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BCI
terça-feira, 17 março 2020 07:07

Vendedores informais ainda sem data para saírem das ruas

Continua sem data concreta a saída dos vendedores informais dos passeios das principais avenidas da capital do país, Maputo, sobretudo na zona baixa. Depois de, na passada sexta-feira, 13 de Março, o Conselho Autárquico da Cidade de Maputo ter ensaiado uma retirada compulsiva dos vendedores informais das principais artérias da chamada cidade das acácias, esta segunda-feira, estes voltaram a ocupar as suas “bancas” nos passeios e entradas dos edifícios da capital, numa clara demonstração de poder perante a “autoridade” municipal e/ou estatal.

 

Depois de uma sexta-feira tumultuosa, em que diversas unidades da Polícia da República de Moçambique (PRM), armadas aos “dentes”, e os vendedores informais, munidos de pedras e outros instrumentos contundentes, mediram forças em algumas avenidas que atravessam a zona baixa da capital do país, esta segunda-feira, “Carta” fez uma ronda pelos pontos mais frequentados pelos vendedores informais para se inteirar do movimento, no primeiro dia útil da semana.

 

Durante a ronda, que abrangeu as avenidas 24 de Julho, Guerra Popular, 25 de Setembro, Albert Lutuli, Zedequias Manganhela, Fernão Magalhães, Josina Machel e Filipe Samuel Magaia, a nossa reportagem constatou que os vendedores voltaram a ocupar os passeios, com maior destaque para a Avenida Guerra Popular (entre os cruzamentos desta com a Eduardo Mondlane até ao da 25 de Setembro), Zedequias Manganhela (entre os cruzamentos desta com Albert Lutuli até ao da avenida Karl Marx), Fernão Magalhães (entre os cruzamentos com a Guerra Popular até ao da Karl Marx) e a avenida Filipe Samuel Magaia (entre os cruzamentos com a Josina Machel e até ao da 25 de Setembro).

 

A Polícia Municipal fez-se presente em algumas artérias da capital para o habitual “colete-de-forças” com os vendedores. O exercício era simples quanto este: os agentes (em grupos de dois) faziam rondas pelas avenidas, com o objectivo de confiscar produtos que estivessem à venda e os vendedores também recorriam à mesma tática (pequenas rondas pela avenida), afim de encontrar espaço adequado e/ou momento de distração dos agentes para montar as suas bancas.

 

Para entender os motivos da resistência dos vendedores informais aos apelos da Edilidade, a nossa reportagem conversou com alguns deles, que nos garantiram que terá sido o Executivo de Eneas Comiche a dar o aval para que continuassem a exercer as suas actividades comerciais naqueles locais.

 

Por exemplo, Dino Alves, residente no bairro da Machava, Município da Matola, província de Maputo, que vende calçados na Avenida Guerra Popular, afirmou que ainda não se sente seguro porque o Conselho Municipal ainda não sabe como deverá os organizar e em que mercados.

 

“Não é fácil desmantelar um negócio feito há anos para alimentar nossos filhos [afirma ter dois filhos]. Não negamos de sair, mesmo que o Governo crie locais para feiras, estamos dispostos a aceitar”, disse a fonte.

 

Por sua vez, Rosa Panguana, de 33 anos, comerciante de roupa usada, na avenida Fernão Magalhães, afirmou não existir espaço para feiras e sequer um mercado com bancas suficientes para albergar tantos vendedores. “Todos os espaços que o município diz ter são fictícios. Há muita falácia nisso tudo, ninguém foi levado para ser mostrado uma banca para colocar seus produtos”, revelou.

 

Por seu turno, Mandela Magalhães, vendedor de material escolar, explicou à nossa reportagem que, neste momento, estão nas mãos do Conselho Autárquico e da Associação dos Vendedores Informais, visto que só eles poderão ajudar a organizar melhor os vendedores. Porém, enquanto isto não acontece, “vamos continuar a vender de olhos postos na Polícia”, que, segundo estes, em alguns momentos faz cobranças ilícitas para não confiscar o produto e muito menos tirar os vendedores dos passeios.

 

Entretanto, o Presidente da Associação dos Vendedores Informais, Ramos Marrengula, explica que, nesta primeira fase, deverão ser retirados imediatamente todos os vendedores que se encontram nas avenidas protocolares (25 de Setembro, 24 de Julho, Eduardo Mondlane, Karl Max e Acordos de Lusaka) e os da Praça dos Trabalhadores, tendo em conta que estes já tinham sido dados a ordem, desde o mandato de David Simango, ex-Presidente do Município de Maputo.

 

“Acordou-se que deve ser preparado o Centro Emissor de Laulane, que é o local que irá albergar os vendedores a serem retirados das avenidas protocolares e na Praça dos Trabalhadores”, avançou a fonte, em conversa com o nosso jornal.

 

Marrengula afirma que na reunião havida com a Edilidade, na tarde de ontem, o Executivo de Eneas Comiche prometeu requalificar alguns mercados, de modo a adapta-los à realidade actual. “Os vendedores exigem também ao Município que os coloque nos mercados próximos dos terminais interurbanos de passageiros, como é o caso do Mercado do Zimpeto, o que vai permitir maior fluxo de clientes e circulação de autocarros”, disse o líder dos vendedores informais.

 

Marrengula explicou ainda que, para aqueles que vendem produtos frescos, como tomate, couve entre outros, deve-se fazer uma lista urgente com a indicação do mercado onde querem estar, por exemplo Mandela 1 ou 2 e tantos outros para que sejam alocados.

 

Entretanto, para os restantes, o Município está a preparar a zona do Centro Emissor de Laulane para que estes sejam levados para lá, porém, sem data para o término das obras, a fonte explicou que, enquanto isso não acontece, os informais deverão continuar a vender nos passeios da baixa da cidade.

 

“Só os informais inscritos são aproximadamente 2000 e o que deve acontecer é que seja dado o apoio ao município para que prepare o local em Laulane o mais breve possível, para acabar com o comércio informal no centro da cidade”, acrescentou.

 

Questionado sobre as razões dos tumultos da última sexta-feira, a fonte garantiu que os seus pares “agitaram-se sem motivos”, pois, nas suas palavras, a Polícia esteve no local apenas para sensibilizar os vendedores e não para expulsá-los. (Marta Afonso)

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