“Esta noite abriu-se uma porta e eu não podia estar mais grata por ser quem passou por ela. Que todas as meninas que presenciaram este momento acreditem para sempre no poder dos sonhos e vejam os seus rostos reflectidos no meu.”, Zozibini Tunzi
Esta semana temos mais uma razão para nos sentirmos abençoados por fazer parte desta Era. Pela História passar por nós e por podermos gritar ao Mundo que a estamos a viver. Este é o poder da comunicação e, também, das redes sociais. Hoje “meio mundo” se orgulhou da Vitória de Zozibini Tunzi! A sul-africana que foi eleita Miss Universo 2019.
Numa altura em que se fala e se exige representatividade em género, raça e número, principalmente no que toca a nós, mulheres, é sim um dia para celebrar. Aos 26 anos Zozibini é quarta mulher negra a ser eleita Miss Universo, em 68 edições do concurso. 68, tenho de repetir. Antes dela Janelle Commissiong, de Trindade e Tobago esperou 25 anos para ser eleita a mais bonita do Universo, em 1977. Seguiu-lhe a norte-americana Chelsi Smith, em 1995, e a angolana Leila Lopes em 2011.
Se fizermos bem as contas, há uma diferença de mais de 20 anos nestas coroações. Se analisarmos um bocadinho mais a fundo talvez consigamos perceber que há um atraso na mentalidade de quem avalia ou decide quais são os standards de beleza do Universo.
O que começou por ser apenas um concurso criado na Califórnia, em 1952, pela empresa de vestuário Pacific Mills, passou a ser uma marca com uma licença que se renova anualmente. Neste evento estão envolvidos vários players do mercado mundial e muito dinheiro, também.
Não é de estranhar a invisibilidade da mulher negra num ecossistema em que quem dita são as marcas.
Mesmo assim, várias gerações foram passando e se esquecendo se havia mulheres negras a serem premiadas. Ser invisível é isso. É não existir. E a beleza, para além de outros fatores da sociedade é um assunto do foro muito íntimo. Que temos receio em abordar.
Foi preciso as redes sociais serem mais um player, definido por nós – pela positiva – para que questões invisíveis começassem a ser visíveis. E acredito que a discussão e exposição inteligente tem sempre uma força maior.
Foi o que senti quando vi mais de dez vezes o discurso de Zozibini.
“Eu cresci num mundo onde uma mulher como eu, com o meu tipo de pele e cabelo, nunca foi considerada bonita. E acho que é hora de isso terminar hoje", disse a concorrente, na sua última mensagem antes do veredito final.
E afirmou-o bem. De facto, quando olho para trás e penso nos primeiros anos de adolescência, em Lisboa, lembro-me que sempre quis ter tranças compridas para os meus cabelos abanarem como os das minhas amigas. Fizeram-me a vontade. Claro que na altura nunca pensei que um dia ia escrever uma crónica a falar sobre isto e muito menos com o cabelo curto, semelhante ao de Zozi, é assim que vai ser o nickname dela para mim. E a ouvir Hugh Masekela. Estou mesmo feliz.
Zozi, para quem já ultrapassou as inseguranças impostas pelo mundo Ocidental, como tu, eu e outras mulheres de que tenho muito orgulho, e marcou um statement num concurso em que raras foram as mulheres negras que tiveram coragem de assumir o seu cabelo, a sua visão de combate ao racismo estrutural, já tinhas ganho pela tua frontalidade e segurança. I’m so proud of you girl.
Aos 26 anos és o futuro de mulher negra que quero ver, mais e mais representada. Ter ao meu lado. É em ti que me espelho, mesmo sabendo que faço a minha parte, precisamos de mais miúdas como tu. De mulheres que de facto se unem a outras mulheres por uma causa, a nossa. E não dividem para reinar. Com educação, assertividade e uma postura coerente com o presente. Nada de vitimização ou acerto de contas com o passado vindo de alguém que tinha um ano quando apartheid terminou.
Os teus pais só podem ser pessoas muito especiais por, apesar do que passaram, nunca terem passado aquilo, que hoje em dia, seriam inseguranças para ti.
"Liderança. É algo que falta a mulheres e mulheres jovens há muito tempo, não porque elas não a desejavam, mas por causa de como a sociedade rotulou como as mulheres deveriam ser". Há oito anos era apenas um concurso de beleza que elegia uma mulher negra. Hoje foi um concurso de beleza que deu voz a uma líder.
