O passado sábado ficou marcado pela comunicação do enviado pessoal do secretário-geral das Nações Unidas e Presidente do Grupo de Contacto, Mirko Manzoni, em torno do processo que deve culminar com Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos homens armados da Renamo. O pronunciamento era alusivo aos entendimentos da Serra da Gorongosa, que abriram caminhos para assinatura dos acordos de paz de 6 Agosto de 2019.
Mas as atenções não foram direccionadas ao processo em si. Os ataques que vêm sendo perpetrados pela auto-proclamada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo mereceram realce na comunicação do Presidente do grupo de Contacto. Sobre isso, Manzoni defendeu que não se pode permitir que forças externas comprometam o andamento do processo.
Os ataques que têm estado a ocorrer na região centro do país, disse Manzoni, são inversamente contrários a visão de paz que o falecido Renamo, Afonso Dhlakama, lutou para preservar ainda em vida.
“Os ataques no centro do país são a antítese da visão de paz que Dhlakama lutou para preservar ao longo dos seus últimos anos. Para todos os ex-combatentes da Renamo, a única forma de avançar passa pelo processo de paz e não podemos permitir que distúrbios externos comprometam isso”, disse Manzoni.
De acordo com as autoridades policiais, os ataques armados que têm estado a ocorrer nas províncias de Sofala e Manica são perpetrados por indivíduos pertencentes à auto-proclamada Junta Militar da Renamo.
Mariano Nhongo e seus correligionários têm publicamente contestado a liderança de Ossufo Momade (presidente da Renamo). Aliás, o grupo não reconhece Ossufo Momade como presidente dos genuínos membros do partido e, inclusive, deixado a garantia que sob a liderança deste não juntar-se ao DDR.
Há meses, Mirko Manzoni, em entrevista a um canal de televisão privado da praça, disse que o líder da auto-proclamada junta militar da Renamo é inflexível e que todas as tentativas de diálogo tendo em vista a aproximação de posições fracassaram.
Sobre o processo, o enviado especial do Secretário-Geral das Nações Unidas, a par de felicitar os actores envolvidos, deixou a garantia de que tudo será feito para que a cessão das hostilidades seja, de facto, uma “realidade duradoura”.
Mirko Manzoni anotou que, não obstante os desafios que o processo conheceu, não há, neste momento, segundo disse, espaço para recuos no processo de busca da paz definitiva. Anotou que no espaço de dois meses, isto após a retomada do processo, 554 ex-guerrilheiros da Renamo foram desmobilizados e regressaram à vida civil.
O processo que deve culminar com Desarmamento, Desmobilização e Reintegração do braço armado do maior partido da oposição prevê abranger cerca de 5 mil guerrilheiros. Desde a retomada do processo a 4 de Junho findo, duas bases do maior partido da oposição foram encerradas.
A conclusão do processo do DDR, tal como foi anunciado pelo Presidente da República, está prevista para Julho de 2021.
O DDR arrancou, oficialmente, a 29 de Julho de 2019, tendo permanecido em “banho-maria” quase um ano devido, entre outros, à constrangimentos de ordem logística, com particular destaque para disponibilidade de fundos. (I.B)