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quinta-feira, 06 agosto 2020 06:25

Insurgentes em Cabo Delgado: “Jovens que atacam aldeias cansaram de esperar por dias melhores”, defende académica

A académica moçambicana, residente nos Estados Unidos da América (EUA), Alcinda Honwana, defende que os jovens moçambicanos envolvidos nos ataques terroristas, na província de Cabo Delgado, estão “cansados de esperar pela melhoria das suas vidas”. A tese foi defendida esta quarta-feira, durante um debate virtual, organizado pelo Observatório do Meio Rural (OMR), uma Organização da Sociedade Civil, que se dedica aos estudos sobre agricultura e desenvolvimento rural.

 

Debruçando-se sobre o tema “pobreza, etnicidade e juventude”, em mais um debate sobre a actual realidade da província de Cabo Delgado, a antropóloga e também Directora Estratégica do Centro Firoz Lalji para a África, uma instituição de pesquisa pertencente à Escola de Economia e Ciência Política de Londres (LSE), afirmou que a privatização de minas de garimpo, por entidades nacionais e internacionais, deitou para a desgraça muitos jovens que viviam daquela actividade, embora de forma ilegal, pois, “maior parte deles tem baixa escolaridade e desprovidos de outras oportunidades”.

 

Recorrendo à sua obra “tempo da juventude”, publicada em 2012, nos EUA, Alcinda Honwana disse ter constatado que maior parte dos jovens se sentiam excluídos, não só em questões sociais e económicas, mas também políticas. Sublinhou que os jovens se sentem marginalizados, devido à falta de emprego, casa própria, entre outros.

 

Por isso, a académica entende que, devido à rejeição que os jovens sentem na sociedade, por falta de condições, “não se sentem a perder, quando se aliam aos grupos extremistas”. “Nos últimos tempos, vários jovens têm sido aliciados e recrutados para incorporarem as fileiras dos insurgentes”, disse a académica.

 

Na sua intervenção, no painel em que faziam parte também os académicos João Feijó, OMR, e Ana Santos, do Instituto Universitário de Lisboa, Honwana avançou que a solução do conflito que se verifica na província de Cabo Delgado passa pela melhoria do contrato social entre o Estado e a sociedade. Avança, aliás, a necessidade de a juventude perceber as vantagens da paz e estabilidade, a partir da criação de oportunidades de emprego, através dos projectos de exploração de recursos naturais existentes. (O.O.)

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