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quinta-feira, 17 outubro 2019 04:49

“Da guerra pelo voto à ressaca eleitoral” na Zambézia: a impiedade da UIR perante os cidadãos que aderiram ao "votou e ficou" da oposição

A noite do dia 15 de Outubro não foi fácil, em vários bairros da cidade de Quelimane e os restantes distritos da província da Zambézia. Em Quelimane, concretamente, nos bairros de Janeiro, Icídua, Sangarivera, Murropue, Coalane, Micajune, Manhaua, Acordo de Lusaca, Eduardo Mondlane, assim como no Posto Administrativo de Maquivale, nos Postos de votação de Nacouela, Serresse, Magologodo e Marrabo o clima foi de terror.

 

A mão dura dos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) foi visível. Cidadãos que se encontravam aglomerados nas vias que davam acesso aos postos de votação acabaram por ser recolhidos aos calabouços.

 

 

No bairro de Janeiro, quando eram 22:00 horas, a nossa equipa de reportagem deslocou-se à Escola Primária e Completa de Janeiro e deparou-se com mais de 300 pessoas aglomeradas defronte do recinto escolar, aguardando pelos resultados uma vez que se tratava do período da contagem dos votos. A população vigilante havia praticamente vedado o acesso ao local. Até a equipa da “Carta” foi vedada a entrada ao local mesmo com a acreditação feita pelos órgãos eleitorais.  

 

Repentinamente, a Unidade de Intervenção Rápida (UIR), ramo da Polícia da República de Moçambique (PRM), que se fez ao local à velocidade da luz, ordenou que os cidadãos aglomerados nos postos de votação abandonassem imediatamente o local. Em seguida, a equipa da "Carta" foi orientada a abandonar o local pelos agentes da polícia alocados para aquele espaço.

 

 

A caminho de Coalane presenciamos mais uma acção de violência dos agentes da UIR, onde pouco mais de 15 cidadãos foram imobilizados e recolhidos desumanamente para a viatura da corporação, um sinal de que a noite do dia 15 de Outubro seria de violência protagonizada por agentes da polícia escalados para aquela “missão”.

 

Situação preocupante ocorreu no bairro Icídua quando mais de mil eleitores decidiram seguir a orientação dos candidatos dos partidos políticos da oposição, segundo a qual deviam controlar os seus votos. Segundo apurámos, mais de 50 eleitores ficaram durante três dias acampados nas proximidades da Escola Primária e Completa de Icídua, sediada na periferia da cidade de Quelimane. Neste ponto, os “cidadãos vigilantes” chegaram a arremessar pedras contra os agentes da UIR, quebrando o pára-brisa de uma das viaturas. Em jeito de resposta, a polícia retirou-se do local por três horas, tendo regressado quando eram 4:00 horas e, neste período, os agentes foram obrigados a disparar para ar, detiveram 10 cidadãos que supostamente atiraram os objectos contundentes.

 

A escalada da violência continuou em quase todos os bairros da cidade de Quelimane e não só. No bairro Acordos de Lusaca, eleitores enfurecidos invadiram as Assembleias de voto, o que obrigou a polícia a aumentar o efectivo no local. No mesmo bairro, os populares colocaram barricadas nas estradas como forma de impedir que viaturas circulassem, uma vez que os resultados das sete mesas que haviam sido apuradas davam vitória ao candidato da Renamo, Ossufo Momade, assim como ao cabeça-de-lista, Manuel de Araújo.

 

 

No bairro Sangariveira, a situação foi a mesma. Confronto entre populares e agentes da polícia. O palco foi a Escola Primária local. Já no Posto Administrativo de Maquival, a situação foi “tenebrosa”. Quando chegou a hora de fecho das mesas, os eleitores acorrentaram as portas das salas e imobilizaram os agentes da polícia escalados para aquele ponto, realidade que fez com que as mesas fossem contabilizadas no período da manhã.

 

A situação de violência estendeu-se um pouco por toda a província, com principal destaque para Maganja da Costa, Lugela, Nicoadala, onde o partido Renamo lidera nas contagens.

 

Entretanto, “Carta” interagiu, na manhã de ontem, com o Porta-Voz da Comissão Provincial de Eleições (CPE) na Zambézia, Emílio Rapoio. Ao nosso jornal, Rapoio desdramatizou a situação, afirmando que não foram tantas situações se comparado com os pleitos anteriores.

 

Segundo Rapoio, as eleições na Zambézia decorreram num ambiente pacífico, estando o processo de apuramento, neste momento, na casa dos 34 por cento a nível de toda a província.

 

 

“Carta” questionou acerca dos ilícitos eleitorais que ao longo do dia foram reportados pelos jornalistas e observadores, com principal destaque para páginas de candidatos dos partidos da oposição e não só, sobre a existência de eleitores com boletins pré-votados. Emílio Rapoio disse não ter recebido nenhuma denúncia até aquele momento.

 

No entanto, na ronda efectuada pela “Carta” ao longo da cidade de Quelimane e arredores, constatamos que havia muitos eleitores apreensivos, a acompanhar pela rádio e televisão o apuramento dos resultados.

 

 

É comum encontrar crianças, jovens e adultos fazendo o registo dos resultados em todas as assembleias de voto como forma de confrontar com os resultados que aos poucos vão sendo anunciados. (Omardine Omar, na Zambézia

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