria de conteúdos está a reduzir as oportunidades de jovens criadores ganharem a vida através do seu trabalho. Entretanto, o impacto mais insidioso da pirataria de conteúdo na área de entretenimento é como esta mina a capacidade de África contar as suas próprias histórias.


À medida que os canais de conteúdo evoluíram para fornecer entretenimento em uma infinidade de dispositivos e plataformas, a pirataria de conteúdo evolui significativamente. Antes, a pirataria envolvia bancos de dispositivos de gravação e fitas. Hoje em dia, a sofisticada tecnologia de streaming é usada para redistribuir ilegalmente conteúdo de e em plataformas online.


Produtores, estúdios e detentores de direitos encontram-se numa corrida tecnológica no combate aos piratas, trabalhando para desenvolver estratégias de segurança de conteúdo, incluindo das suas plataformas, de modo a proteger a reputação da sua marca, sua receita e os milhares trabalhadores cujos meios de subsistência dependem da indústria.


Um novo relatório da Parks Associates mostra que o valor dos serviços de vídeo pirata acessados por consumidores de TV paga e TV não paga ultrapassará US$ 67 bilhões este ano. Esses bilhões de dólares representam a renda roubada de produtores de conteúdo, plataformas de entretenimento e profissionais de produção em todo o mundo.


Nos Estados Unidos de América, um relatório da indústria de conteúdo estimou que a pirataria de vídeo digital custa à economia entre 230.000 e 560.000 postos de trabalho todos os anos e até 115,3 mil milhões de dólares em produto interno bruto reduzido.


Outro desafio que as indústrias de conteúdo enfrentam é o facto da pirataria estar a tornar-se endêmica e culturalmente aceite. A pesquisa de mercado afirma que 34% dos usuários da Geração Z usam sites de ripagem de fluxo e, no Reino Unido, 69% das visitas a sites de ripagem de fluxo são visitas directas, em vez de provenientes da pesquisa.


Em África, onde os recursos são limitados, a pirataria também é generalizada. Uma pesquisa da Irdeto descobriu que os usuários em cinco grandes territórios africanos fizeram 17,4 milhões de visitas aos 10 principais sites de pirataria identificados na internet em um único período de três meses.


Embora a pirataria possa parecer pouco notável, tem impactos humanos directos. Nos casos em que os conteúdos são habitualmente roubados, as indústrias baseadas na criação de conteúdos mediante uma remuneração justa podem deixar de ser viáveis. Os empregos desaparecem, assim como o conteúdo que reflecte a vida do público.


“Pirataria é roubo”, diz Frikkie Jonker, Director de Radiodifusão e Cibersegurança: Antipirataria da Irdeto. “Quando as pessoas roubam conteúdo, essas produções deixam de ser viáveis, essas histórias não são contadas e as pessoas que criam esse conteúdo não são pagas.


Jonker diz que o mesmo princípio se aplica a todo o sector de conteúdo de vídeo – para filmes, desporto, séries, telenovelas, talk shows e documentários.


“Na MultiChoice, sabemos que o sector da televisão é um grande multiplicador económico em África, que directa e indiretamente cria milhares de empregos”, afirma Jonker. “A pirataria ameaça a existência desses empregos – e o bem-estar das comunidades em todo o continente.”


Jonker cita o exemplo do trabalho da MultiChoice Nigéria, através da Africa Magic, que encomendou, produziu e adquiriu mais de US$ 85 milhões em conteúdo local.


Além da indústria do entretenimento em si, o impacto da Africa Magic fez injecções financeiras significativas em indústrias adjacentes, como os sectores de viagens, hotelaria, construção e manufactura. Todos estes investimentos estão ameaçados pelo flagelo da pirataria.


“Está demonstrado que a pirataria desencoraja a criatividade e a inovação no sector de conteúdos, porque os criadores e inovadores podem não receber as recompensas financeiras que merecem pelo seu trabalho”, acrescenta Jonker. 


A um nível mais geral, a pirataria pode também normalizar o roubo de propriedade intelectual e minar o respeito pelo Estado de direito, para além de expor os consumidores a riscos como ‘malware’, roubo de identidade, fraude e outras formas de cibercrime perigoso.


De acordo com o Muso Piracy Data Overview, a pirataria televisiva cresceu mais de 10% em um ano e a pirataria cinematográfica quase 50%. Também constatou uma tendência crescente nas visitas a plataformas digitais de pirataria – um aumento de 18% em relação a 2021.


“Se a pirataria continuar sem controlo, menos histórias africanas serão contadas”, diz Jonker, acrescentando que menos produções locais serão encomendadas e os produtores de conteúdo terão menos oportunidades.”


A MultiChoice Africa Holdings lançou recentemente uma campanha televisiva em todo o continente para chamar a atenção para o facto de a pirataria “descontar” histórias de África e destruir empregos nas indústrias criativas e de produção.


Em linha com esta campanha, Jonker apela para que telespectadores e consumidores africanos se unam contra a pirataria, de modo a permitir que os criativos africanos possam ganhar a vida com o seu talento.


“Se conseguirmos vencer a pirataria, libertaremos a economia criativa africana e multiplicaremos o seu impacto”, afirma. “Milhares de outros empregos e carreiras serão criados, e seremos capazes de dar às pessoas africanas entretenimento de classe mundial que recflita as suas vidas”, conclui.

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