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Sociedade

segunda-feira, 11 novembro 2019 04:53

Maputo “envelhece” com seus problemas

A Cidade de Maputo, capital da República de Moçambique, celebrou, este domingo, 132 anos após a sua elevação à categoria de cidade, uma decisão tomada a 10 de Novembro de 1887, pelo então governo português.

 

Actividades desportivas e recreativas marcaram as festividades do dia do maior centro urbano, financeiro e mercantil do país, cuja sua “idade mais avançada” transporta consigo “velhos problemas”, desde a falta de transporte até ao crescimento desordenado da cidade, passando pela má gestão dos resíduos sólidos, falta de manutenção das vias de comunicação e a contínua “legalização” do comércio informal.

 

Num dia de festa, “Carta” saiu à rua para ouvir alguns munícipes em relação ao dia-a-dia da sua cidade e todos foram unânimes em afirmar que a mesma está a desenvolver, porém, apontando a falta de transporte como o desafio ainda actual no mais importante centro urbano do país.

 

Pedro Júlio é um dos residentes da também chamada cidade das Acácias e aponta a gestão dos resíduos sólidos como uma das batalhas ganhas, visto que, há alguns anos, “era difícil circular comendo alguma coisa na rua por conta do cheiro nauseabundo que se fazia sentir”.

 

Quem também vê melhorias na gestão de resíduos sólidos e águas negras é Anita Sitoe, que aponta as microempresas, contratadas para garantir a limpeza dos bairros periféricos, como sendo responsáveis pela “beleza” dos bairros suburbanos. Entretanto, aponta a falta de transporte como o maior desafio.

 

Mesmo desafio é apontado por Samuel Banze, que defende o aumento do número de autocarros por ainda registar-se problemas neste capítulo. Banze mostrou-se ainda preocupado com o comércio informal, que continua a crescer nas principais avenidas da capital do país, sob olhar impávido das autoridades municipais. A fonte entende ainda que o problema poder estar associado à falta de condições nos mercados, pelo que recomenda a sua reabilitação.

 

Comiche aponta a limpeza como maior desafio

 

Entretanto, enquanto os nossos entrevistados apontam a gestão dos resíduos sólidos como uma das “batalhas” ganhas, o Presidente do Conselho Autárquico da Cidade de Maputo aponta exactamente a “limpeza” como o maior desafio da urbe. Eneas Comiche diz ainda haver enormes desafios para tornar a cidade mais limpa.

 

“O problema não é limpar, mas sim é como produzimos o lixo e sabermos reutilizar o lixo. Temos de repensar sobre como fazer melhor gestão dos resíduos sólidos com envolvimento de todos, através da educação cívica nas escolas”, explica.

 

Falando, este domingo, na Praça dos Heróis Moçambicanos, após a deposição da coroa de flores naquele local, Comiche disse existir, na capital do país, “muito transporte”, porém, “há necessidade de se criar melhores condições de mobilidade, de modo que haja faixas dedicadas aos transportes de passageiros e também haja cumprimento de horários e deve haver melhorias nas estradas a nível dos bairros para garantir melhor mobilidade”.

 

“Estamos a prever a construção de um metro de superfície e esperamos que nos orgulhemos da cidade que temos, visto que ela se tornou mais acolhedora, mais habitável e para que aqueles que nos visitam continuem a encontrar motivos para elogiar”, disse o Edil, reiterando o sonho do seu antecessor, David Simango. (Marta Afonso)

segunda-feira, 11 novembro 2019 02:15

Descobertos 15 engenhos explosivos em Tete

Quinze engenhos explosivos foram descobertos no bairro Samora Machel, na cidade de Tete, província de Tete. O facto ocorreu na semana finda, fruto de denúncias da população residente naquela zona, o que levou a Polícia da República de Moçambique (PRM), naquela província do centro do país, a deslocar uma equipa específica para aquele local.

