Desde que o Governo decretou, no passado dia 8 de Abril, o uso obrigatório das máscaras nos transportes públicos e espaços aglomerados, cresceu o número de alfaiates que se dedicam à produção massiva e exclusiva de máscaras, de modo a responder à crescente procura deste material de protecção, devido à sua escassez e elevado custo nas farmácias – há farmácias que vendem uma máscara a 300 Mts.
Sem nenhuma orientação e/ou incentivo por parte do Governo, os alfaiates viraram as suas atenções à produção de máscaras, na base da capulana. Anísio Mulungo, de 39 anos de idade, que costura roupa no Mercado Xiquelene, na cidade de Maputo, revela que, desde que o Governo decretou o uso obrigatório das máscaras, abdicou de fazer o que sabe fazer há muitos anos (costurar roupas) para se dedicar especialmente à produção de máscaras, sobretudo pelo facto de desenvolver a sua actividade num espaço de maior aglomeração de pessoas.
“Por dia consigo fazer mais de 100 máscaras. Numa capulana, consigo produzir 50 a 60 máscaras, dependendo do tamanho da capulana”, disse a fonte, em conversa com “Carta”, explicando que vende cada máscara a 50 Mts.
“Compro a capulana a 250 Mts e vendo cada máscara a 50 Mts. O preço tem em conta a aquisição de todos os materiais, os elásticos, o foro e algodão”, explicou Mulungo, garantindo que costura as máscaras, obedecendo às recomendações do sector da saúde: o uso de três camadas.
Para entender como tem sido a vida dos alfaiates, neste momento, a “Carta” conversou com Isaura Macamo, de 53 anos de idade, que contou que, com a suspensão de festas de casamento, baptismo, entre outros eventos, não lhe resta outra actividade, além de produzir máscaras.
“Depois que o Governo decidiu sobre o uso obrigatório das máscaras, passei a ter solicitações de grande volume, sobretudo porque tenho recebido encomendas de empresas que necessitam de máscaras para seus trabalhadores”, contou Macamo, sublinhando que vende cada máscara a 75 Mts.
“É desta forma como consigo sobreviver à crise do coronavírus”, rematou a alfaiate, que costura roupas, a partir da sua casa no bairro de Hulene B, arredores da capital do país.
Sobre o mesmo negócio, Alfredo Nhassengo, de 36 anos de idade, que costura roupa no Mercado do Xipamanine, disse: “desde a eclosão deste vírus, no nosso país, em algum momento veio-me o desespero do que podia fazer para continuar a sobreviver. Daí que surgiu a ideia de produzir máscaras”.
Nhassengo diz vender as máscaras a 35 Mts, de modo a acelerar a sua venda, tomando em conta o momento de crise que o país vive.
Por sua vez, Gabriel de Abreu, um alfaiate do mercado Vulcano, arredores da cidade de Maputo, explicou à nossa reportagem que, nos últimos dias, está a tentar ganhar a vida, vendendo máscaras, porém, não tem sido fácil porque “já passaram dois grupos de activistas, fazendo a distribuição de máscaras de forma gratuita e, apesar de vender por 25 Mts, não consigo clientes”.
Já Gabriel Afonso, de 39 anos, também vendedor do mercado Vulcano contou à “Carta” que, por haver pouca procura, naquele mercado, optou em usar pedaços de capulanas para fazer roupas de capulana.
“Eu uso restos de capulanas para produzir as máscaras que vendo, porque não tenho dinheiro para comprar capulanas. Num dia consigo vender duas a três máscaras, só para conseguir dinheiro para o caril, por isso, penso que o governo devia pensar numa forma de nos ajudar”, afirmou.
Inês Caetano, de 54 anos de idade, viúva e mãe de cinco filhos, residente no bairro Luís Cabral, disse à “Carta” que, para conquistar clientes, optou por produzir máscaras em grande quantidade e circular pelos bairros da capital do país. Os passageiros desprevenidos são os seus principais clientes.
“Nas paragens, há sempre pessoas que esquecem máscaras em casa ou nem têm. Então, são essas pessoas que acabam comprando ao preço de 20 Mts para conseguir apanhar chapa. Ninguém se preocupa em lavar, as pessoas compram e colocam a máscara imediatamente”, narrou, revelando que consegue vender 10 máscaras por dia.
Questionado pela “Carta”, se o Governo tinha algum plano de distribuição de máscaras, tal como acontece nos outros países do mundo, o Director-adjunto do Instituto Nacional da Saúde (INS), Eduardo Samo Gudo, respondeu que não é da responsabilidade do Ministério da Saúde (MISAU) distribuir máscaras aos cidadãos.
Ao Governo, explicou ele, cabe desenhar estratégias para apoiar a população e cabe também a cada um dos moçambicanos solidarizar-se com outro, produzindo este material de protecção em grandes quantidades para oferecer seus vizinhos e familiares. (Marta Afonso)