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quinta-feira, 22 julho 2021 14:12

Em entrevista recente ao "African Banker" o PCA João Figueiredo traça os caminhos do Moza Banco

Apesar de um ambiente global e doméstico muito desafiador, o banco conseguiu transformar uma perda de 776 milhões de meticais em 2019 para um lucro de 146 milhões de meticais em 2020. Parabéns. Como conseguiu isso?

  

Não obstante a conjuntura e o momento desafiante que, sem excepção, todos os sectores da economia conheceram ao longo do 2020, a actividade do Moza Banco, no seguimento de um percurso sustentado que abraçou ao longo dos últimos anos, evidenciou uma evolução francamente positiva. O Banco manteve o seu registo de recuperação e crescimento, fruto da confiança que os Clientes e o Mercado têm vindo a reafirmar em relação à actividade e desempenho. Fica evidenciado, por exemplo, nos índices de crescimento que o banco apresenta da sua actividade ao longo de 2020 – crescimento do seu Activo em 14%, crescimento dos Recursos em 20%, e um ligeiro crescimento da Carteira de Crédito em 1%.

 

Nesta sequência, a trajectória estratégica que o banco tem vindo a desenvolver, acaba por ficar ainda, bem ilustrada no facto do Banco em 2020 ter logrado alcançar o seu Break Even, 3.5 anos apenas, após a operação de profunda reestruturação operacional, saneamento financeiro e reconfiguração da estrutura de capital, efectuado no seguimento da intervenção de que foi alvo por parte do Banco Central.

 

Em 2020, o Moza conseguiu manter a representatividade significativa em termos de quotas de mercado – Activos 6,1%, Depósitos 6,1% e Crédito 10,3%, como alcançamos um resultado líquido de 146 milhões de meticais. O Moza demonstrou, em 2020, uma forte capacidade de ultrapassar dificuldades em ampliar a geração de receitas, mantendo a solidez de balanço e de uma situação de liquidez confortável.

 

Em Março, emitiu um empréstimo obrigacionista por subscrição privada de $ 7,5 milhões. Qual foi o propósito?

 

Em 2019, o Moza Banco, aprovou o Plano Estratégico (PE) para o período compreendido entre 2019 e 2023. De entre as várias prioridades preconizadas pelo PE, encontra-se a necessidade do MOZA BANCO desenvolver a sua estratégia de negócio assente na promoção e disponibilização de uma oferta integrada de produtos e serviços para fomentar uma relação mais próxima junto do segmento Corporate, obter um melhor entendimento das necessidades no negócio do cliente e promover a colocação de produtos e serviços nos mesmos.

 

Para o efeito, a dinamização de produtos específicos para este segmento, tais como são os casos de Trade Finance, Factoring, Garantias, Bancasurance, Forex, e outros são apontados como sendo parte de uma estratégia global com aplicação imediata para materialização deste objectivo.

 

Neste enquadramento, o Moza Banco emitiu o empréstimo obrigacionista por colocação directa e privada através da sua accionista ARISE, BV com o propósito de reforçar e robustecer a liquidez em Moeda Estrangeira para reestabelecer uma posição financeira mais equilibrada, capaz de dar cobertura a estas actividades.

 

Moçambique foi atingido por um golpe triplo: a pandemia, o terrorismo e uma economia em declínio. Como é que estes factores afectam economicamente o nosso país?

 

De acordo com as contas nacionais publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), todos os sectores de actividade económica foram adversamente afectados pelas medidas de estado de excepção introduzidas para a contenção da pandemia da Covid-19. Assim sendo, a vida social foi substancialmente afectada, com o encerramento de empresas e subsequente redução dos postos de trabalho. Num inquérito realizado pelo INE aos gestores de 89.385 empresas privadas (Resultados do Inquérito Sobre o Impacto da Covid-19 nas Empresas, 2020), publicado ainda em Junho de 2020, constatou-se que nessa altura já 90,4% das empresas inquiridas reportaram terem sido afectadas pela pandemia, reflectindo cerca de 41% em perdas globais de receitas.

 

Ainda de acordo com o inquérito em referência, constatou-se que apenas 20,9% das empresas inquiridas beneficiaram de alguma suspensão de obrigações tributárias ou contributivas anunciadas pelo Governo, evidenciando a necessidade do Governo imprimir maiores esforços na canalização de apoios materiais para as empresas afectadas. Os desafios acima relatados e referentes ao ano de 2020 justificaram o primeiro registo de recessão económica em Moçambique desde 1986. A evolução real do produto interno bruto sofreu uma degradação de -1,28% em 2020, sendo que o agravamento dos ataques insurgentes na região de Palma, província de Cabo Delgado, e a subsequente paragem das actividades de construção de infra-estruturas de suporte à futura exploração de gás natural por parte da Total E&P, confluíram para a revisão em baixa das perspectivas de geração de novos negócios e frustraram as expectativas de novos empregos.

