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sexta-feira, 03 abril 2020 06:34

Covid-19: Confinamento total pode custar 2,1 biliões de Mts por dia – alerta o IESE

Moçambique cumpre, hoje, o seu terceiro dia de Emergência Nacional, dos 30 decretados, face à propagação da pandemia da Covid-19, que eclodiu na China, em Dezembro passado, e que já infectou mais de um milhão de pessoas, em todo o mundo, dos quais cerca de 52 mil já foram declarados óbitos.

 

Decretado pelo Chefe de Estado, na passada segunda-feira, 30 de Março de 2020, o Estado de Emergência, que teve início às 00:00 horas do dia 01 de Abril, corresponde à “Fase 3” do Plano de combate à Covid-19, no qual o Governo restringe a aglomeração de mais de 10 pessoas; restringe severamente a aglomeração no sector comercial; obriga a redução severa de funcionários em regime presencial (introduzindo a rotatividade); e proíbe a organização de todos os eventos desportivos, culturais, religiosos e políticos, excepto os que forem de interesse supremo do Estado.

 

Enquanto os cidadãos fazem as contas de como serão as suas vidas nos próximos dias, face ao cenário que o país e o mundo atravessam, o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) já calculou o que o país poderá perder, caso active a “Fase 4” do Plano de Combate da Covid-19, no qual o Governo proíbe os cidadãos de sair de casa; decreta o encerramento de toda a actividade no sector público, privado e comercial, assim como proíbe viagens.

 

De acordo com aquela organização académica, caso Moçambique opte pelo confinamento total, também conhecido como lockdown, poderá registar prejuízos em torno de 2,1 mil milhões de Meticais por dia, associados à paralisação total de actividades como agricultura (comercial), pesca, construção, alojamento e outras, como sendo as mais afectadas.

 

As previsões do IESE baseiam-se nos dados do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), e constam do mais recente Boletim da organização (IDEIAS), publicado esta terça-feira, 01 de Abril. “Assumindo que o PIB de 2018 (887,9 mil milhões) cresceria a uma taxa média anual de 5% até ao ano 2020, o PIB de Moçambique, aos 31 de Dezembro de 2020, alcançaria cerca de 978,8 mil milhões de Meticais. Em média, este PIB significa que Moçambique estaria a produzir 2,7 mil milhões de Meticais por dia (ou 89,4 Meticais per capita/dia)”, explica a fonte.

 

“No contexto da COVID-19, assumindo um nível constante de produção, Moçambique poderá registar prejuízos em torno de 2,1 mil milhões de Meticais por dia, associados à paralisação total de actividades como agricultura (comercial), pesca, construção, alojamento e outras assinaladas, como sendo as mais afectadas. Para um período de confinamento nacional de 21 dias [adoptado pela África do Sul], o prejuízo se aproxima a cerca de 43,3 mil milhões de Meticais (1444 Meticais per capita)”, defende, sublinhando que o impacto económico duma pandemia depende, pelo menos, de dois factores: o tempo de duração e as medidas tomadas para contê-la.

 

Por essa razão, o IESE considera a Covid-19 como um desafio económico para o país, devido à natureza do seu crescimento e desenvolvimento económico e aponta três razões. “Primeiro, o investimento é dependente da poupança externa (empréstimos, donativos e investimento estrangeiro). Assim, choques globais, como o provocado pelo ambiente de incerteza, devido ao surto da COVID-19, podem reduzir o fluxo de investimentos, donativos e empréstimos para Moçambique e, consequentemente, reduzir o emprego e o crescimento económico”, explica a fonte.

 

A segunda razão está relacionada com o consumo, que é dependente das importações, pelo que, “choques na oferta de bens e serviços noutros países facilmente se reflectem na redução da oferta de bens no mercado nacional, o que tem como resultado a subida generalizada de preços e aumento do custo de vida”.

 

Por fim, o IESE aponta a produtividade da população como outra razão que desafia a economia nacional. “A produtividade da população é demasiado baixa e a maior parte da força de trabalho (8,2 milhões em 2017) está concentrada na agricultura (INE, 2019). O alastramento da COVID-19 para este grupo populacional pode ter efeitos nefastos na economia, pois, a maior parte da força de trabalho (quase 5 milhões) vive na zona rural, caracterizada pela ausência de poupança e baixo acesso a infra-estruturas e serviços de saúde. Assim, medidas de prevenção como o confinamento total poderão ser pouco eficazes, pois, a maior parte da população vir-se-á obrigada a realizar algum tipo de actividade (ir à machamba, ao poço, ou ao comércio) para garantir o sustento”, perspectiva o IESE.

 

“Sendo a agricultura de subsistência intensiva em mão-de-obra, o alastramento de casos de doenças (tal como outros factores, nomeadamente, os conflitos armados no centro e norte de Moçambique) capaz de reduzir a força de trabalho no sector agrário, devido à precariedade das condições de saúde, alimentação e segurança, pode arrastar o país a uma crise humanitária”, considera o IESE, sublinhando que a redução da força de trabalho vai também afectar negativamente pessoas vulneráveis como as crianças (14 milhões), idosos (1,3 milhão) e pessoas com deficiência (728 mil), que representam cerca de 53% da população moçambicana.

 

Refira-se que, até esta quinta-feira, o país já tinha confirmado 10 casos de infecção pelo novo coronavírus, num conjunto de 302 casos suspeitos. Dos infectados, sete são casos importados e três de transmissão local. Também já tinham sido confirmados um total de 188 pessoas que tiveram contacto com os casos já confirmados da Covid-19. (A.M.)

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