Parece ter fracassado mais uma tentativa de retirar os vendedores informais das artérias da cidade capital, Maputo. Nem as balas reais (disparadas para ar), de borracha, gás lacrimogéneo ou ainda as vigorosas chambocadas impediram os vendedores informais de “voltarem” aos seus “postos de trabalho”, ao longo das avenidas da cidade de Maputo, depois de uma manhã (de sexta-feira) verdadeiramente marcada por uma confrontação descomunal.
Aliás, o anterior Presidente do Conselho Autárquico da Cidade de Maputo, David Simango, chegou a dar um prazo de 48 horas para que os vendedores informais abandonassem as artérias da cidade, mas ninguém acatou a ordem.
A baixa da cidade acordou, na última sexta-feira, praticamente em “chamas”. Por um lado, estavam os vendedores informais (ávidos em não vergar à decisão da edilidade) e, do outro lado da barricada, os agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), nas suas mais variadas especialidades e armandos até aos dentes. A estes últimos, a orientação era uma e única: rechaçar toda e qualquer tentativa de perturbação da ordem e tranquilidade públicas, com o uso da força no topo, dentre as várias medidas de polícia.
Mesmo depois das “chambocadas” e destruição das suas “bancas”, isto no período da manhã, os vendedores informais resistiram e, no período da tarde, embora que de forma tímida, voltaram a ocupar algumas ruas de Maputo. Este domingo, numa ronda rápida, a “Carta de Moçambique” escalou a Av. Guerra Popular (o maior centro comercial) e foi possível ver, embora em número reduzido, alguns vendedores informais desenvolvendo as suas actividades.
A baixa da cidade de Maputo ainda carrega as marcas dos tumultos da passada sexta-feira, sendo que ainda é possível alguns objectos usados para obstruir a circulação, sobretudo de viaturas, espalhados ou amontoados nalguns pontos.
O centro da venda informal na cidade de Maputo são as avenidas Guerra Popular, 25 de Setembro, 24 de Julho, Albert Lithuli, Eduardo Mondlane, Karl Marx, Fernão Magalhães, Samora Machel, Zedequias Manganhela e Filipe Samuel Magaia.
Aliás, importa salientar que as confrontações, na última sexta-feira, só cessaram, precisamente, quando a edilidade, sem espaço para manobra, decidiu reunir com a Associação dos Trabalhadores Informais (ASSOTSI).
E porque haviam ganho, pelo menos a batalha, os vendedores não se coibiram de celebrar com júbilo e regozijo mais uma vitória. Nos cânticos, o actual presidente da edilidade de Maputo, Eneas da Conceição Comiche, era o principal visado.
Entretanto, o Conselho Autárquico de Maputo garantiu que tudo fará para organizar a venda informal, reiterando a proibição do exercício da actividade nos passeios, estradas e em outros locais impróprios.
Albertina Tivane, porta-voz do CACM, sublinhou que a edilidade não é apologista da violência, mas sim do diálogo. Tivane atirou, igualmente, que espera total colaboração dos vendedores. A discussão sobre a desocupação dos locais impróprios, vincou a porta-voz do CACM, iniciou há cerca de um ano.
A edilidade diz que existem pouco mais de 4700 bancas e barracas vazias nos mercados da cidade de Maputo, daí não encontrar qualquer fundamento para o exercício do comércio em locais inapropriados.
Por outro lado, Ramos Marrengula, presidente da Associação dos Trabalhadores Informais (ASSOTSI), acusou a Polícia de ter sido pivot da confusão, isto porque, logo nas primeiras horas, começou a recolher os bens dos vendedores. Marrengula disse ainda que a retirada das ruas vem sendo concertada com os vendedores e que já há locais identificados. (Carta)