Cerca de três milhões de cidadãos beneficiaram de assistência alimentar directa, devido aos eventos climáticos extremos que atingiram Moçambique nos últimos cinco anos, nomeadamente os ciclones Idai e Kenneth, bem como o terrorismo e pandemia da Covid-19.
“Ainda estamos a viver profundamente os efeitos destes choques que convergiram e trouxeram consigo consequências muito graves. As consequências não são apenas aquelas milhares de pessoas que beneficiaram de apoio alimentar, mas também empresas”, disse o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, na Conferência do Agro-negócio, Nutrição e Indústria Alimentar.
O evento, que decorre em Maputo, é organizado pela Confederação das Associações Económicas (CTA) em parceria com a Rede de Empresas para Expansão da Nutrição em Moçambique, uma iniciativa da Global Alliance for Improved Nutrition (GAIN).
Segundo Correia, o governo ainda não efectuou um exercício para apurar o custo real das crises que afectaram o país nos últimos cinco anos, com vista a avaliar o desempenho da sociedade moçambicana.
“Foram milhões de dólares que o país teve que desviar de outras iniciativas para alimentar essas famílias e evitar uma crise alimentar sem precedentes, como estamos a ver na zona de Sahel”, disse o governante.
O Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, defendeu que todos devem trabalhar para que se encontre uma solução definitiva para o acesso a alimentos e educação nutricional.
Referiu que o grande desafio em Moçambique não é só o acesso a alimentos, mas também a educação nutricional. “Há regiões do país onde as famílias têm frutas e fruteiras, mas preferem exportar. É urgente resolvermos o problema da alimentação no país que inclui água. Tenho sido surpreendido quando a população aqui da cidade critica o Presidente quando vai inaugurar um pequeno sistema de abastecimento de água e dizem que está a inaugurar torneira. Provavelmente, está a tentar sinalizar que não se justifica a esta altura da nossa independência que existam famílias que não tenham acesso à água”, disse.
Celso Correia frisou que, neste momento, o grande desafio é que sejam encontradas soluções para sistemas alimentares sustentáveis num contexto em que não há sinais de mudança.
“As crises provavelmente vão continuar com maior incidência para as alterações climáticas e os choques económicos. Então, o país tem que se preparar e, se não fizermos isso, corremos o risco de continuar a ver crianças com problemas cognitivos, e hipotecar a força de trabalho por conta da ausência de políticas e de resposta para um tema sensível como a desnutrição”.
Salientou ainda que a nutrição tem que se concretizar naturalmente da machamba ao prato e numa linguagem mais simples. Mas infelizmente a realidade de Moçambique não é essa. “Todos conhecem os indicadores nacionais de nutrição e de segurança alimentar e sabem das consequências dessa realidade”.
Já o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, enalteceu a GAIN, pelo facto de apoiar iniciativas que visam melhorar a fortificação de alimentos e reduzir os índices de desnutrição.
O último inquérito sobre orçamento familiar mostrou uma inversão da tendência na redução da pobreza e incremento de focos de desnutrição, facto que leva o sector privado a investir maiores recursos para aumentar a disponibilidade de alimentos.
Vuma aponta como desafios a participação activa do sector privado, academia e parceiros de cooperação no processo de revisão do decreto de fortificação de alimentos, controlo das fronteiras terrestres, marítimas e aéreas, locais considerados como focos de contrabando.
“Propomos que o projecto-piloto de alimentação escolar seja implementado com a contratação de produtores moçambicanos de forma a fornecerem alimentos para reduzir a desnutrição de crianças em idade escolar”.
Por seu turno, Gaspar Cuambe, director da GAIN em Moçambique, anotou que decorre actualmente a COP28, no Dubai, uma iniciativa global que discute as questões ligadas ao ambiente.
Revelou ainda que a sua organização, em parceria com o Egipto, preside a iniciativa I-CAN que na língua inglesa significa “Eu posso”, um programa que promove acções de protecção do clima e promoção da nutrição.
“A I-CAN conta com a parceria da FAO, OMS (Organização Mundial da Saúde), movimento SUN e de múltiplos parceiros multi-sectoriais com objectivo de canalizar acções climáticas, com benefícios na nutrição”.
O evento junta várias entidades públicas e estatais, incluindo quadros do MADER, Ministério da Indústria e Comércio, representantes das empresas ligadas à cadeia de nutrição e empresas moçambicanas que trabalham na fortificação de alimentos. (Carta⁄AIM)