Transportadores interprovinciais exigem um encontro com o Governo para discutir a possibilidade de aumento da tarifa de transporte, em consequência do agravamento dos preços dos combustíveis. A exigência foi manifestada à “Carta”, durante a visita que a nossa reportagem efectuou à terminal interprovincial da Junta, para inteirar-se do cenário que se vive após a entrada em vigor dos novos preços de combustível.
Em conversa com Pedro João, transportador da rota Maputo/Maxixe/Homoine, este disse: “não consegui sequer a metade dos passageiros e, dos poucos que se encontram aqui dentro do autocarro, a maior parte sequer aceitou pagar pelo valor real da viagem, quase todos pediram desconto e o valor com que saímos aqui só dá para pagar combustível, portagens e a situação se agrava mais porque muitos patrões nem entendem o nosso trabalho”. No local constatamos que, 30 minutos antes de partir para Maxixe, ainda não tinha conseguido sequer metade dos passageiros e a nossa fonte explicou que, nos últimos dias, estão a trabalhar mal.
“Estamos a passar mal, dentro de 30 minutos tenho de sair daqui do parque para dar espaço a um outro transportador tendo em conta que cada um de nós tem o seu tempo para estar aqui”.
Entretanto, Pedro João alertou que muitos transportadores correm o risco de parquear os carros porque a tendência mostra que o combustível ainda vai subir.
“Daqui para Maxixe cobramos 850 mts, no entanto, há vários passageiros que chegam a este destino pagando apenas 500 mts. Outros pagam 650 porque sempre pedem desconto e nós não temos alternativa porque não queremos andar com os assentos vazios, visto que pelo caminho não conseguimos encontrar passageiros por conta dos transportadores não licenciados. A nossa única solução é a ajuda do governo”.
De seguida, interagimos com Osvaldo António, cobrador do autocarro da rota Maputo/Massinga que explicou que, nos últimos dias, eles operam com carros vazios e o cenário dos descontos repete-se.
“Nós cobramos 950 Meticais pela viagem, mas dificilmente fazemos a receita estipulada pelo patrão porque carregamos muitos passageiros que nem chegam a Massinga. Optamos em levar até pessoas que ficam em Xai-xai e mais adiante tudo para conseguirmos fazer pelo menos o valor do combustível”, referiu.
De seguida, escalamos o autocarro da rota Maputo/Chimoio onde, em conversa com o motorista José Santos, este explicou que o fluxo de passageiros para esta rota tem sido muito baixo, havendo dias em que outros motoristas nem saem para poupar o combustível.
“Nesta terça-feira, o carro que tinha de ir a Chimoio não saiu porque havia poucos passageiros e como alternativa subiram o carro que ia à Beira. Hoje, quarta-feira, parece que o cenário vai repetir-se porque já são 9:00 horas, mas até agora não tenho sequer um passageiro, por isso estou aqui dentro do autocarro a descansar. Este carro consome muito combustível para ir a Chimoio e o que adianta sair com poucas pessoas e não conseguir sequer o valor para abastecer”.
Interpelado pela nossa reportagem, o Adjunto Chefe do Terminal da Junta e membro da Associação dos Transportadores Interprovinciais, Gil Simone Zunguze, disse: “precisamos de sentar com o governo e a Federação dos Transportadores para decidirmos em conjunto sobre o agravamento do preço do transporte. Se dependesse de nós, até podemos aumentar apenas 100 meticais, mas vimos que esse valor não nos vai servir, por esta razão precisamos de dialogar com o governo para tentarmos minimizar os custos operacionais que temos, visto que mesmo os actuais preços quase que ninguém paga, então, este assunto precisa de ser bem debatido”, disse Gil Zunguze.
“Nós como transportadores estamos a sentir muito sufoco por conta do agravamento do preço do combustível, aquisição de acessórios e o facto de muitos utentes não pagar pelo preço estipulado para o destino. Os clientes sempre pedem desconto e nós somos obrigados a aceitar para não viajarmos com os carros vazios. Temos dias em que os autocarros de 29 lugares saem daqui com apenas 10 ou 15 passageiros e com as despesas de combustível e as portagens recém-inauguradas, tudo isso são custos e no final não sobra quase nada para o patrão, estamos a passar mal”. (Marta Afonso)