A petrolífera norte-americana Exxon está a estudar a possibilidade de cancelar o investimento previsto para o norte de Moçambique, noticiou o Wall Street Journal, citando pressões dos investidores para limitar a aposta em combustíveis fósseis.
De acordo com o jornal económico norte-americano, o novo conselho de administração, que inclui um administrador nomeado por um investidor ambiental, e dois outros administradores, já expressou as preocupações ambientais sobre vários projetos, incluindo o investimento na exploração de gás natural na bacia do Rovuma, no norte de Moçambique, e outros projetos de milhares de milhões de dólares no Vietname.
O jornal não cita diretamente qualquer dos administradores, escrevendo apenas que esta questão está a ser debatida no âmbito das discussões sobre o plano estratégico para os próximos cinco anos, num contexto em que os preços do petróleo e do gás estão elevados, e o mundo está a passar por uma falta de combustíveis fósseis enquanto recuperam dos efeitos da pandemia de covid-19.
A pressão sobre a administração da Exxon, uma das maiores petrolíferas mundiais, visa reduzir o investimento nestes combustíveis poluentes para limitar as emissões de carbono e, ao mesmo tempo, aumentar o retorno aos investidores, já que a aposta em megaprojetos como os de Moçambique demora vários anos até chegar à fase de retorno para os acionistas.
De acordo com as fontes citadas pelo Wall Street Journal, não é claro que destas discussões saia uma decisão sobre o investimento em Moçambique, que aguarda ainda a Decisão Final de Investimento, o passo a partir do qual o projeto é irreversível, sob pena de as sanções suplantarem os custos de investimento.
Parte do processo de revisão do projeto incidirá sobre as emissões de carbono de cada um dos projetos, e como isso poderia afetar os compromissos da empresa relativamente à redução da emissão de dióxido de carbono, já que os projetos em Moçambique e no Vietname são os maiores emissores, diz o WSJ, citando um documento interno da companhia, feito antes da pandemia.
A Exxon já gastou 2,8 mil milhões de dólares (2,4 mil milhões de euros) para adquirir uma posição importante no projeto Rovuma, o maior projeto de exploração de gás natural da África subsaariana, mas há vários anos que adia a Decisão Final sobre a o investimento, que segundo o Governo de Moçambique pode ficar entre os 27 e os 33 mil milhões de dólares (23,2 a 28,3 mil milhões de euros).
Os projetos de gás liderados na Área 1 pela petrolífera francesa Total e na Área 4 pela norte-americana Exxon Mobil e pela italiana Eni representam em conjunto cerca de 50 mil milhões de dólares (42,5 mil milhões de euros) de investimento na bacia do Rovuma, ao largo da província nortenha de Cabo Delgado.
Só o projeto da Área 1 teve decisão final de investimento e tem obras no terreno, representando o maior investimento privado em África, enquanto a Área 4 lançou a construção de uma plataforma flutuante, mas o grosso do investimento continua por decidir.
As petrolíferas têm de lidar com uma insurgência armada que desde 2017 afeta Cabo Delgado nas zonas em redor do empreendimento de gás, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo Estado Islâmico.(Carta)