A organização não-governamental (ONG) Justiça Ambiental acusou hoje o Governo moçambicano de “submissão ao negócio do carbono” em troca da recuperação do mangal, assinalando que esta estratégia é “tapar o sol com a peneira”.
Anabela Lemos, diretora-executiva da Justiça Ambiental (JA!) reagia à assinatura, na terça-feira, de um memorando de entendimento entre o Governo de Moçambique e a Blue Forest, entidade sedeada no Dubai, para a restauração de uma extensão de 185 mil hectares de mangal no país.
“Esses acordos colocam o Governo numa posição de submissão em relação aos negócios do carbono, porque são assinados com entidades que atuam na área dos créditos de carbono”, criticou Lemos, em declarações à Lusa.
Para a restauração do mangal moçambicano, prosseguiu, “não vale tudo”, porque o comércio de carbono obriga o país a permitir a poluição a empresas que compram “o direito a poluir” em troca de iniciativas “pretensamente pró-ambiente”.
“Isto não são acordos, são esquemas que dão com uma mão a ideia de reflorestamento e tiram com a outra, porque permitem emissões de carbono como contraprestação”, declarou a diretora-executiva da JA!.
Anabela Lemos admitiu que Moçambique precisa desesperadamente de restaurar o seu mangal, para a defesa do ecossistema costeiro e marinho, mas deve empreender ações que ataquem o problema de forma integrada e não isolada nem intermitente.
“Não se pode defender a recuperação ambiental aqui e promover a destruição ali, através de acordos como os que preveem a poluição”, enfatizou.
O país, continuou, deve privilegiar uma cooperação internacional centrada na adaptação climática, agindo através do exemplo, porque é uma das nações mais duramente atingidas pelas mudanças climáticas.
No âmbito do acordo que assinou com o executivo moçambicano, a Blue Forest comprometeu-se a apoiar a restauração das zonas de mangal, contribuindo para a meta de repovoamento de cinco mil hectares até ao final deste ano, apontada pelo Governo moçambicano.
“Este ano já demos passos gigantescos com o plantio de 3.200 hectares dos cinco mil previstos como meta para 2022”, disse Jorge Mafuca, diretor do Instituto Nacional de Investigação no Ministério do Mar, Águas Interiores e Pesca de Moçambique, após a assinatura do memorando de entendimento.
Com a Blue Forest, continuou, o objetivo é implementar o programa de recuperação de mangal a longo prazo.(Lusa)