Iniciou no último sábado, 08 de Agosto, o novo Estado de Emergência, decretado pelo Chefe de Estado, no passado dia 05 de Agosto, no âmbito do combate à pandemia do novo coronavírus, que já infectou 2.481 pessoas, das quais 17 perderam a vida e 910 encontram-se completamente recuperadas. O novo Estado de Emergência estender-se-á até às 23:59 horas do próximo dia 06 de Setembro.
“Carta” conversou com alguns cidadãos para perceber como analisavam a renovação do Estado de Emergência, assim como as medidas tomadas pelo Chefe de Estado, entre as quais, o regresso dos cultos e das aulas no ensino superior e técnico-profissional, a partir do próximo dia 18 de Agosto; e o regresso das aulas do ensino geral a partir do mês de Outubro.
Sandra Cossa, residente no bairro de Hulene “B”, defende ser uma “decisão mal pensada” a reabertura das igrejas, assim como das escolas (do ensino geral, em Outubro) e que a mesma demonstra “alguma fraqueza do governo”.
“Não estamos preparados para este tipo de cenário. Infelizmente, o governo está a cometer o erro de pensar que Maputo é Moçambique. Se formos a olhar para as escolas das zonas suburbanas, onde nem existem torneiras, água, dá para prever que o país não está preparado. Se, em 45 anos, não foi possível criar condições básicas nas escolas, de que forma se pretende fazer em dois meses?”, questionou.
Quem também não concorda com as medidas tomadas pelo Chefe de Estado é Valdemar Mussane, de 29 anos de idade. “Quando tínhamos três casos, o governo mandou fechar muitas instituições. Hoje que já temos até transmissão comunitária, em algumas províncias, pensam em reabrir, o que pode aumentar o contágio. Em Moçambique, muitas escolas não têm condições de saneamento e o número de alunos que o país possui, em cada sala de aulas, tornará difícil coordenar a volta às aulas nos termos que o governo pretende. Muitos alunos poderão ficar de fora”, defendeu.
Por sua vez, Pedro Mondlane, de 29 anos de idade, residente no bairro de Mavalane “A”, disse concordar com algumas medidas tomadas pelo Chefe de Estado. “Acho que a pandemia veio para ficar, assim sendo, temos de nos adaptar e aprender a viver com este vírus. Concordo com a reabertura das universidades e escolas do ensino técnico e profissional, visto que existem, nestes locais, pessoas com idade e postura para aplicar as medidas preventivas à risca”, explicou a fonte.
Já Alda Alfredo, de 37 anos de idade, também residente no bairro de Hulene “B”, entende, igualmente, que as pessoas devem aprender a conviver com a pandemia, pois, apesar de as crianças ficarem em casa, os pais lutam, diariamente, para tomar transporte, para além de se cruzar com muitas pessoas, o que lhes torna vulneráveis à infecção pelo novo coronavírus.
Quem também defende que “a vida não pode parar”, devido ao novo coronavírus, é Glória Cossa, de 41 anos de idade, que também reside no bairro de Hulene “B”. Cossa defende que, por não haver previsão para o fim da pandemia, a vida não pode parar, porém, avança que “o Governo deve preparar-se devidamente antes de reabrir as escolas, pois, em dois meses, não será possível. O transporte é um factor de risco e muitos alunos precisam do transporte para irem às escolas”, explicou.
“Em meio a esta situação, não há espaço para diversão, por isso, não vejo razões de reabrirem teatros e outros locais de lazer, mesmo as igrejas deviam permanecer fechadas, visto que as pessoas podem rezar nas suas casas, pois, Deus vai escutá-las independentemente do local onde estiverem”, acrescentou.
“A retoma das aulas em tempos de Covid-19 é um jogo de xadrez complicado” – docente
Por sua vez, Álvaro Chirindza, professor do ensino primário e formando em Ciências da Educação, pela Universidade Pedagógica de Maputo, considera um “jogo de xadrez” a decisão de retomar as aulas, num período em que se verifica o aumento do número de casos de infecção pelo novo coronavírus.
“A reabertura das aulas no ensino superior é necessária, mas penso que as instituições deviam apostar mais nas plataformas digitais (para certos cursos), pois, o nosso país ainda enfrenta grandes dificuldades, no que tange ao sector dos transportes. Grande parte dos estudantes do ensino superior são oriundos das zonas suburbanas e periurbanas e dependem muito dos transportes públicos e/ou semi-colectivos de passageiros”, disse o docente.
Chirindza avança ainda ser “prematura” a reabertura das aulas, no ensino geral, pois, grande parte das turmas funcionam ao ar livre, para além de que o rácio professor-aluno é muito elevado.
“Portanto, penso que os meses que nos restam [no ano de 2020] deviam servir para o melhoramento e apetrechamento das nossas instituições de ensino (construção de salas, casas para professores e casas-de-banho), de modo a retomarmos, no próximo ano, com as condições sanitárias melhoradas, conforme sugerem as autoridades da saúde”, defendeu.
Referir que, durante a realização desta reportagem, era possível ver as crianças a brincarem na via pública, como se de período de férias se tratasse. (Marta Afonso)