O sector empresarial privado mostrou-se esta quarta-feira (01) animado com a perspectiva de retoma da petroquímica francesa TotalEnergies e parceiros em Cabo Delgado para continuar a desenvolver o projecto Mozambique LNG, suspenso em Abril de 2021 por causa do terrorismo naquela província do norte do país.
Apesar de animado, o sector privado, representado pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), diz, porém, que não basta a retoma, pois, mais tarde pretende ver a contribuição do Projecto da TotalEnergies e parceiros na economia nacional.
“A contribuição efectiva ao país, o impacto, as externalidades que forem a sair dessa retoma, isso é o que nos interessa. Se a contribuição for positiva, a nossa impressão também será positiva”, acrescentou o Presidente do Pelouro de Política Fiscal e Comércio Internacional na CTA, Félix Machado.
Após a suspensão do Projecto, várias encomendas foram canceladas e, por consequência, muitas empresas subcontratadas para tal viram-se prejudicadas. Nesse contexto, a TotalEnergies deixou muitas dívidas que, volvidos quase dois anos, a CTA diz estarem ainda a ser pagas.
“É um processo complicado que está ainda a ser resolvido. Muitas empresas investiram no processo, mas depois ficaram quebradas. Mas esse anúncio da retoma traz um oxigénio para o sector privado, pois há possibilidade de pagamento dessas dívidas, facto que permitirá que os fornecedores também reiniciem as suas actividades”, disse Machado. O empresário acrescentou que está prevista uma reunião entre a CTA e TotalEnergies nos próximos dias, apesar de a Confederação não ter recebido ainda uma comunicação oficial.
De acordo com "Africa Intelligence" o CEO (Presidente do Conselho da Administração) da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, chega a Cabo Delgado dentro de dias. Pouyanné deverá visitar o país nos próximos dias para discutir a retoma das obras do mega-projecto de Gás Natural Liquefeito (LNG) na península de Afungi, província de Cabo Delgado. Além de uma escala em Maputo, Pouyanné vai deslocar-se a Palma, no norte da província de Cabo Delgado.
Esta visita ao país demonstra o desejo da TotalEnergies de relançar aquele projecto, impulsionado pela significativa melhoria da segurança na região. Após dois anos de paralisação total, os primeiros contratos relativamente modestos de escavação e construção foram concedidos em Dezembro à empresa sul-africana WBHO.
O chefe da TotalEnergies deve anunciar em Palma os detalhes da próxima retoma dos trabalhos na província de Cabo Delgado, escreve a África Intelligence.
Desde Julho de 2021, a Força de Defesa do Ruanda (RDF) e a Missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM), da qual a África do Sul é o principal contribuinte de tropas, conseguiram repelir várias dezenas de terroristas e repor a ordem e autoridade do Estado em vários distritos afectados pelo terrorismo em Cabo Delgado.
Isso segue-se ao contexto global de problemas de abastecimento de gás após a guerra na Ucrânia, que está pressionando as principais empresas de gás ocidentais a lançar novos trens de liquefação o mais rápido possível.
Retoma da Total também anima Governo
O regresso da TotalEnergies e parceiros do Projecto Mozambique LNG, na Área 1 da Bacia do Rovuma, ainda não foi oficialmente comunicado pela empresa, nem pelo Governo de Moçambique. Entretanto, foi notícia há dias na imprensa internacional e na “Carta”.
Ainda assim é também uma "lufada de ar fresco" para o Executivo, liderado por Filipe Nyusi, que várias vezes, em 2022 passado, criticou a demora no regresso da TotalEnergies e outras empresas que se preparam para explorar gás natural em Cabo Delgado, mesmo com a acalmia que se assiste actualmente, graças aos esforços das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, do Ruanda e da SADC no combate ao terrorismo. “Neste contexto, é nossa expectativa que sejam retomadas as actividades de desenvolvimento pelos concessionários da Área 1”, afirmou o Presidente da República, numa conferência sobre gás realizada na capital do país, em Setembro de 2022.
A TotalEnergies exige, porém, sacrifícios ao país
Conforme “Carta” apurou, a TotalEnergies vai exigir a formação de uma força exclusiva de protecção, composta pelos vários actores militares que actuam no terreno. A TotalEnergies vai também forçar que o Governo aceite incorporar o orçamento dessa força nos custos recuperáveis do investimento no gás de Palma, na Área 1. Com essa exigência, parte da receita do gás servirá para devolver aos investidores por causa dos seus gastos em matéria de segurança. (Evaristo Chilingue)