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quarta-feira, 05 janeiro 2022 04:11

Luto e dor: As figuras que 2021 levou consigo

O ano de 2021 foi marcado por luto e dor a diversas famílias de grandes personalidades moçambicanas, desde políticas, económicas até culturais. A lista é longa. “Carta” lembra pelo menos de 11 figuras, que por diversos motivos, com destaque para Covid-19, tombaram no ano passado.

 

O destaque, por ordem cronológica, vai para Cadmiel Filiane Muthemba que perdeu a vida a 09 de Janeiro de 2021, na capital moçambicana, vítima de doença. Muthemba foi antigo ministro das Obras Públicas e Habitação, deputado e político.

 

O ex-governante nasceu a 20 de Julho de 1945, em Chicumbane, província de Gaza. Encontrou a morte numa clínica privada, onde lutava pela vida. Cadmiel Muthemba desempenhou vários cargos no Governo. Antes de ser ministro das Obras Públicas e Habitação, foi titular da pasta das Pescas.

 

Dez dias depois da tomada de posse do Governo de Transição, a 20 de Setembro de 1974, Cadmiel Muthemba foi enviado a Inhambane como comissário político para a implantação das estruturas da Frelimo, segundo o Boletim sobre o Processo Político em Moçambique.

 

A 29 de Janeiro de 2021, perdeu a vida ainda Calane da Silva, jornalista, escritor, docente universitário e poeta moçambicano. Calane morreu em Maputo aos 76 anos, vítima de complicações de saúde associadas à Covid-19.

 

Escritor e ensaísta, Calane da Silva nasceu a 20 de Outubro de 1945, em Lourenço Marques, actual cidade de Maputo, capital moçambicana e com contos como “Xicandarinha na lenha do mundo” e o livro “Dos Meninos da Malanga” tornou-se popular este que, para além de outras ocupações, foi também um dos fundadores da Associação Moçambicana de Escritores.

 

No dia 08 de Fevereiro de 2021, morreu também, vítima de doença, o Chefe do Estado Maior-General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), o General do Exército, Eugénio Ussene Mussa.

 

Eugénio Mussa foi nomeado pelo Presidente da República, na sua qualidade de Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança, no dia 14 de Janeiro de 2021, para assumir o cargo de Chefe do Estado-Maior General das FADM e promovido à patente de General do Exército.

 

No dia 22 de Fevereiro, perdeu a vida, aos 57 anos, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, na África do Sul, depois de sofrer uma paragem cardíaca.

 

Simango fica marcado como o primeiro candidato independente a chegar à presidência de um município no país. Ele foi eleito autarca da Beira, centro de Moçambique, primeiro em 2003 como candidato da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, ao qual se juntou a convite do falecido líder da organização, Afonso Dhlakama.

 

Em 2009, Daviz Simango fundou o MDM, com o qual concorreu às presidenciais e legislativas desse ano. Ficou em terceiro lugar nas presidenciais e conseguiu eleger oito deputados à Assembleia da República (AR), acabando com a bipolarização entre a FRELIMO e a RENAMO - a que o MDM se referia como "coligação Frenamo" -, no Parlamento.

 

Por sua vez, a 14 de Abril, perdeu a vida o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Oldemiro Júlio Marques Baloi, que morreu aos 66 anos de idade, na África do Sul, para onde se deslocou a 22 de Fevereiro para tratamento.

 

Oldemiro Baloi licenciou-se em Economia, pela Universidade Eduardo Mondlane, obteve um mestrado em Economia Financeira pela Universidade de Londres (SOAS) e também trabalhou no Banco Internacional de Moçambique (Millennium BIM), onde era membro do seu Conselho Executivo.

 

Baloi serviu como chefe da diplomacia moçambicana de 2008 a 2017, depois de, no início da década de 1990, ter sido vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Entre 1994 e 1999 foi ministro da Indústria, Comércio e Turismo. Em 2019, liderou a missão de observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) às eleições presidenciais na Guiné-Bissau.

