Focos de violência foram registados nos últimos dias nos distritos de Meluco, Nacala e Nacala-à-Velha, respectivamente, nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, devido à falta de informação sobre a cólera. A população, com os ânimos exaltados, alega que a doença é causada pelas autoridades locais e pelos agentes da saúde.
No último fim-de-semana por exemplo, "Carta" apurou que a população protagonizou actos de vandalismo contra infra-estruturas públicas e residências das autoridades locais, nas aldeias Janga e Quissimajulo no distrito de Nacala, em Nampula.
A onda de desinformação sobre a origem da cólera levou a polícia em Nacala a usar balas reais para dispersar os manifestantes, depois destes terem destruído o posto policial, o centro de saúde e residências. Os enfermeiros foram igualmente alvo dos populares, mas estes conseguiram escapar até à sede do distrito de Nacala. Há também relatos de feridos.
Pelo mesmo motivo, "Carta" soube que residências de secretários e de activistas comunitários de saúde, incluindo de um funcionário de uma organização não governamental, em número de 10, foram destruídas pela população da comunidade das Salinas no distrito de Nacala-à-Velha, província de Nampula.
Os manifestantes dispersos pela Polícia da República de Moçambique, com recurso a armas e gás lacrimogéneo, chegaram a colocar barricadas na estrada desde o fim de sábado, para impedir a circulação de viaturas e dificultar a presença da PRM.
A tensão também se registou na última quinta-feira na sede do distrito de Meluco, em Cabo Delgado, onde, de acordo com fontes locais, a população insurgiu-se contra as autoridades de saúde, ao mesmo tempo que tentava destruir o Centro de Tratamento de Cólera. A PRM foi chamada a intervir para manter a ordem.
Um docente que presenciou a manifestação disse à "Carta" que a polícia recorreu a balas reais para dispersar os manifestantes e dois (02) supostos cabecilhas foram detidos.
De acordo com o docente, a população da sede do distrito Meluco não entende as razões da instalação de um centro de tratamento de cólera na unidade sanitária local, tendo em conta que a cólera eclodiu na aldeia Pedreira, que dista cerca de 50 quilómetros da vila. (Carta)