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Actualizado de Segunda a Sexta

11 de Março, 2025

Não há adultos neste país?

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A pergunta do título, até com uma outra palavra no final, foi feita por um mais velho que a pequenada chamava de ῎Mister῎ nos anos oitenta. Nessa altura ele organizava os torneios infantis de futebol do bairro onde eu vivia cujo campo hoje a imobiliária tomou conta.

O ῎Míster῎, depois de mais de três décadas fora da terra mãe, regressou para uns dias de férias. Um dos sítios visitados foi o bairro em que viveu. Aqui pergunta por nomes de adultos da altura e nada. Pergunta pelo nome de jogadores que orientara e nada. No final, já desesperado, descreve a composição de uma família de um dos seus jogadores. Assim teve o meu contacto.

Um encontro num Café. Na conversa, depois de passada em revista a sua trajetória além-fronteiras, o ῎Míster῎ confessa de que na altura, anos 80, fora o papel de engajar os miúdos no desporto – e ele era um professor formado de educação física – era também um agente de educação cívica.

Nesta esteira, de agente de educação cívica, o ῎Míster῎ lembrou de que todos os adultos na altura desempenhavam esta função na via pública. Recordou das vezes em que teve que ouvir de transeuntes que se queixavam a ele de algum mau comportamento dos seus pupilos, muitas vezes por briga entre eles ou por estes deitarem algo no chão ou de urinarem nas árvores.

Durante a conversa, e da esplanada do Café, em pleno centro da cidade capital, assistíamos a um festival de atropelos grosseiros da postura urbana. O que se presenciava não tinha nada a ver com a cidade que o ῎Míster῎ deixara quando da sua partida ao exterior.

Aliás, o que se assistia ao vivo e a cores, já não era novidade para o ῎Míster῎ que num dos dias da sua estadia, conta ele, tentara circular de automóvel e presenciara episódios grosseiros de atropelo das regras elementares de trânsito e da falta de urbanidade ao volante.

A conversa ia longa e já não era a dois. As outras mesas do Café se juntaram à nossa. Cada um narrando episódios dos dias sem lei que correm. No final, e em jeito de um apelo emocional à ordem, o ῎Míster῎, bem alto e forte, pergunta: ῎Não há adultos neste país?῎.

 

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