 

Por seu turno, no dia 10 de Maio do mesmo ano, morreu o presidente da Associação de Basquetebol da cidade de Maputo, Rui Hélder Guilaze, vítima de doença. Guilaze dirigia o órgão da bola ao cesto da capital do país desde 2015, altura em que foi eleito pela primeira vez e reeleito em 2019, com maioria dos votos dos clubes da cidade. Sob sua direcção, a capital do país organizou várias competições, dentre elas o Campeonato da cidade de Maputo, Engen Maputo Basket, e o Torneio Nutrição. O malogrado Rui Hélder Guilaze perdeu a vida aos 48 anos de idade.

 

Por sua vez, a 29 de Setembro, perdeu a vida, aos 103 anos, vítima de doença, o cardeal Dom Alexandre José Maria dos Santos. Dom Alexandre foi o primeiro sacerdote e cardeal católico moçambicano. Natural de Zavala, província de Inhambane, Alexandre Maria dos Santos foi ordenado padre em 1953, tornando-se o primeiro cidadão negro moçambicano, na função e foi designado cardeal-presbítero em 1988 pelo Papa João Paulo II.

 

Entre 1975-2003, desempenhou as funções de Arcebispo de Maputo, tornando-se arcebispo emérito em 2003. Participou activamente no processo de pacificação do país que culminou com a assinatura do Acordo geral de paz em 1992, e na criação da Universidade São Tomás de Moçambique.

 

No dia 04 de Outubro, o país perdeu ainda, vítima de doença, Felício Zacarias, antigo governador das províncias de Manica e Sofala e ministro das Obras Públicas e Habitação, vítima de doença, aos 68 anos de idade.

 

Felício Pedro Zacarias nasceu a 10 de Abril de 1958, na província de Manica. Entrou para o Governo pelas mãos do antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, ocupando o cargo de governador da Província de Manica, sua terra natal.

 

No primeiro mandato do antigo Presidente da República Armando Guebuza, Felício Zacarias foi nomeado ministro das Obras Públicas e Habitação e ficou conhecido como um dirigente que dispensava o protocolo oficial e a segurança durante o trabalho.

 

Outra figura pública que perdeu a vida em 2021 foi o Juiz Conselheiro Jubilado, Luís Filipe Castel-Branco Sacramento, falecido no dia 29 de Novembro. Sacramento nasceu em 1945, em Portugal. Dedicou grande parte da sua vida ao direito positivo. Era um exímio defensor da igualdade de circunstâncias, quando o assunto fosse a lei. Evidenciou isso quando foi detido o antigo ministro do Interior, Almerino Manhenje, acusado de corrupção.

 

Disse, na altura, que era preciso que o antigo governante recebesse tratamento que qualquer cidadão receberia se estivesse em conflito com a lei. “Se, de facto, há uma situação que se traduza em violação da lei, paciência, as consequências deverão ser marcadas", defendeu.

 

O mês de Dezembro iniciou com a morte do professor Júlio Eduardo Zamith de Franco Carrilho, natural de Pemba, Cabo Delgado, nascido a 26 de Junho de 1946. Falecido no dia 05, Carrilho era Licenciado em arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes da Universidade de Lisboa (1973) e doutorado em arquitectura e ambiente pela Universidade de Roma” La Sapienza” (2006).

 

Foi o primeiro titular do ministério das Obras Públicas e Habitação depois da Independência nacional tendo sido, igualmente, o primeiro bastonário da Ordem dos Arquitectos de Moçambique. Para além de arquitecto e professor na Universidade Eduardo Mondlane, Júlio Carrilho era também artista e escritor.

 

Já no dia 16 de Dezembro, perdeu a vida o político e poeta moçambicano, Sérgio Vieira na África do Sul, aos 80 anos de idade, por motivos de doença.

 

Sérgio Vieira, natural da província de Tete, nasceu em 1941, assumiu o activismo político bem jovem e enquanto estudava em Lisboa frequentou a conhecida Casa dos Estudantes do Império, onde se reuniam muitos dos futuros dirigentes da luta de libertação das então colónias portuguesas. Nesse espaço, participou também em muitas actividades culturais.

 

Licenciado em Ciências Políticas, antes da Independência de Moçambique, foi membro fundador da FRELIMO e após a Independência ocupou diversas pastas. (Marta Afonso)

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