Confrontos armados na vila de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, estão desde a madrugada de sábado a provocar a fuga da população, três meses depois de uma invasão por rebeldes.
Residentes descreveram que os militares moçambicanos estavam a combater grupos armados que se supõe serem os mesmos que em 23 de março ocuparam a vila costeira durante um dia, numa ação depois reivindicada pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico.
Em pelo menos dois dos depoimentos é relatado que há mortes na sequência dos confrontos, mas sem mais detalhes.
Este é o maior confronto de que há relato em Cabo Delgado desde a ocupação por insurgentes da vila de Macomia, entre 28 e 30 de maio, e consequente confrontação com as forças de defesa e segurança moçambicanas.
Mocímboa da Praia é uma das principais vilas da província, situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.
Um residente relatou que os estrondos de armas e disparos começaram nos subúrbios da localidade durante a madrugada.
Dadas as experiências anteriores, logo ao ouvirem os primeiros disparos, começou a debandada dos moradores para o mato e para o porto, relatou.
Até às 13:00 (12:00 em Lisboa), um dos residentes disse ter visto algumas instalações queimadas na escola secundária da vila, assim como danos na casa protocolar do administrador e descreveu também haver helicópteros e carros militares das forças moçambicanas em ação.
Pela mesma hora, um morador mostrava estar num barco cheio de gente em fuga, posicionando-se ao largo da vila e aguardando pela evolução da situação para decidir se regressavam, ou se se refugiavam noutra ilha.
É relatado haver sempre som de armas de fogo, mas sem que os confrontos tenham chegado ao centro da vila, mantendo-se sobretudo nos bairros em redor.
“O meu pai ligou-me para avisar que queimaram as suas duas casas. Acredito que mataram muita gente”, disse à Lusa fonte local que também fugiu para o mato devido aos confrontos.
“Saí a pé, logo cedo. Estávamos só a ver a fumaça”, acrescentou.
A Lusa contactou o porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique, Orlando Modumane, que remeteu quaisquer esclarecimentos para comunicados a emitir pelo comando conjunto de operações.
Mocímboa da Praia foi ocupada por um dia, em 23 de março, por rebeldes armados que destruíram várias infraestruturas numa ação reivindicada pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico.
Na altura, o grupo disse ter invadido cinco posições do exército e polícia moçambicanos, apreendido armas e provocado dezenas de mortes e feridos.
As autoridades anunciaram ter retomado o controlo da vila em 24 de março, numa altura em que parte da população já tinha fugido para o mato, estimando-se que a vila concentrasse cerca de metade dos 124.000 habitantes do distrito.
Depois de Mocímboa da Praia, os confrontos armados levaram nos meses seguintes à ocupação temporária por insurgentes das vilas de Quissanga, Muidumbe e Macomia - esta no final de maio, altura em que as forças moçambicanas anunciaram ter abatido 78 terroristas, entre os quais, dois cabecilhas.
A violência armada dos últimos dois anos e meio já terá provocado a morte de, pelo menos, 700 pessoas e uma crise humanitária que afeta cerca de 211.000 residentes.
As Nações Unidas lançaram, no início de junho, um apelo de 35 milhões de dólares (30 milhões de euros) à comunidade internacional para um Plano de Resposta Rápida para Cabo Delgado para ser aplicado de maio a dezembro. (Lusa)