 

Segundo a PRM, os engenhos foram encontrados na mesma região, onde a 19 de Setembro, quatro crianças perderam a vida também vítimas de “objectos” idênticos. A Polícia conta que as crianças encontravam-se a brincar naquele local, quando se depararam com os engenhos explosivos militares e, por desconhecimento, acabaram perdendo a vida.

 

Os engenhos, ora descobertos, juntam-se a outros cinco encontrados no passado dia 02 de Novembro e a outros quatro descobertos no dia 26 de Setembro, no bairro Samora Machel. Por essa razão, a Polícia exorta as comunidades a informarem à corporação sempre que encontrar os engenhos. (Carta)

Passam cinco meses, desde que a cidade da Beira, capital provincial de Sofala, acolheu a conferência de doadores, organizada com o intuito de angariar fundos para garantir a reconstrução das zonas afectadas pelos Ciclones Idai e Kenneth, entre Março e Abril último. Porém, até ao momento, os 1.2 mil milhões de USD anunciados naquela conferência pelos parceiros de cooperação ainda não foram canalizados ao Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclone, tudo porque os doadores ainda insistem em desembolsar os valores mediante a apresentação de projectos específicos a ser financiados.

 

À “ Carta”, o Director do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclone, Francisco Pereira, disse que os projectos estão ainda a ser elaborados pelo Governo de Moçambique, em particular pelos seus Ministérios e pelos agentes de implementação, prevendo que os mesmos estejam prontos entre finais do primeiro trimestre e princípios do segundo trimestre de 2020.

 

Segundo Pereira, após a elaboração, os projectos serão entregues aos doadores para a sua devida apreciação, aprovação e consequente desembolso do valor. Até lá, a instituição responsável em repor as infra-estruturas públicas e privadas destruídas pelos dois ciclones terá de se contentar com as garantias dadas pelos doadores.

 

Dados apresentados esta quarta-feira, no “Seminário Técnico-científico sobre Mudanças Climáticas: Experiências e Perspectivas pós-Idai e Kenneth”, indicam que, dos 1.2 mil milhões de USD prometidos pelos doadores, apenas 1.03 mil milhões de USD foram confirmados pelos doares, faltando por confirmar 170 milhões de USD.

 

Conforme explicou Pereira, após a conferência, o Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones foi atrás de cada um dos doadores pedir uma espécie de “declaração de compromisso” de “doação”, tendo recebido garantia de desembolso de um valor abaixo do prometido. Entretanto, Francisco Pereira garantiu que alguns projectos já estão a ser executados com apoio do fundo de emergência.

 

Por sua vez, a Representante do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones, no Seminário desta quarta-feira, em Maputo, Nádia Adrião, garantiu que depois da elaboração do Plano de reconstrução, o Gabinete teve compromissos avaliados em 1.4 mil milhões de USD, pelo que, até ao momento, regista um défice global de 1.8 mil milhões de USD, do total necessário, avaliado em 3.2 mil milhões de USD. Porém, dos 1.4 mil milhões, a responsável não clarificou a proveniência dos restantes 200 milhões de USD.

 

Acrescentou também que a instituição tem garantia de fundos que serão disponibilizados, através da assinatura de acordos de financiamento que aguardam a realização dos dispositivos legais (acordos de retrocessão, opinião legal), correspondentes a 468 milhões de USD. (Marta Afonso)

A Diocese de Pemba concedeu, esta quinta-feira, uma conferência de imprensa, para repudiar quaisquer tentativas de intimidação, não só do Bispo, mas também de todos os homens e mulheres de boa vontade.

 

Segundo o Padre Dinis Alexandre Gabriel, Porta-Voz da Diocese de Pemba, o artigo publicado por um certo órgão de comunicação social, baseado em Maputo, a 04 de Novembro passado, apresenta um conteúdo sensacionalista, manipulador e mentiroso. Dinis Alexandre Gabriel disse que o texto que ataca o Clérigo de Pemba foi “construído na base de informações manipuladas e tendenciosas, falsidades e a vontade de destruir a imagem de toda a Igreja edificada há mais de 60 anos”. De acordo com o Padre Dinis Alexandre Gabriel, "trata-se, por isso, de um 'fake news', contra a ética e deontologia jornalística profissional”.