Khanimambo.
*Parabéns em Xhosa
Persistir no escrutínio da acção do CIP, nas suas “falhas”, no seu procedimento, não passa duma técnica para desactivá-lo e proteger os verdadeiros inimigos dos 28 milhões de habitantes deste país. Devemos fortalecer as nossas instituições. Isso é mais do que óbvio, mas tal não invalida a perspectiva do CIP e nem do grosso dos moçambicanos que julgam que a justiça só poderá ser feita doutra forma. Só que a questão sequer é essa quando se analisa o papel do CIP, mas sim a manipulação turva de sempre. Convém falar do CIP e de Borges Nhamirre para desviar a atenção dos verdadeiros malvados desta história macabra, cujas acções fizeram disparar o dólar para valores insustentáveis. Antes disto andávamos na casa dos 30 e e chegámos aos 83 meticais por dólar. Com essa dívida ficamos duas vezes mais pobres e assistimos, nesse hiato, duas guerras na zona centro e agora estamos com mais uma no Norte do país. Nem segurança e nem dinheiro obtivemos dessa empreitada. Portanto, a questão não é, de forma alguma, a posição do CIP, mas sim que enquanto se fala de Borges Nhamirre e do Elísio ninguém fala dos responsáveis. Esse é o verdadeiro e único perigo. Esquecer-mo-nos do tempo e do estrago que a dívida causou. Estrago esse que perdura até aos dias de hoje e que vai encontrar prolongamento na nossa inclinação para discutir perspectivas, agendas e quejandos. Dia pós dia, a realidade sublinha o acerto desse silogismo implacável.
Nesta situação, falar do Borges, persistindo no asfixiante escrutínio do papel do CIP, dos “problemas” de língua, nada mais é do que, repito, uma técnica para desacreditar a instituição, para proteger não somente os verdadeiros inimigos da sua causa, mas sim de todos lesados pelo golpe. Enquanto todos focos apontam para Borges e o CIP, os exploradores da nossa desgraça colectiva, os larápios do erário e os vampiros do nosso sangue continuarão vencendo a guerra da exploração do nosso já tão tênue pescoço.
Quem foi roubado? Fomos nós. Quem está a pagar a dívida? Somos nós. A quem está a doer? A nós. De quem são os gatunos? São nossos por direito. Quem estima os nossos gatunos melhor do que nós? Ninguém. Então...!!!
Então, o que falta para nos entregarem os nossos gatunos!? O que custa trazerem os gajos aqui na Munhava, no Brandão, em Namicopo, no Kongolote, no Torrone Velho, na Soalpo, em Canongola, em Xiquelene, em Nicandavala, no Inguri, em Marmanelo, em Paquitequete, e etecetera, e etecetera? O que custa entregarem ao povo o que é do povo?
O povo é, neste momento, a única entidade que está em melhores condições de tratar desses gajos com maior honra e dignidade que lhes é merecida. Nem Brooklyn, nem Kempton Park, nem Machava, nem Bê-Ó, nem nada. Connosco esses vão jurar nunca mais roubar.
Aqui na zona não tem nem meritíssimos juízes, nem senhores jurados, nem senhores advogados. Nem ministério público. Nem escrivão. Aqui não se escreve nada. Aqui é "feici-tu-feici". Aqui tem gente que sabe tratar de gatunos. Aqui tem gente que sabe dar chapadas. Cotoveladas. Rasteiras. Chutos. Cabeçadas.
Aqui na zona tem gente que sabe interrogar. Só com uma "mpama" os gajos já estarão a falar o que roubaram desde os cinco anos. Segunda "mpama", já estarão a trazer a lista dos comparsas. Terceira, já estarão a trazer os bens, incluindo os Mercedes, Mazeratis, Bi-Emes, e até o taco que iam abrir "com ele" o famigerado banco.
Aqui na banda tem gajos que sabem dar bofetadas em Três-Dê. Tem gajos que te dão porrada hoje e a dor vai-se repetindo anualmente na mesma data e hora. Chama-se porrada-aniversariante. O nosso tratamento fica para vida toda. É inesquecível.
Não se conversa com gatuno no ar condicionado: o gatuno pode ficar constipado e não conseguir falar. Não se trata gatuno com água mineral: água não faz bem à memória, é normal que não se lembre de muita coisa. Aqui na banda o único mimo que se dá a um gatuno (já vai com muita sorte) é perguntar se o gajo quer cagar antes ou durante a sessão.
