O Mercado “Tseko”, localizado em Marracuene, concretamente na avenida Dom Alexandre, próximo ao terminal de Zintava e a poucos quilómetros da FACIM, na província de Maputo, foi erguido numa quinta cujo proprietário é desconhecido. A quinta foi usurpada pela população no âmbito da invasão dos terrenos ociosos.
O bairro não dispunha de um mercado e, para comprar qualquer produto, os residentes dependiam do terminal do Albazine, que fica a uma distância relativamente longa deste ponto. Na sequência da invasão de terrenos que não estavam a ser usados pelos proprietários, os residentes deste bairro decidiram tomar a quinta e aproveitar o espaço para erguer um mercado para o benefício de todos.
Tudo começou no fim do mês de Outubro, quando ouviram sobre a invasão de terrenos abandonados pelos proprietários ou daqueles cujos donos não prestavam os devidos cuidados. Os residentes do bairro Habel Jafar – Zintava, nas proximidades da paragem “Tseko”, lembraram-se dessa quinta, cujo proprietário nunca chegaram a conhecer.
Segundo os moradores, era um espaço grande e com uma mata assustadora que albergava todo o tipo de marginais. Inclusive, há alguns anos, foram encontrados ossos e chegou-se a desconfiar que se tratava de ossos humanos.
Os moradores explicam que, nessa paragem (Tseko), no bairro Habel Jafar, próxima ao terminal de Zintava, já não desciam devido aos constantes assaltos, uma vez que os malfeitores se escondiam na mata da quinta e saíam sempre que viam alguém passar. Durante a noite, as pessoas que por ali passavam tinham de correr, com medo dos marginais que consumiam drogas e violavam mulheres e depois se escondiam naquele local.
Mesmo quando as pessoas andavam em grupo, ninguém conseguia encarar aquela paragem e a situação piorou devido à falta de iluminação no local.
“Diante disso, decidimos invadir o espaço. Fizemos a limpeza e decidimos que ali seria o nosso mercado, uma infra-estrutura que nunca tivemos no bairro. Até mesmo para comprar pequenas coisas, como legumes, tínhamos de ir até Albazine, que fica relativamente distante”, disse João Nhamussua (nome fictício), um dos vendedores do mercado que conversou com a “Carta”.
“Decidimos ainda que seríamos nós mesmos, os moradores, a vender neste mercado. No dia da distribuição dos espaços para erguer a mercearia ou barraca de cada um, cada morador foi identificar o local que queria e distribuímo-nos as áreas, com a condição de construir uma barraca. O mercado está a crescer e quase todos os espaços já foram ocupados. Está em construção uma secretaria e temos uma estrutura formada que passará a zelar pelo mercado”, frisou.
Por outro lado, Alice Macomé, vendedeira de frutas, conta que depois de os moradores construírem as suas lojas também conseguiram colocar iluminação no local e hoje até se vende “espetadas” durante a noite.
“Estamos muito felizes com o nosso mercado, baptizado com o nome da nossa paragem, ‘Tseko’. Este é o nome escolhido por nós, mas também chamamos de mercado ‘Xitsungo’. Hoje, os nossos filhos que estudam em Albazine à noite já conseguem descer nessa paragem porque há iluminação, até porque, na hora em que voltam da escola, ainda encontram pessoas a vender, o que tornou o local menos assustador. As nossas mães e os nossos irmãos, que voltam tarde do serviço, também conseguem descer e comprar tomate, legumes, massa, óleo, peixe e outros produtos neste local. Há várias mercearias de raiz sendo erguidas aqui, algumas para serem arrendadas para os comerciantes estrangeiros. Hoje, a paragem e o mercado ‘Tseko’ são a preferência dos moradores de Habel Jafar”, contou Alice.
“Agora temos todo o tipo de negócio por aqui. Há aquelas senhoras que vêm vender legumes nas primeiras horas e outras que saem para vender peixe frito e “espetadas” à noite. O sofrimento dos moradores acabou com a construção deste mercado. A vitória é nossa, o mercado ficou e já não há como voltar atrás, porque toda a quinta foi ocupada e já erguemos empreendimentos de raiz. Não estamos a vender espaço para ninguém. Parcelamos e cada um ocupou o espaço livre para montar a sua banca”, destacou Firmino Jacinto Bilal, um agente de moeda electrónica naquele mercado.
Questionado sobre a eventual aparição do legítimo proprietário do espaço, Zeca Nhassengo respondeu: “Quando decidimos invadir este espaço, pensávamos que o proprietário ia aparecer, porque várias vezes solicitamos a sua presença para que pudesse limpar e cuidar do terreno, que estava a abrigar marginais e até mesmo cobras. Mas isso nunca aconteceu. Simplesmente apareceu o filho do guarda que era responsável por zelar pelo espaço e nos confirmou que o pai já faleceu há muito tempo. Ouvimos também que o espaço pertencia a um português que nunca chegamos a conhecer. Inclusive, as autoridades solicitaram informações sobre o dono, mas nada. E ‘Xitsungo venceu’.”
Vale destacar que, neste mercado, os moradores estão a erguer grandes empreendimentos. Quando chegamos, o barulho do cimento e da pá não paravam de ecoar. Encontramos vários pedreiros que conseguiram uma oportunidade de ganhar um dinheiro extra com a construção das barracas.
Tentamos conversar com os responsáveis do mercado, mas fomos informados que estavam numa reunião. Acabamos não conseguindo falar com eles, pois o encontro durou várias horas.