Com a tensão pós-eleitoral, o fluxo de mercadorias tem sido de forma titubeante desde 21 de Outubro passado. Entretanto, desde o dia 13 de Dezembro corrente, a mercadoria tem fluido ininterruptamente, confirmaram esta quinta-feira (19), à “Carta”, os porta-vozes das Alfândegas de Moçambique, Fernando Tinga e dos Serviços de Migração da Província de Maputo, Juca Bata.
“O fluxo de camiões retomou na semana passada e tem acontecido normalmente”, disse Tinga, sem precisar o número de camiões que atravessaram a fronteira de Ressano Garcia, de Moçambique para África do Sul ou vice-versa. Além de fontes governamentais, o jornal teve a confirmação do fluxo da logística, também, do sector privado, concretamente da concessionária do Porto de Maputo, a Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC, sigla em Inglês).
“Desde sexta-feira da semana passada, o Porto de Maputo tem registado entrada e saída de camiões sem sobressalto”, disse a fonte que preferiu anonimato. Entretanto, segundo a mesma fonte, o número diário de camiões reduziu significativamente (em dias normais, o Porto recebe entre 1200 a 1300 camiões) devido ao receio dos operadores no contexto de tensão pós-eleitoral em que o país está mergulhado.
O fluxo normal coincide com a trégua dada pelo candidato presidencial, Venâncio Mondlane. Ele não convoca manifestações desde o dia 12 de Dezembro corrente, após uma semana de protestos contra os resultados das eleições de 09 de Outubro passado. No passado dia 16 havia programado anunciar mais uma onda de manifestações, mas prorrogou a trégua até ao dia 23 de Dezembro corrente, com vista a prestar-se solidariedade às vítimas da Tempestade Tropical Severa Chido, que arrasou, entre domingo e segunda-feira desta semana, alguns distritos das províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia.
A trégua visa, igualmente, homenagear as vítimas mortais das manifestações populares, assim como o advogado Elvino Dias e o mandatário do Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique, Paulo Guambe, ambos assassinados na madrugada do dia 19 de Outubro último.
Todavia, a trégua de 11 dias não está a beneficiar a todos os operadores do Corredor de Desenvolvimento de Maputo. O destaque vai para a Trans African Concessions (TRAC), concessionária da Estrada Nacional Número Quatro (EN4), que liga Maputo e África do Sul, porque numa das suas “lives”, Mondlane instruiu os utentes a não pagar as portagens, do dia 15 de Dezembro a 15 de Janeiro de 2025.
Dados da TRAC indicam que, até Julho passado, atravessavam a portagem da Moamba 2685 camiões por dia e 2297 camiões atravessavam a portagem de Maputo. Com base nesses dados, depreende-se que, por dia, só de camiões que não pagam portagens, a TRAC perde seis milhões de Meticais. Para minimizar os prejuízos, há dias que a empresa começa a cobrar, mas acaba abrindo as cancelas por pressão dos automobilistas.
A medida abrange as portagens geridas pela Rede Viária de Moçambique (REVIMO), bem como aquelas instaladas pelo Fundo de Estradas, através do Programa Auto-Sustentado de Manutenção de Estradas (PROASME) em todas as estradas do país.
Face à tensão pós-eleitoral iminente (e com a possibilidade de se agravar após a divulgação dos resultados pelo Conselho Constitucional), o Governo tem mantido vários encontros para encontrar soluções. Num encontro havido no princípio da semana passada com o sector privado, o Executivo prometeu a classe empresarial escolta a camiões de minérios e de mercadorias nos principais corredores de desenvolvimento do país.
Esta semana, os governos da África do Sul e de Moçambique anunciaram o reforço de medidas de segurança para mitigar o impacto das manifestações de contestação eleitoral em Moçambique, devido ao risco de insegurança alimentar e energética. A questão da escolta militar voltou a ser mencionada, como uma das medidas a ser adoptada para a mitigação do impacto das manifestações. (Evaristo Chilingue)