Dêem-nos os nossos gatunos. Não brinquem com eles assim. Façam tipo presidência aberta: província por província, distrito por distrito, cidade por cidade. Experimentem, verão os resultados. O melhor tribunal desses aí é aqui onde vive o povo. Pelo que, não estamos a entender os porquês de não nos entregarem esses mafiosos para nós jobarmos com eles. Estamos preparados. Estamos a "djimar" há cinco anos. As nossas porradas já estão quase fora do mandato. Até campeonato de flexões já estamos a fazer aqui no "feici". Será que não estão a ver!?
- Co'licença!
Apaixonei-me por ela, logo no primeiro dia que a vi passar em frente a minha casa. Passam dois anos, e de lá para cá a nossa relação tem sido intensa. Cada vez que nos encontramos, o amor que nos une, aumenta. Recrudesce a minha responsabilidade, no sentido de que não posso cometer a mínima imprudência, sob o risco de deitar tudo a perder. O azimute que me guia altera de forma espontânea quando a vejo, na rua ou no mercado, onde quer que seja. Ela já me arrebatou por inteiro, e sinto-me cada vez mais empurrado para a condição de ter que assumir a paternidade de uma criança que nem sei de onde vem. Na verdade esta menina tem idade de ser minha neta.
O que mete medo nela, é a sua maturidade precoce. Ela é determinada na luta pela sobrevivência, que desenvolve todos os dias sob ambrela da verdadeira avó. Sabe que é pobre, absolutamente pobre, tem profundas necessidades. Os lábios secos denunciam um pequeno ser que passa horas e horas sem comer. Os olhos também, chamam-nos a atenção para alguém que tem quase nada para se alimentar. Mas tudo isso não a demove, não a resigna. Parece acreditar que as coisas mais sólidas começam daqui, de baixo, onde muitas vezes temos que consentir sacrifícios.
Nunca me pediu nada, apesar de eu perceber que Sumbi não tem claramente nada. Se não a chamo para entrar no meu quintal, ela passa. Olha para as abundantes mangas dependuradas na copa das duas árvores fartas, que se erguem no meu espaço, e continua o seu caminho. Sem olhar para trás. E se não calha eu estar por ali, olhando para o caminho que usa sempre, quase todos os dias, então a minha neta vai engolir saliva para dentro de um estômago que nunca esteve saciado. Porém, se a vejo, por entre as frestas das plantas que servem de vedação, saio a correr e chamo-a.... Sumbi! Ela sustem a marcha, como uma tigreza que apesar de não ter encontrado a presa, mantem a confiança. Rodopia, e volta.
Enquanto a miúda entra, eu já estou a arrancar a fruta, sem medir a quantidade. E é ela que vai dizer assim, chega, Bitonga Blu!
Há uma consonância entre as palavras da Sumbi, e aquilo que lhe vai no coração, e na mente. Se assim não fosse, eu já teria entendido. Aliás, ontem mesmo, no mercado da Mafurreira, nos arredores da cidade de Inhambane onde moramos, voltou a revelar-me a sua personalidade. O seu forte carácter. Ou seja, de entre muitas vendedeiras de marisco, a minha netinha estava lá, vendendo também, lutando ombro com ombro com as demais, na disputa pelos potenciais clientes, mas sem perder a postura. Ainda não a tinha visto, até que no meio daquela azáfama, ouvi uma voz que conheço muito bem, chamando-me como um leve trovão no seio das montanhas de pedra: Bitonga Blu! Olhei para ela, e senti toda a minha alma fluindo.
Ali, todas aquelas “magweva” (revendedoras) conhecem-me. Conquistam-me para a freguesia, freguês para aqui, freguês para ali. Mas nesta circunstância, quem ganhou foi Sumbi, a minha neta. Cheguei perto dela e perguntei, quanto custa todo este camarão? E ela respondeu-me, 150.
A nossa amizade vale mais que todo o dinheiro do planeta, para além de que eu queria que a miúda vendesse tudo, de uma vez, e voltasse para casa como um passarinho vitorioso, entregue ao vento, em liberdade. E foi o que fiz, comprei tudo, que nem é tanto assim, para agraciar os meus sentimentos, e da Sumbi. É um camarão miúdo, apanhado na pequena rede que ela arrasta nas noites, na companhia da avó, sem poder dormir como outras crianças.
