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BCI
quarta-feira, 15 setembro 2021 05:47

Assassinato de Revocat Karemangingo: alarme e medo na comunidade ruandesa em Moçambique

O assassinato bárbaro de Revocat Karemangingo, no fim da tarde da segunda-feira (13), a menos de 50 metros da sua residência e farmácia veio agravar a situação dos membros da Associação dos Refugiados Ruandeses em Moçambique (ARRM). O caos instalou-se. O medo fez com que os ruandeses de Maputo se recolhessem em suas casas.

 

Muitos deles, os da primeira geração, que viviam do pequeno comércio em bairros como Fomento, Liberdade, Machava, Guava, Tchumene, Lusalite (Província de Maputo), Albasine, Maxaquene, Inhaca e outros centros comerciais na Cidade de Maputo, decidiram fechar as portas. Não se trata de uma greve fiscal, mas de um recolhimento voluntário. Sobretudo porque se sentem desprotegidos.

 

A recente aproximação entre Maputo e Kigali e a vinda de um contingente militar ruandês, a 9 de Agosto, que combate os insurgentes em Cabo Delgado, trouxe mais temores. Já antes, o regime de Paul Kagame nunca tinha escondido sua apetência em perseguir opositores políticos refugiados em Moçambique. E isso foi feito com a anuência tácita dos Governos da Frelimo.

 

Em Outubro de 2012, o corpo de Theogene Turatsinze, um cidadão ruandês, foi encontrado a flutuar numa das praias de Maputo. O antigo director do Banco de Desenvolvimento do Ruanda (RDB) era, até à data da sua morte, vice-reitor da Universidade São Tomás de Moçambique (USTM), uma instituição pertencente à Igreja Católica. A Polícia disse, na altura, ter identificado suspeitos, mas até hoje ninguém foi preso. Depois veio Cassien Ntamuhanga, um jornalista e activista político. Ntamuhanga foi raptado a 23 de Maio, na Ilha da Inhaca, onde se encontrava refugiado. Seu desaparecimento aconteceu já dentro do contexto de aproximação de Maputo com Kigali.

 

Uma lista negra do Ruanda

 

Desde a chegada da armada ruandesa em Agosto passado, o ambiente ficou mais tenso. Para além do desaparecimento de Ntamuhanga, há dias o Secretário-geral da ARRM, Byiringiro Wellars, mais o cidadão Niyonteze Jean Jaques foram raptados por estranhos, acabando por parar na 3ª Esquadra Policial da Cidade da Matola, no Bairro T3. Sua sorte é que o caso foi prontamente comunicado às autoridades centrais do Governo moçambicano, o que terá impedido uma tragédia.

 

“Carta” apurou que Revocat era o primeiro de uma lista de execução alegadamente organizada pelo regime de Kigali. A lista foi interceptada por jornalistas ruandeses no exílio. Dela fazem também parte os ruandeses Venanti Munanheze, Mónaco Alphonso e um dos membros da direcção da ARRM.

 

A caça ao homem parece ser apoiada por uma logística de peso. Os homens que mataram Revocat faziam-se transportar em três carros de alta cilindrada. Eles atiraram nove tiros à queima-roupa e colocaram-se em fuga, deixando sem vida um homem descrito pela vizinhança e conhecidos como "bom gajo".

 

Entretanto, como sempre, em entrevista à comunicação social, nesta terça-feira (14) em Maputo, a Porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Maputo, Carmínia Leite, disse que ainda não tinha pistas, que o caso será esclarecido e que decorrem diligências para a captura dos assassinos.

 

Entretanto, enquanto os crimes se avolumam, a sociedade ruandesa de Maputo vive quase que uma tensão sem fim. Em 2019, no mês de Agosto, Louis Baziga, então Presidente da ARRM, foi assassinado por indivíduos até aqui desconhecidos. Na altura, a imprensa de Kigali pró-Kagame apontou que o acto bárbaro havia sido protagonizado por elementos da própria comunidade ruandesa, mas isso nunca chegou a ser confirmado. Alegava-se que Baziga pretendia regressar a Kigali para trabalhar com o regime vigente, o que não terá agradado outros membros da ARRM, nomeadamente o finado Revocat Karemangingo, Diomède Tuganeyezu e Benjamin Ndagijimana.

 

O actual Presidente da ARRM, Cleophas Habiyareme, vem denunciando as múltiplas habilidades de exterminar de alguns membros da armada ruandesa presentes em Cabo Delgado, e que em certos momentos podem procurar os membros da ARRM e aniquilá-los. De referir que, relativamente à situação dos ruandeses em Moçambique e o governo de Kigali, "Carta" já solicitou uma entrevista com o Embaixador do Ruanda em Moçambique, Claude Nikobisanzwe, desde o passado dia 19 de Julho, mas até aqui ele ainda não nos recebeu. (Omardine Omar)

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