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terça-feira, 13 abril 2021 06:02

“Carta” está em Palma: a vila ainda não inspira segurança, escreve Abilio Maolela

Ainda reina um clima de insegurança na vila-sede do distrito de Palma, norte da província de Cabo Delgado, nove dias depois de as Forças de Defesa e Segurança (FDS) terem retomado o controlo daquele ponto do país.

 

O silêncio (que tomou conta da vila), os rastos de destruição e o cheiro nauseabundo são os “restos” ainda presentes da invasão ocorrida na tarde do último dia 24 de Março, data em que os insurgentes atacaram a vila-sede de Palma, que dista a pouco mais de 20 Km da Península de Afungi, onde está sendo desenvolvido o maior projecto de exploração de gás natural de África.

 

Esta segunda-feira, “Carta” esteve no Teatro Operacional Norte (TON), tendo percorrido a vila de Palma durante quase 1:30h (entre as 12:30h e as 14:10h). No local, ainda eram visíveis os danos causados pelos terroristas, desde a destruição de infra-estruturas públicas e privadas até à presença de invólucros de munições usadas durante os 11 dias de combate.

 

A vila está praticamente abandonada e quem ainda lá permanece diz não ter para onde ir. É o caso de Ussemane Mussa, um jovem de 19 anos de idade, natural da vila de Palma, que garante que a sua família não saiu daquela vila por não ter para onde ir.

 

Entretanto, os que pretendem partir de Palma enfrentam barreiras na entrada do Acampamento da Total, onde está localizado o Aeródromo de Afungi – o principal ponto de evacuação dos deslocados – devido ao rígido protocolo de segurança adoptado. Algumas famílias são obrigadas a passar vários dias na vila de Reassentamento, em Quitunda, à espera de uma oportunidade para chegar à cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.

 

Uma das vítimas dos “rígidos” protocolos de segurança foi Nelson Bonifácio, de 28 anos de idade, que permaneceu em Quitunda desde o dia 25 de Março, depois de ter passado a noite do dia 24 de Março numa machamba. Só nesta segunda-feira, é que ele e a esposa conseguiram embarcar para capital provincial de Cabo Delgado, onde já estão a filha e a sua sogra.

 

Porém, há quem já está cansado do “desgastante” processo e, com a ausência de tiros há quase 10 dias, prefere regressar à sua casa. Aliás, as FDS garantem estar controlada a situação e os que ainda permanecem na vila de Palma também asseguram que nunca ouviram tiros, desde que as FDS anunciaram o controlo da vila.

 

No entanto, o Chefe do Posto Policial de Afungi, Pedro da Silva Negro Pambe, disse aos jornalistas ter sido registado um “susto” no passado domingo, na região de Malanga, nos arredores da vila, onde foi decapitado um cidadão por ter denunciado, às FDS, a presença de “quantidades enormes de produtos alimentares” na sua residência, cuja proveniência desconhecia.

 

Aliás, Gaspar Quenesta, um funcionário da SS Construções, uma das empresas sub-contratadas pela Total, conta que após a normalização da situação de segurança, começou uma onda de roubos, protagonizados por alguns membros da comunidade que ainda permaneciam naquela sede distrital. A fonte, que embarcou esta segunda-feira para a cidade de Pemba na companhia da sua esposa, conta que permaneceu no interior da sua casa durante 18 dias (de 24 de Março a 10 de Abril) e que não conseguiu fugir, devido a problemas de saúde.
 
Refira-se que diferentemente das outras vilas, em que os terroristas destruíram quase tudo, em Palma, alguns edifícios continuam intactos, outros apenas estão com os vidros partidos e algumas perfurações, causadas pelos tiros. Também poucas viaturas foram incendiadas, sendo que grande parte delas ainda estão em bom estado.
 
Um elemento das FDS contou à nossa reportagem que os insurgentes centraram as suas atenções no Quartel da vila de Palma, onde pretendiam se apoderar do material bélico, tendo sido rechaçados pelas FDS.

 

Sublinhar que, até ao momento, não se sabe quantas pessoas perderam a vida, devido aos últimos ataques terroristas em Palma, mas o Líder Comunitário Valentim Sumail Dienga garante que pelo menos 25 cidadãos foram mortos no seu bairro.

 

Transporte custa 100 Meticais de Palma a Afungi

 

Com a retoma do controlo da vila de Palma e da estrada que liga a vila-sede daquele distrito à Península de Afungi, as viaturas, em particular transportes semi-colectivos de passageiros de 30 lugares (vulgo Coaster), também retomaram as suas actividades.

 

Sem necessitar de escolta militar, as viaturas vão transportando passageiros da vila de Palma até à vila de Reassentamento e vice-versa. Para todos os destinos não faltam passageiros e cada viagem custa 100 Meticais. Refira-se que a distância entre os dois pontos não supera 30 Km e o tempo de viagem é de aproximadamente 25 minutos.

 

Para além da circulação de transportes semi-colectivos, também foi visível a retoma do comércio, maioritariamente controlado por jovens (os únicos que inundam a vila de Palma). Bolachas, rebuçados, pãezinhos, cocos, laranjas, cigarros e peixe são os produtos mais comercializados. Porque não há dinheiro, quase que ninguém compra os referidos produtos, excepto Mário Sulemaine, que teve de pagar 10 Meticais para adquirir um dos pãezinhos.

 

Refira-se que, em quase todos os cantos da vila de Palma, assim como da estrada que liga as vilas de Palma e de Quitunda era visível a presença das FDS, compostas por agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), do Grupo de Operações Especiais (GOE) e das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). (Abílio Maolela, em Palma)

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