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quinta-feira, 02 abril 2020 07:40

Covid-19: Confinamento já regista impacto psicológico na população em alguns países

A República de Moçambique observa, desde as 00:00 horas de 01 de Abril de 2020, o seu primeiro dia do Estado de Emergência, decretado na passada segunda-feira, pelo Presidente da República, no quadro das medidas tomadas pelo Governo para conter a propagação do Covid-19, uma pandemia que já infectou oito cidadãos, em Moçambique, mais de 800 mil em todo o mundo.

 

Ainda não se sabe o que, de concreto, irá acontecer até ao dia 30 de Abril, data em que irá cessar a declaração de Estado de Emergência (caso a situação melhore) ou será renovado por um período igual ou inferior a 30 dias (caso o cenário piore).

 

Entretanto, na segunda-feira, durante a sua comunicação à Nação, Filipe Jacinto Nyusi deixou ficar algumas medidas que deverão ser observadas durante este período, como a proibição de eventos públicos e privados (cultos, excepto questões inadiáveis do Estado e sociais); a limitação da circulação interna de pessoas em qualquer parte do território nacional; a limitação da entrada de pessoas nas fronteiras terrestres, aeroportos e portos, excepto para razões do interesse do Estado, transporte de bens e mercadorias por operadores, devidamente credenciados e situações relacionadas com a saúde.

 

Ordenou também o encerramento de estabelecimentos comerciais de diversão ou equiparados ou, quando aplicável, reduzir a sua actividade; a fiscalização dos preços dos bens essenciais para a população incluindo os necessários para o combate à pandemia; a reorientação do sector industrial para a produção de insumos necessários ao combate da pandemia; a adopção de medidas para apoiar o sector privado a enfrentar o impacto económico da pandemia; a introdução da rotatividade do trabalho ou outras modalidades em função das especificidades do sector público e privado; e garantir a implementação de medidas do MISAU para conter o Covid-19 em todas as instituições públicas e privadas.

 

Enquanto o Governo não determina as regras de “convivência” para os próximos 30 dias, “Carta” fez uma ronda por alguns países do globo terrestre, que também optaram pelo confinamento para conter a propagação do novo coronavírus, que já matou perto de 41 mil pessoas. A ronda visava perceber o impacto do confinamento nas respectivas sociedades e economias.

 

Mais de um terço da população mundial está em confinamento, como forma de evitar a propagação do vírus, uma vez que ainda não existe remédio com eficácia comprovada contra o coronavírus.

 

Ainda são raros os dados sobre os efeitos económicos que o confinamento está a causar em alguns países, apenas os psicológicos, sendo a República Popular da China o maior exemplo. A província de Hubei, onde está localizada a cidade de Wuhan, o epicentro da pandemia, remeteu ao confinamento obrigatório, a 23 de Janeiro, mais de 50 milhões de pessoas e, logo, tornou-se o exemplo flagrante dos efeitos do isolamento físico na saúde mental.

 

Segundo a Rádio França Internacional (RFI), a rádio pública francesa de emissão ao estrangeiro, durante o período de confinamento, a China viu uma explosão de pedidos de consultas com psicólogos, devido ao medo de serem contaminadas com o Covid-19, como também de enfrentar a solidão da quarentena.

 

Diante desse contexto, sublinha a RFI, o governo de Pequim colocou à disposição mais de 300 linhas de assistência telefónica administradas por universidades ou associações especializadas. Mas, o número era insuficiente para uma população de mais de um bilião de habitantes, pelo que alguns terapeutas implementaram programas gravados, com exercícios de meditação. Na China, as autoridades vigiam de perto quem desrespeita as regras.

 

“Quando estamos confinados, perdemos a nossa rotina, reduzimos a nossa actividade física e, em caso de quarentena, as pessoas podem ser vítimas de stress pós-traumático, irritabilidade, angústia e insónia”, explicou, à RFI, Chee Ng, professor de psiquiatria da universidade de Melborne e colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

“O confinamento gera um sentimento de incerteza, de tédio e de solidão. E quanto mais longo, mais importantes são as repercussões na saúde mental”, analisou o especialista.

 

A RFI destaca ainda que, durante este período, as autoridades chinesas registaram um aumento nos índices de violência doméstica nas regiões, assim como assistiu-se ao aumento de número de casos de divórcio.

 

Já na Itália, a imposição de uma multa de 206 Euros e o risco de até três meses de prisão foram as soluções encontradas para manter a população em seus domicílios, havendo apenas autorização para deixar as residências apenas para comprar comida, ir à farmácia ou trabalhar, quando indispensável.

 

Entretanto, escreve o Jornal espanhol EL PAIS, que a resistência às medidas de isolamento para conter o novo coronavírus, levaram a Itália a pagar um preço alto. O Governo italiano, tal como o norte-americano e o brasileiro, minimizou as consequências da pandemia e hoje é o país com mais óbitos registados, em todo mundo, tendo já registado quase 12.500 mortes.

 

Esta é a realidade que se vive um pouco por todo o mundo e que também será vivida pelos moçambicanos e cidadãos estrangeiros, residindo e trabalhando em solo pátrio. Entretanto, mais do que os problemas psicológicos, os moçambicanos temem também o que já os afectam antes mesmo da eclosão desta pandemia: a fome. Com as restrições impostas, dúvidas surgem de como o Governo irá gerir a crise alimentar que poderá afectar as famílias, tendo em conta as taxas de desemprego e de pobreza existentes no país. (Carta)

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