Dei-lhe uma nota de duzentos meticais, e fiquei sem saber se recebia o troco, ou deixava com ela. De resto, esta é uma criatura delicada, e eu tenho medo de magoá-la.
"É fácil ser sábio depois do facto" - Sherlock Holms.
Finalmente, o "Doutor" conseguiu entrar no estádio. No jogo da final. Exactamente no momento em que o último jogador ia marcar o último penalti. Mas se gaba de ter visto os noventa minutos e o prolongamento do jogo. Dá-se ao luxo de convocar a imprensa para fazer o resumo do jogo. Até já quer explicar por que é que o jogo chegou ao empate até ao minuto noventa e por que é que ninguém marcou no prolongamento.
Lembrar que o "Doutor" não viu o campeonato todo; viu apenas o último jogador a marcar o último golo de penalti, no último jogo; mas, dá-se ao desplante de afirmar que o relato que ele ouvia todos os dias pela rádio quando estava em casa (antes de conseguir bilhete no "bleki-fraidei" do Estrela) estava errado. Tem a intrepidez de dizer que todos os locutores que estavam a relatar os jogos durante todo o campeonato, desde o jogo inaugural, são mentirosos. Gaba-se de ser ele o único ser respirante lúcido capaz de fazer o resumo mais original de todo o campeonato desde o primeiro minuto. Definitivamente, a humildade escasseia.
Agora que o julgamento acabou, o "Doutor" virou sábio. Já sabe o que se falou mesmo quando não estava. Diz que tem tudo gravado na sua barba... digo, cabeça. E nós agora temos de esperar que ele esvazie a sua cabeça para entendermos todo o filme deste famigerado endividamento oculto.
Esquece-se o "Doutor" que ele é jurista, e os outros, jornalistas; que o "Doutor" foi "aprender", e os outros, trabalhar. Portanto, têm metodologias, abordagens, expectativas e interesses totalmente diferentes. O "Doutor" foi aprimorar conceitos técnicos de Direito, enquanto que os outros foram descodificar os conceitos e relatar factos no "dialecto" do povo. Ignora o facto de o "Doutor" ter estado ali por simples curiosidade, enquanto que os outros, pelo compromisso tipificado, estrutural e rotineiro da sua profissão - informar. E, não menos importante, os outros estão a cobrir as dívidas ocultas desde os tempos de Kempton Park, quando "Chopstick" ainda era Chang, antes da divulgação da tabela de Teo.
Mas enfim, é caso para dizer que a corrida já começou. Nos próximos dias iremos assistir à uma olimpíada renhida de lamber botas jamais vista. Iremos assistir a truques mais inovadores quanto arrojados de puxar saco. Haverá "acólitos" que em vez de lamberem vão engolir as botas para, em seguida, vomitarem já polidas. Gajos que vão investir em novas tecnologias de implantar graxa e escova na laringe.
Se se parecesse com intelectual, como muitos de nós pensávamos, o Elísio iria apresentar a sua versão dos factos sem atacar ninguém. Que fizesse o seu resumo sem mencionar problemas linguísticos nem ausências dos demais. Era escusado cobrar pelos esclarecimentos ou pela tradução que forneceu, de livre e espontânea vontade, a quem quer que seja.
Parecia estar a erguer a sua carreira honestamente. Parecia humildade com a ciência. Mas nada. Nesta fotografia a imagem do Elísio está tremida. Literalmente, o Elísio apresenta-se como o último arrumador de canoas. Está a tentar organizar canoas que já foram organizadas, na doca de areia, pelos respectivos donos para ver se apanha restos da ceia dos pescadores. Uma cabeça de camarão aqui, uma barbatana de madjembe acolá. Vale tudo.
Na verdade, o objectivo desse arrumador voluntário de canoas é ser reconhecido como o gajo que organiza as coisas na doca para amanhã ter a legitimidade de apanhar restos. Mas todos sabem que o gajo passa a vida a beber. Não tem tempo para pescar. Chega no fim de tudo e quer dar palestra sobre arrumação e higiene. É um preguiçoso.
De resto, o "Doutor" está a passar por um processo bastante sofrido e desconfortante: a transferência da massa encefálica do crânio para o intestino grosso. Muitas vezes neste deslocamento anatómico perde-se a vergonha. É compreensível. Mas, seja como for, talvez a melhor parte seria explicar em que posição "apanhou" esse bilhete.
- Co'licença!