 

De acordo com as Nações Unidas, cerca de 700 mil pessoas estão deslocadas (das quais 46% são crianças), devido ao agravamento dos conflitos militares em Cabo Delgado. No seu mais recente relatório (World Economic Outlook - Abril, 2021), o Fundo Monetário Internacional reviu em baixa a perspectiva de crescimento da economia moçambicana em 2021, passando de 2.1% para 1,6%. Concomitantemente, o Governo de Moçambique divulgou recentemente o Cenário Fiscal de Médio Prazo para o triénio 2022-2024 que indica uma previsão do crescimento económico para 2021, na ordem de 1.5%, contra a previsão anterior de 2,1%.

 

No ano passado assinou o Fundo Empresarial da Cooperação Portuguesa (FECOP) para ajudar a mitigar os efeitos da pandemia. Tem funcionado?

 

O Moza Banco, na qualidade de instituição financeira comprometida com o desenvolvimento do país, não pensou duas vezes em aderir à iniciativa FECOP, que é um instrumento financeiro estabelecido entre os Governos de Portugal e de Moçambique para apoio a micro, pequenas e médias empresas moçambicanas visando o fortalecimento e a recuperação da actividade económica, particularmente as afectadas pelas calamidades naturais e pela pandemia.

 

O impacto desta adesão tem-se feito sentir de forma gradual, tendo o Moza estado a receber pedidos de financiamento enquadrados neste instrumento, sendo as PME’s no ramo do Agronegócio as que mais têm solicitado. Isto não é uma surpresa, visto que este sector é, por natureza, um dos que mais dificuldades têm em apresentar garantias reais que normalmente são requeridas pela Banca Comercial.

 

No entanto, é preciso que os processos de aprovação sejam mais céleres. Como protocolado, não basta o Banco aprovar os financiamentos sob a iniciativa FECOP, é preciso que as aprovações sejam depois chanceladas por um Comité dentro do FECOP para a operação prosseguir e isto por vezes tem atrasado os desembolsos. É um processo natural no início de iniciativas destas, mas com o passar do tempo os procedimentos têm tendência a ser mais rápidos.

 

Em suma, com esta ferramenta o Moza Banco está dotado de capacidade para financiar PME´s com uma taxa de juro bonificada e prazos de carência mais favoráveis, e iniciativas similares são necessárias e muito bem-vindas.

 

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A pandemia forçou a maioria dos bancos a mudar as abordagens tradicionais em relação aos clientes. Que mudanças teve que fazer no Moza?

 

Com o objectivo de atenuar os efeitos da pandemia, o banco procurou estar na linha da frente através da definição de medidas concretas, tendo criado para o efeito dois grupos de trabalho para responder aos desafios operacionais e financeiros. O primeiro grupo de trabalho foi responsável por questões operacionais, tais como, a adopção de medidas apropriadas, garantindo a continuidade das operações do banco. O segundo grupo foi responsável por mitigar potenciais riscos de incapacidade dos clientes cumprirem com o serviço da dívida, através de identificação de sectores resilientes aos efeitos da crise pandémica, um acompanhamento permanente dos clientes identificados como potenciais de entrada em incumprimento, o que permitiu ao Banco oferecer soluções atempadas e ajustadas às necessidades dos clientes.

 

Foram implementadas medidas visando minimizar o impacto da pandemia da Covid-19, com destaque para as seguintes acções:

  • Concepção e negociação de um programa de moratórias com um conjunto de Mutuários, aliviando por esta via, a pressão das tesourarias que as Empresas e os Particulares sentiram.
  • Forte divulgação de informação e medidas preventivas sobre a Covid-19 aos Colaboradores, Clientes, e Público em geral através dos vários canais;
  • Reforço dos procedimentos de limpeza e desinfecção das nossas instalações, Agências, ATM´s e Quiosques;
  • Disponibilização de material de desinfecção e higienização em todas nossas Agências;
  • Determinação de obrigatoriedade de uso de máscaras de protecção por todos os Colaboradores no atendimento aos Clientes, e luvas para manuseamento de dinheiro.

