O presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, comparou na sexta-feira o seu homólogo ruandês a Adolf Hitler, durante a campanha eleitoral no leste do país. O leste da RDC tem sido assolado por décadas de violência perpetrada por grupos rebeldes, incluindo o M23, liderado pelos tutsis, que ocupou algumas regiões desde o lançamento duma ofensiva no fim de 2021.
Kinshasa, bem como vários estados ocidentais, incluindo os Estados Unidos e a França, dizem que o M23 é apoiado por Ruanda, embora Kigali negue essa afirmação.
“Vou me dirigir ao presidente ruandês Paul Kagame e dizer-lhe o seguinte: já que ele quer-se comportar como Adolf Hitler, tendo objectivos expansionistas (na República Democrática do Congo), eu prometo que ele vai acabar como Adolf Hitler”, disse o líder congolês. Tshisekedi falava a uma multidão num comício em Bukavu, capital da província de Kivu do Sul.
Adolf Hitler foi um político alemão, ditador e grande líder do nazismo e instigador da Segunda Mundial e figura central do holocausto. Embora a maior parte da RDC tenha retornado à relativa estabilidade após duas grandes guerras nas décadas de 1990 e 2000, milícias e grupos rebeldes operam no leste do país, que faz fronteira com Uganda, Ruanda e Burundi.”
“Quando assumi o poder como presidente deste país, propus um plano para viver em paz com os nossos vizinhos, mas o problema é que os nossos vizinhos têm olhos maiores que o estômago e esse é o caso do meu colega Kagame”, disse.
Tshisekedi já descreveu Ruanda como um "vizinho horrível" e acusou-o de querer monopolizar a riqueza, particularmente a mineração, no leste da RDC.
“Mas desta vez, (Kagame) enganou-se ao se meter comigo, tendo em conta que eu como filho deste país estou determinado a proteger a RDC contra todos os tipos de agressão estrangeira”, disse o líder congolês durante seu discurso em Bukavu.
Tshisekedi assumiu o cargo em 2019 após uma eleição bastante disputada. Está a concorrer para o segundo mandato e prometeu melhorar a vida dos pobres, combater a corrupção e pacificar o leste devastado pelo conflito.
A eleição presidencial na RDC está marcada para o próximo dia 20 de Dezembro. Para o próximo ano, seis países da SADC realizam eleições gerais, nomeadamente, (Fevereiro de 2024), África do Sul (Maio de 2024), Moçambique e Botswana (Outubro de 2024) e Namíbia e Maurícias (Novembro de 2024).
Entre os seus críticos, Kagame está entre os líderes mais repressivos da África e frustrou as esperanças de tornar o Ruanda numa democracia na qual todos os cidadãos se podem orgulhar.
Líder do Ruanda desde 1994, Paul Kagame é também acusado de limitar a liberdade de expressão e de reprimir a oposição. Recorde-se que o presidente Nyusi pediu ao seu aliado Paul Kagame o envio de um contingente militar e policial do Ruanda para combater os grupos armados que têm protagonizado ataques desde 2017 na província de Cabo Delgado.
O Ruanda tornou-se assim o primeiro país estrangeiro a colocar tropas em Moçambique em Julho de 2021, sem data de retirada. O primeiro destacamento ruandês foi de mil militares e polícias com equipamento e armas para Cabo Delgado, a que se juntou depois a Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM).
As tropas da SADC retirar-se-ão gradualmente da província de Cabo Delgado a partir do dia 15 de Dezembro deste ano e a sua conclusão está prevista para 15 de Julho de 20124, mas os militares ruandeses permanecerão por tempo indeterminado. (Carta/AFP)