A tensão pós-eleitoral causou enormes prejuízos aos operadores do Corredor de Desenvolvimento de Maputo, desde o porto, importadores e exportadores, a Trans African Concession (TRAC), concessionária da Estrada Nacional Número Quatro (EN4), que liga Maputo e Pretória, até o Estado. Cálculos da “Carta da Semana” concluíram que no mínimo os prejuízos financeiros são de mais de cinco mil milhões de Meticais, valor suficiente para adquirir 539 camiões de carga, custando cada 9.4 milhões de Meticais.
Tudo começou na terça-feira (05) passada, quando durante uma marcha pacífica feita por moradores da fronteira de Ressano Garcia, um agente dos serviços de migração baleou mortalmente um cidadão. Em retaliação, os manifestantes incendiaram e destruíram as residências dos agentes da migração, viaturas (pelo menos nove foram incendiadas) e três escritórios por onde se faz o desembaraço aduaneiro dos camiões que entram em Moçambique, transportando minério. Diversos materiais de trabalho foram destruídos.
No mesmo dia, um dos camiões de grande tonelagem, que transportava uma quantidade não especificada de peixe, foi saqueado e posteriormente incendiado. Até quarta-feira, o referido camião bloqueava a entrada de outros veículos, dificultando a circulação de carros. Várias lojas nas proximidades também foram saqueadas e diversos produtos foram roubados.
Como consequência, na quarta, quinta e esta sexta-feira, nenhum importador ou exportador conseguiu atravessar a fronteira de Maputo para África do Sul ou vice-versa e a fronteira só viria a reabrir no sábado (09). Dos vários afectados, o destaque vai para os importadores de produtos sul-africanos, vulgo Mukheristas, que viram os seus camiões parqueados na zona de Doyana, na África do Sul.
Segundo o Presidente da Associação, Sudecar Novela, pelo menos 30 camiões com produtos destinados aos mercados moçambicanos ficaram retidos na África do Sul, onde por cada dia pagam 2500 Rands pelo parqueamento.
“As manifestações causaram-nos prejuízos. Temos 30 camiões estacionados na África do Sul à espera da reabertura da fronteira. São camiões de produtos perecíveis, como frutas protegidas por lonas e com esta temperatura já se estão a estragar porque os nossos camiões não têm condições frigoríficas”, queixou-se Novela.
Era cerca de meio-dia de sexta-feira, quando interagimos com o Presidente dos Mukheristas que acabava de participar de uma reunião no Ministério da Indústria e Comércio.
Para além dos Mukheristas, os impactos negativos do encerramento da fronteira de Ressano Garcia afectaram também o Porto de Maputo, bem como os agentes de carga nacionais e internacionais que viram as suas actividades paralisadas. Em contacto com o Director Executivo da Sociedade do Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC), Osório Lucas, por conta do clima de tensão, a empresa suspendeu as operações, a partir de quarta-feira.
“Interrompemos a recepção de camiões por valorizar as vidas humanas. Neste momento, estamos a coordenar com as autoridades alfandegárias para ver quando podemos retomar”, disse Lucas, tendo lembrado que o Porto de Maputo recebe entre 1200 a 1300 camiões por dia, idos da África do Sul carregados de minérios, incluindo crómio, ferrocrómio magnetite e carvão mineral. Em média, cada camião carrega 35 toneladas.
Com base nos referidos dados, o Porto de Maputo perdeu em três dias no mínimo 3600 camiões e 120 mil toneladas de diversos minérios. A EN4 é o principal corredor desses camiões e não só. Dados da TRAC indicam que, até Julho passado, atravessavam a portagem da Moamba 2685 camiões por dia e 2297 camiões atravessavam a portagem de Maputo. Com a aproximação da quadra festiva, o número cresceu nos últimos meses, certamente.
O porta-voz da TRAC em Moçambique, Fenias Mazive, apontou danos na estrada, com a queima de pneus, arremesso de pedras, e bloqueios por parte dos manifestantes. Na conversa, Mazive não avançou prejuízos financeiros. Contudo, com base nos referidos dados, “Carta da Semana” calculou que na quinta-feira (07), em que não houve circulação de camiões de minérios, a TRAC perdeu pelo menos 4.8 milhões de Meticais só na portagem da Moamba, em que cada camião paga 1800 Meticais por travessia.
Já na portagem de Maputo, os prejuízos para TRAC naquele dia foram de 1.2 milhão de Meticais, tendo em conta que cada camião paga 550 Meticais por travessia. No global, a empresa perdeu no mínimo seis milhões de Meticais naquele dia.
Informações dadas semana finda, à Agência de Informação de Moçambique (AIM), pelo porta-voz da Autoridade Tributária, Fernando Tinga, indicam que a Fronteira de Ressano Garcia gera, em média, 1,5 mil milhões de meticais diariamente. Assim, o total de prejuízos acumulados durante os últimos três dias de paralisação total das actividades soma cerca de 4,5 mil milhões de Meticais. Somando os prejuízos da TRAC, conclui-se que o prejuízo para os actores do Corredor é de pelo menos 5.1 mil milhões de Meticais, valor suficiente para comprar 539 camiões de carga, de custo mínimo no mercado de 9.4 milhões de Meticais. (Evaristo Chilingue)