 

Recentemente, na busca de soluções diferenciadoras para os seus Clientes, o Moza investiu no serviço de Whatsapp, como canal transaccional. O Whatsapp é a rede social que mais cresce no mundo, com cerca de 2 bilhões de utilizadores. Os Clientes passam a ter o banco consigo em todo lado e a toda hora.

 

Através do Whatsapp (84 0247247), os clientes podem efectuar consultas, transferências, pesquisas e outras operações úteis no seu dia-a-dia. Adicionalmente, os Clientes podem enviar ao banco os documentos por actualizar.

 

O investimento neste canal, está ainda em linha com as iniciativas da conjuntura actual (COVID-19), como mais uma alternativa de acesso ao banco para os Clientes.

 

Como factor diferenciador, destacar o facto do Whatsapp Banking estar disponível também para “Não Clientes”, com uma série de funcionalidades disponíveis como por exemplo: ser contactado pelo MOZA (tornando-se Cliente), baixar a brochura de produtos, consultar agências MOZA, entre outros.

 

Os bloqueios afectaram todas as empresas, mas o sector das PME foi o mais afectado. Como é que o Moza banco está a ajudar este sector - por exemplo, está a ser revista a política de taxas de juros?

 

O Moza Banco continua a ver as PMEs como o principal pilar da economia nacional. Em 2020, encontrava-se na quarta posição no que tange ao volume de crédito à economia, o que revela o nosso compromisso com a contribuição para o crescimento económico do país.

 

Para continuar a apoiar este perfil de clientes, foram disponibilizadas linhas especiais de crédito, como a SUSTENTA, e Fundo de Segurança Alimentar, com o objectivo de assegurar a continuidade das suas actividades.

 

Além destas acções, destacam-se:

  • Linha FECOP, destinada a Empresas afectadas pelo Ciclone IDAI e a Covid-19;
  • Linha POS Moza Business, que oferece um Descoberto Autorizado com taxas bonificadas;
  • Operações estruturadas para Empresas Exportadoras menos afectadas pela Covid-19;
  • POS Virtual, para os Comerciantes que não possam aderir a um POS convencional;
  • Planos de suporte aos Clientes Exportadores e Importadores;
  • Plano de oferta aos fornecedores do Banco Mundial

 

Dados os enormes recursos naturais de Moçambique - gás, carvão, áreas de pesca, para citar alguns, é frequentemente referido como o ‘gigante adormecido’. O que precisa ser feito para despertá-lo em todo o seu potencial? 

 

De facto, a economia moçambicana tem estado a marcar passos evidentes na transformação para um estágio de diversificação da base de produção e sustentabilidade. Nos finais da década 90 e início do actual milénio, o alumínio configurava na principal fonte de arrecadação de receitas de exportação do país. Hoje, não é devido ao ordenamento gradual de políticas económicas que favoreceram a entrada no país de novos investidores nos mais variados sectores de actividade económica, incluindo não só as explorações mineiras, que já representam a maior fonte de receitas de exportação do país, mas também na agricultura, com investimentos avultados, por exemplo, no tabaco, no algodão e na produção de uma miríade de alimentos.

 

Portanto, é importante que as políticas económicas continuem de forma crescente a criar ambiente favorável e seguro para atrair a entrada e a permanência dos investimentos privados, num contexto que propiciem directamente interligações económicas e sociais cada vez melhor quantificáveis sob o ponto de vista de integração do conteúdo local, com a participação das empresas nacionais nas cadeias de valor associados aos referidos investimentos e na subsequente geração de empregos nacionais, também com maior grau de exigência em termos de qualificações.

 

 

Embora o comércio global e as trocas comerciais estejam lentamente a voltar ao normal, parece que ainda falta algum tempo antes que tudo esteja normalizado. Qual é a melhor forma de Moçambique se preparar para uma retoma económica plena?

 

Em primeiro lugar, é importante sublinhar que dado o facto do orçamento do estado moçambicano encontrar-se em situação deficitária, a mobilização de apoios internacionais através dos parceiros de cooperação de Moçambique é sobremaneira crucial para permitir que o país lide de forma firme com os desafios multifacetados que enfrenta em relação a pandemia, aos conflitos militares e aos choques climáticos, de modo a permitir maior capacidade de estimular a actividade económica com a necessária sustentabilidade. Em segundo lugar, é preciso que encete uma forte e abrangente campanha de vacinação contra o Covid-19. Uma grande abrangência de população vacinada permitirá a antecipação do relaxamento das restrições em curso, estimulando a actividade económica no país e as relações com os seus parceiros económicos. Notamos que o governo de Moçambique tem estado a receber fundos adicionais de suporte para combate aos desafios da actualidade.

