Por Marcelo Mosse
Pela segunda vez em 10 dias, um voo da TAP (TP 9607, amanhã) parte de Lisboa para Maputo vazio, sem passageiros. Objectivo: vem levar os portugueses que vão a Portugal em turismo e negócios. Em Portugal estão dezenas de moçambicanos apanhados no contra-pé do Covid 19 e, desde Abril, pendurados devido ao fecho do transporte aéreo. Vivem em hotéis e comem em restaurantes. Alguns já nem meios têm. Apenas um bilhete de regresso.
As fronteiras aéreas de Moçambique também estão fechadas. Para a TAP voar para cá, precisa de pedir uma autorização especial. Essa autorização é chancelada pela autoridade aeronáutica local, o Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM), com vistos do Ministério dos Transportes e Comunicações e do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Para o voo de amanhã, essa formalidade está feita. Na velha obediência de colonizado, nosso Governo atendeu ao pedido da companhia de bandeira portuguesa. Mas o voo vem vazio de Lisboa, pela segunda vez consecutiva. Ê esta a TAP que precisa de capital e desiste de encaixar receitas...num belo exemplo de gestão!
Em Moçambique não há nenhum impedimento de entrada de moçambicanos “pendurados” no estrangeiro. Que se saiba, no caso vertente dos que estão em Portugal, o único impedimento é a própria TAP. Simplesmente não quer transportar moçambicanos de volta à sua casa. Uma vil humilhação, ante a solícita subserviência das nossas autoridades.
Para o voo anterior, a TAP alegou que não transportou passageiros moçambicanos porque a autorização tinha sido dada em cima da hora e não teve tempo de comercializar bilhetes. As autorizações para voos desta natureza são dadas com 72 horas de antecedência. Foi sugerido à TAP que, em caso de voo de emergência, comercializasse passagens com antecedência e tivesse, inclusive, uma lista de passageiros. Mas isso não foi feito e o avião vem amanhã vazio. Que luxo!
Isto é simplesmente revoltante! Uma vergonha do tamanho do Mundo. Shame on you TAP!