 

Para o Padre Dinis Gabriel, falando em nome da Diocese de Pemba, a denúncia do aludido Jornal e o respectivo Jornalista é oriunda da "capacidade e competência de um comunicador para destruir, e não para construir, fazendo um fraco favor à sociedade moçambicana, ansiosa pela paz e atacando o compromisso real da Igreja católica que tem mesma causa".

 

Indo mais, o Porta-Voz da Diocese de Pemba levantou dúvidas sérias sobre a credibilidade do referido Jornal e suas reais motivações e de seus financiadores. Dinis Gabriel questionou se a referida publicação está ao serviço do povo ou de interesses obscuros, para satisfazer alguns do regime vigente.

 

Gabriel explicou que estão em comunhão plena com o Bispo e Pastor e isto demonstra, na óptica deles, um sinal de unidade da Igreja em particular, assim como o corpo místico das diferenças culturais, raciais, étnicas e geográficas. Acrescentando, o Porta-Voz da Diocese disse: "não toleramos actos de interferências alheias às nossas raízes como Igreja, semeando discórdia, desunião na nossa fraternidade".

 

Entretanto, o porta-voz reafirmou o apoio incondicional e solidariedade ao Bispo e Pastor. Contudo, Dinis Gabriel disse que todos estão unidos na construção da paz e da verdadeira democracia em Moçambique.

 

Salientar que a conferência de imprensa não contou com a presença do Bispo de Pemba, porque se encontra em missão, em Maputo e, nos próximos dias, irá pessoalmente apresentar os novos contornos do caso. (Omardine Omar, em Cabo Delgado)

O antigo banqueiro do Credit Suisse Surjan Singh admitiu na quarta-feira ter recebido “por engano” quase 700 mil dólares a mais (632 mil euros) do que os cinco milhões que pediu aos conspiradores do esquema das “dívidas ocultas” de Moçambique.

 

O britânico Surjan Singh, acusado numa investigação dos Estados Unidos da América como conspirador num esquema de fraude, subornos e branqueamento de capitais, está a testemunhar no tribunal de Nova Iorque, ao abrigo do acordo de cooperação que conseguiu com a Justiça norte-americana quando se declarou culpado, em setembro.

 

No total, o suspeito terá recebido, neste esquema, 5,7 milhões de dólares (5,15 milhões de euros) numa conta bancária nos Emirados Árabes Unidos, através de vários pagamentos de remetentes relacionados com a empresa Privinvest.

 

Em testemunho no tribunal, Singh assumiu que recebeu quase 700 mil dólares a mais do que o combinado devido a “um engano” que o banqueiro não denunciou aos co-conspiradores do esquema. Ex-diretor do Credit Suisse Global Financing Group, Surjan Singh recordou, na quarta-feira, o empréstimo organizado pelo banco Credit Suisse para a empresa moçambicana Proindicus que teve todas as aprovações para ser aumentado, em várias etapas no ano de 2013, de 372 milhões de dólares para 622 milhões (de 335,8 milhões de euros para 561,5 milhões de euros).

 

Presente em tribunal, Surjan Singh contou que o seu antigo chefe Andrew Pearse lhe perguntou um valor de recompensa pelo papel de influenciar as decisões dentro do Credit Suisse, ao que Singh pediu cinco milhões de dólares (4,5 milhões de euros).

 

Este dinheiro era um pagamento “à parte” para Surjan Singh quando, em colaboração com o chefe Andrew Pearse, do Credit Suisse, e com o negociador Jean Boustani, da empresa Privinvest, o projeto Proindicus assumiu mais “upsizes” (aumentos, em tradução livre).

 

A revelação do “engano” de 700 mil dólares surgiu quando a equipa de acusação do Governo dos Estados Unidos da América mostraram os extratos bancários de uma conta “off shore” detida por Surjan Singh nos Emirados Árabes Unidos.