 

O Banco Mundial, parceiro estratégico de desenvolvimento de Moçambique, aprovou a 27 de Abril, um pacote de financiamento de aproximadamente USD 800 milhões, dos quais USD 700 milhões através do instrumento PRA – Prevention and Resilience Allocation – com o objectivo de prevenir a escalada do conflito e ajudar na construção da resiliência em Moçambique. Os remanescentes USD 100 milhões, canalizados através da Associação Internacional de Desenvolvimento, tem como foco apoiar o Projecto de Recuperação da Crise do Norte de Moçambique, que se concentra na resposta emergencial junto às populações das aldeias afectadas.

 

O Banco Mundial ainda assegurou a disponibilização de fundos adicionais para apoio nas campanhas de vacinação em curso no país. Por outro lado, a União Europeia anunciou recentemente a sua disponibilidade na cooperação para o desenvolvimento, acção humanitária e cooperação em matéria de paz e de segurança. Por fim, o governo deve assegurar a pronta canalização desses recursos comprometidos pelos seus parceiros internacionais, para as áreas prioritárias, de modo a conduzir a economia para um estágio de recuperação mais acelerada.

 

Desde 2014 que o banco está numa montanha-russa, mas os últimos anos têm sido bons e o João Figueiredo ganhou prêmios internacionais. Isso aponta para um período de crescimento sustentado?

 

A implementação da Estratégia aprovada pelos accionistas permitiu reforçar o nosso posicionamento estratégico e comercial. Ao longo dos últimos anos, o Banco consolidou o seu posicionamento no sistema financeiro moçambicano, encontrando-se no Top 5 dos maiores Banco a operar em Moçambique, com uma quota de mercado significativa em Activos (6,10%), Crédito (10,30%) e Depósitos (6,10%). Neste período, o Banco definiu como prioridade de acção comercial, a recuperação e aumento dos níveis de confiança dos nossos Clientes. É neste contexto que foi efectuado um intenso trabalho de mobilização de todos os colaboradores do Banco em geral, e das equipas comerciais em particular com vista a garantir o compromisso e a confiança de todos para o alcance dos objectivos definidos pelo Banco. Por outro lado, note-se que a recuperação do Moza tem estado a ser sustentada igualmente pelos investimentos na expansão sustentável do negócio, implementando soluções diferenciadoras e firmando parcerias estratégicas para expandir a sua presença sem que necessariamente seja por via de uma presença física.

 

Eleição como o Melhor Banco da África Austral - Este prestigiante prémio é um reconhecimento aos esforços empreendidos pelo Banco ao longo dos últimos anos, em particular em 2020, em que o Banco registou uma extraordinária evolução dos indicadores da actividade comercial, expandiu substancialmente a rede de balcões privilegiando zonas até então sem cobertura em termos de agências bancárias e, elevou a qualidade de serviço prestado, disponibilizando produtos e serviços inovadores e de valor acrescentado para os seus clientes e parceiros.

 

A expansão geográfica do Moza Banco, tem permitido transformar positivamente a vida das populações em regiões remotas do país, fazendo jus ao posicionamento de banco verdadeiramente moçambicano e apostando em contribuir para o progresso económico do país e da região.

 

Quais são os maiores desafios que enfrentou e continua a enfrentar no banco?

 

O Banco já tem vindo a enfrentar vários desafios e para alguns já assegura alguma estabilidade, nomeadamente a carteira de crédito vencida apurada na intervenção por parte do Banco de Moçambique, realizada em Setembro de 2016. Os efeitos e as consequências directas e indirectas que da pandemia acarretou, são seguramente os maiores desafios da economia Global e que o Moza não constitui excepção. Assinale-se, porém, que apesar do seu protagonismo e da importância que assumiu a nível mundial, esta pandemia não constituiu o único desafio que Moçambique viria a enfrentar ao longo deste exercício.

 

Na verdade, há que recordar que o país ainda está por recuperar dos ciclones IDAI e KENETH, que devastaram as regiões do centro/norte em 2019, ciclo de ciclones, que viriam, infelizmente, a ser replicados por fenómenos idênticos em 2020.

O Banco já evidencia sucesso na sua estratégia que garantiu o alcance do break even, contudo o actual contexto pandémico reúne inúmeras incertezas e desafios. Certamente que o Moza Banco na sua estratégia procura assegurar a sustentabilidade e assim temos feito. (African Banker)

Sir Motors

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