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quinta-feira, 04 julho 2019 14:45

Literatura / Escritor (a) do Mês

 “Se me quiseres conhecer: Noémia de Sousa por Calane da Silva”. A sessão será dinamizada pelo reconhecido poeta, escritor e jornalista Calane da Silva, na Biblioteca do Camões - Centro Cultural Português. Durante este encontro, Calane da Silva propõe uma apresentação do livro que se encontra a preparar sobre a escritora Noémia de Sousa, a (re) leitura de algumas obras da autora e uma troca de impressões com o público presente.

 

O Camões – Centro Cultural Português em Maputo promove mensalmente no espaço da Biblioteca, a iniciativa Escritor do Mês, que visa promover a leitura, sobretudo junto dos mais jovens, e contribuir para um melhor conhecimento e divulgação de escritores e obras em língua portuguesa. A obra e a biografia do autor escolhido são revisitadas e analisadas. Todos os meses tem sido escolhido um escritor consagrado e, em parceria com instituições de ensino superior, associações e grupos de teatro, é realizada uma selecção de textos do autor e apresentada publicamente uma sessão que permite também explorar a possibilidade de dizer o texto literário. Escrita e oralidade estão, assim, também em foco nestas sessões.

 

Notas Biográficas: Noémia de Sousa nasceu em 1926 na Catembe e faleceu em Cascais (Portugal) em 2002. O pai de Noémia era originário de uma família luso-afro-goesa da Ilha de Moçambique e a mãe era natural de Bela Vista, filha de um chefe ronga, Belenguana. É autora de uma densa obra poética que representa a resistência da mulher africana e a luta do povo pela sua liberdade. O talento para escrita começou a ser praticado fazendo jornais de parede com os irmãos e, muito cedo, Noémia foi convidada a colaborar para o jornal da Mocidade Portuguesa.

 

 Noémia de Sousa sempre privilegiou a publicação dos seus poemas na imprensa, por achar que isso teria mais impacto nos jovens. Só muito tarde é que cedeu ao convite de publicar o seu único livro, Sangue Negro (2001), que reúne 46 poemas, escritos entre 1948 e 1951. Esse foi um período muito intenso no qual Noémia conviveu por perto com outras figuras tutelares das artes e letras de Moçambique: Ruy Guerra, Ricardo Rangel, João Mendes, José Craveirinha, Virgílio de Lemos, entre muitas outras. Foi assim que os textos apareceram na imprensa moçambicana (O Brado Africano, Itinerário, Msaho), angolana (Mensagem) e, mais tarde, portuguesa (Notícia de Bloqueio, Moçambique 58, Vértice). Após ter criado o movimento Negritude com José Craveirinha, em 1951 Noémia fugiu para Portugal para escapar à PIDE. Em Lisboa, cruzou-se com “geração da utopia”, que procurava promover a independência dos países africanos.

 

Noémia trabalhou lado a lado com os nacionalistas africanos da atualidade: Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara, Agostinho Neto, Francisco José Tenreiro. Tendo sido perseguidos em Lisboa, muitos desses jovens fugiram para França.

 

Noémia ficou a viver em Paris, trabalhando na Embaixada de Marrocos até 1973, altura em que voltou para Portugal para trabalhar na agência Reuters. “Enquanto voz da Negritude, a voz de Noémia não é uma exaltação narcisista gratuita do ser negro, mas é do ser negro enquanto objeto da sujeição económica, cultural ou racial” (Francisco Noa). É uma poesia que “acaba por integrar elementos ideológicos que lhe permitiram funcionar simultaneamente como Manifesto estético e Manifesto político” (Fátima Mendonça). Pela sua influência nas gerações de poetas que se seguiram, Noémia de Sousa é considerada como a “Mãe dos poetas moçambicanos”.

 

(08 de Julho, às 18Hrs no Centro Cultural Português)

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