 

A procuradora questionou se “falou deste engano a alguém” e se “alguma vez tentou devolver o dinheiro a mais”, a que Singh respondeu que “não” e acrescentou que “talvez tenha sido por ganância”. O conspirador disse que a condição era criar uma conta bancária com sede nos Emirados Árabes Unidos para receber cinco milhões de dólares em várias tranches, de vários remetentes.

 

Para isso, Surjan Singh recebeu, em 2013, um visto de residência e de trabalho falsos para os Emirados Árabes Unidos, patrocinados por uma empresa subsidiária da Privinvest.

 

Os extratos dessa conta bancária detida por Singh em Abu Dhabi mostram depósitos vindos de vários remetentes, entre setembro de 2013 e março de 2014, com um valor de quase 5,7 milhões de dólares.

 

O acordo de cooperação com a Justiça norte-americana obrigou Surjan Singh a entregar 5,7 milhões de dólares ao Governo dos Estados Unidos da América antes do início dos depoimentos em tribunal.

 

Singh declarou-se culpado de conspirar para cometer o crime de lavagem de dinheiro. A cooperação com a Justiça prevê que, se disser toda a verdade nos depoimentos pedidos, os Estados Unidos retiram outras acusações que Singh enfrenta. (Lusa)

O ex-banqueiro do Credit Suisse, Surjan Singh, disse na terça-feira no tribunal em Nova Iorque, que recebeu subornos de Jean Boustani, executivo de vendas do grupo Privinvest, de Abu Dhabi, agora em julgamento por sua participação no escândalo das “dívidas ocultas” de Moçambique.

 

Singh é o segundo ex-funcionário do Credit Suisse a confessar sua parte na fraude e testemunhar contra Boustani. Seu superior hierárquico no Credit Suisse, Andrew Pearse, testemunhou durante vários dias em outubro. De acordo com uma transcrição dos procedimentos judiciais de terça-feira, Singh disse que havia percebido que Pearse estava a receber subornos de Boustani mas “eu não contei a ninguém sobre isso. Também concordei em receber subornos de Jean Boustani”.

 

Ele disse que recebeu 5,7 milhões de dólares de Boustani como pagamentos por “lobby” em nome de dois empréstimos para as empresas Proindicus e Ematum. "Eu participei do processo de aprovação internamente, no Credit Suisse, dos dois financiamentos”, disse Singh ao tribunal. “Fiz esforço para que eles fossem aprovados, priorizando-os em detrimento doutras transações. E consegui que eles fossem aprovados”.

 

Singh disse que as tranches do suborno foram pagas numa conta bancária em Abu Dhabi, que Boustani ajudou a abrir, ao organizar um endereço nos Emirados Árabes Unidos e uma autorização de residência para ele. Boustani, acrescentou, ajudou-o a manter o suborno em segredo, não apenas para o Credit Suisse, mas também para as instituições que investiram nas dívidas Proindicus e Ematum.

 

Singh também deu uma explicação detalhada do acordo de “delação premiada” que fez com procuradores americanos. Ele declarou-se culpado da acusação de conspiração para cometer lavagem de dinheiro, em troca dos promotores desistirem doutras acusações. No entanto, ele ainda enfrenta a possibilidade de uma sentença de 20 anos de prisão. O acordo também prevê um prazo de "liberdade supervisionada" até três anos.

 

Ele enfrenta uma multa de 500.000 dólares ou o dobro do valor dos instrumentos monetários envolvidos, além da restituição de quaisquer perdas causadas por sua conduta (a ser determinada pelo tribunal). Singh também deve entregar ao governo dos EUA o suborno de 5,7 milhões de dólares que recebeu. Ele disse ao tribunal que já pagou ao governo essa quantia na íntegra. O acordo o impede de apelar contra sua eventual sentença, desde que seja de 20 anos ou menos. (AIM)