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domingo, 10 março 2019 14:34

As contas vermelhas do “Moçambola”

A situação financeira da Liga Moçambicana de Futebol (LMF) continua caótica. Com efeito, cada vez mais prejuízos estão sendo acumulados pela entidade gestora do campeonato nacional de futebol para viabilizar a principal prova futebolística nacional (Moçambola).

 

De acordo com o Relatório das Actividades e Contas de 2018, aprovado na última quinta-feira em Maputo durante a XXIV Assembleia-Geral daquele órgão, até 30 de Novembro do ano transacto a LMF apresentava Fundos Próprios negativos no valor de 82.332.350,00 Mts. O valor correspondente ao excesso do passivo corrente sobre o activo (corrente) era 82.696.503,00 Mts. Comparando com o exercício económico anterior (2017), a situação representa um aumento de mais de 10 milhões de Mts, na medida em que os Fundos Próprios eram de 71.615.957 Mts negativos. Em 2016 a rubrica apresentava um valor negativo de 65.343.916,00 Mts.

 

O Relatório em causa, que os clubes declinaram discutir para se concentrarem no modelo da prova, refere que os activos tangíveis da LMF (mobiliário e equipamento administrativo, social, básico, e outros) decresceram de 417.675,00 Mts, em 2017, para 364.153,00 Mts no ano seguinte. Os activos financeiros subiram de 1.487.813,00 Mts, em 2017, para 3.389.889,00 Mts no ano a seguir, como resultado das dívidas que os clubes e algumas instituições têm com a LMF. Daquele montante, 3.083.114,00 Mts correspondem às dívidas dos clubes (referentes ao pagamento de multas e outras obrigações).

 

O valor das dívidas de outras instituições, incluindo a própria Federação Moçambicana de Futebol, é de 306.775,00 Mts. Aliás, a dívida dos clubes subiu de 1.314.813,00 Mts, em 2017, para 3.083.114,00 Mts no ano seguinte. O Desportivo de Nacala é o maior devedor, com uma dívida acumulada de 353.300,00 Mts.

 

Por sua vez, o saldo de caixa até 30 de Novembro de 2018 era de 7500,00 Mts, o mesmo que restou em 2017. Nos bancos comerciais, a LMF tinha um valor de 3.779.531,00 Mts, contra 912.103 Mts em 2017.Em relação às dívidas com os fornecedores, o Relatório aponta para um total acumulado de 78.589.064,00 Mts, contra 70.362.004,00 Mts de 2017. Do total da dívida, 51.881.720,00 Mts devem ser pagos à LAM (Linhas Aéreas de Moçambique), a companhia aérea responsável pelo transporte das caravanas desportivas.

 

Ainda de acordo com o Relatório das Actividades e Contas de 2018, que faz referência às actividades realizadas no ano passado e respectivos gastos financeiros, o passivo financeiro da LMF subiu de 4.095.924,00 Mts em 2017 para 11.153.232 Mts no ano a seguir, representando um aumento de aproximadamente 200%. Na rubrica “Outros Rendimentos e Gastos Operacionais”, onde são descriminadas receitas provenientes das transmissões televisivas e das obrigações financeiras dos clubes, assim como os gastos operacionais, o Relatório diz que a LMF rendeu no ano transacto 4.018.296,00 Mts, e gastou 15.888.063,00 Mts, tendo ficado com um saldo negativo de 11.869.787 Mts. Em 2017 aquela entidade tinha colectado 24.724.144,00 Mts, contra 13.485.873,00 Mts de gastos. Teve um saldo positivo de 11.236.271,00 Mts.

 

No documento em causa, o executivo liderado por Ananias Couane começa por defender que 2018 foi um “ano atípico” para todos os agentes económicos que actuam em Moçambique. Auto-intitulando-se uma das principais vítimas, a LMF destaca a possível interrupção da prova por falta de cabimento orçamental para o pagamento integral da factura da LAM. No entanto, para a prossecução do Moçambola contribuiu a pronta intervenção e patrocínio do Governo.

 

De acordo com o Relatório em questão, a LMF colectou em 2018, através de contratos de patrocínio, 137.306.295 Mts, contra os 107.452.507 Mts angariados em 2017, o que representou um aumento de 30 milhões de Meticais. Do valor colectado, 33.850.000 Mts foram injectados pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural através do seu Fundo de Desenvolvimento Sustentável, entidade que pagou o valor da Taxa de Combustível que era exigido pela LAM como condição primária para a deslocação aérea das equipas.

 

Por sua vez, a LAM desembolsou 50.974.050,00 Mts através de um desconto comercial na contratação de 3.980 passagens aéreas, enquanto a Aeroportos de Moçambique injectou 7.500 mil Mts que foram canalizados para o pagamento das taxas aeroportuárias e de embarque. Assim, dos 100.515.589,00 Mts gastos pelo transporte aéreo em 2018, só 49.980.600,00 Mts foram desembolsados pela LMF. Das transmissões televisivas, a LMF recebeu da ZAP 15.485.000,00 Mts, um valor abaixo do colectado no ano 2017, quando angariou 20 milhões de Meticais.

 

As discussões sobre a saúde financeira da LMF não são novas, mas anualmente o assunto tem sido colocado em segundo plano em virtude de a Direcção da LMF e os clubes priorizarem questões políticas e competitivas da prova, sem olhar para as condições em que a mesma decorre.

 

Há dois anos que a Direcção da LMF falava da necessidade de ajustar o campeonato nacional de futebol à realidade financeira da entidade, mas tanto por aquele órgão social como pelos clubes o assunto nunca foi levado seriamente. (Abílio Maolela)

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