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BCI
quinta-feira, 16 janeiro 2020 06:04

“Precisamos de deixar de culpar os outros para explicar as nossas próprias dificuldades”, Filipe Nyusi

"Não podemos criticar nos outros, aquilo que achamos aceitável a nível pessoal. Transformar o mundo só pode acontecer quando tivermos a coragem de nos mudarmos a nós próprios. Os maiores constrangimentos, se queremos ser verdadeiros, estão dentro de nós, no nosso modo de pensar, de trabalhar e julgar o mundo. Precisamos de deixar de culpar os outros para explicar as nossas próprias dificuldades”. Estas foram as palavras encontradas por Filipe Jacinto Nyusi para iniciar a avaliação dos seus primeiros cinco anos de governação, iniciados a 15 de Janeiro de 2015.

 

Sem citar as “dívidas ocultas”, que motivaram a suspensão do apoio ao Orçamento de Estado pelos parceiros internacionais, em 2016, Filipe Nyusi justificou o seu desempenho no primeiro mandato com a seca prolongada que se verifica na zona sul; cheias na zona norte; ciclones tropicais (Idai e Kenneth), que tiveram lugar no último ano do seu mandato; a queda dos preços dos principais produtos de exportação no mercado internacional; a suspensão do apoio ao Orçamento de Estado pelos parceiros internacionais – sem explicar os motivos – e os ataques militares que se verificam na zona centro do país e na província de Cabo Delgado.

 

Segundo o Chefe de Estado, o peso conjugado de todos estes factores “poderia criar condições para que a nossa governação não desse certo”, porém, “fomos capazes não apenas de resistir, mas de manter a mão segura no leme do barco onde todos nós viajamos”.

 

Filipe Jacinto Nyusi foi investido esta quarta-feira, 15 de Janeiro de 2020, para mais um mandato na Alta Magistratura da Nação Moçambicana: a Presidência da República. Eram 10 horas e 43 minutos, quando o Estadista moçambicano, reeleito no escrutínio do passado dia 15 de Outubro de 2019, jurou, por sua honra, “respeitar e fazer respeitar a Constituição, desempenhar com fidelidade o cargo de Presidente da República de Moçambique, dedicar todas as minhas energias à defesa, promoção e consolidação da unidade nacional, dos direitos humanos, da democracia e ao bem-estar do povo moçambicano e fazer justiça a todos os cidadãos”.

 

O juramento, prestado perante os deputados da Assembleia da República, titulares dos órgãos de soberania e Chefes de Estados e de Governos de alguns países, marcava assim o início de mais um mandato em frente dos destinos da República de Moçambique, depois de os ter conduzido entre os anos 2015-2019.

 

“Renovo o meu compromisso em respeitar a Constituição e actuar sempre como Presidente de todos os moçambicanos, sem distinção ou com base em simpatias, filiação política, região de origem, etnia, religião, género, raça ou outro tipo de descriminação”, garantiu a fonte, no seu primeiro discurso como Chefe de Estado e Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS) para o presente quinquénio: 2020-2024.

 

No seu discurso, proferido em quase uma hora, a partir da Praça da Independência, na capital moçambicana, Maputo, local onde decorreu a cerimónia de investidura, Nyusi reiterou o compromisso assumido a 15 de Janeiro de 2015, quando recebeu, pela primeira vez, os símbolos do poder (Bandeira Nacional, Constituição da República, Emblema Nacional, Pavilhão Presidencial e Martelo), de “trabalhar pelo Moçambique que todos sonhamos”.

 

Assim, assegurou o Chefe de Estado, “a nossa agenda é desenvolver Moçambique” e sublinha que “esse desenvolvimento não seja feito à custa da injustiça, da prepotência e da desigualdade”.

 

Segundo Filipe Nyusi, a visão apresentada em 2015 foi considerada “ambiciosa”, com uma “fasquia demasiado elevada”, porém, terminado o primeiro ciclo de governação, “podemos afirmar que esses nossos compromissos estiveram à altura da vontade e da capacidade de realização dos moçambicanos”.

 

“Dissemos, por exemplo, que faríamos prevalecer o diálogo construtivo com todas as forças vivas da nossa sociedade. Dissemos então que teríamos de instalar em todo o país uma cultura que recusasse a intolerância, de uma cultura que recusasse o ódio. Se queríamos paz não podíamos continuar a ver a diferença política como um motivo ameaça”, elencou algumas promessas, para depois anunciar alguns dos resultados conquistados.

 

“As negociações iniciadas com o falecido Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, permitiram dar um passo importante para a paz e estabilidade política. Essa foi a plataforma que permitiu a assinatura do Acordo de Cessação das Hostilidades e o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Os consensos alcançados conduziram à tomada de medidas concretas, como a aprovação dos pacotes relativos à descentralização”, defendeu o Chefe de Estado.

 

Para o Presidente da República, a paz “foi e será a nossa prioridade absoluta”. Neste mandato, assegura Nyusi, continuará a apostar na preservação da paz como condição indispensável do desenvolvimento.

 

“Continuaremos, nem que isso nos custe a vida, a defender e promover a paz. Estimularemos o diálogo franco e aberto como mecanismo privilegiado de prevenção e resolução de conflitos e promoção da coesão nacional. Continuaremos a implementar acções que visam a valorização da nossa diversidade etnolinguística, religiosa e racial como nação una e indivisível e orgulhosa da sua diversidade. A nossa soberania não será nunca negociada ou hipoteca”, garantiu Filipe Nyusi perante mais de cinco mil pessoas presentes na Praça da Independência, entre convidados, jornalistas, seguranças e anónimos.

 

Num discurso quase contraditório à realidade vivida nos primeiros cinco anos de governação, em que académicos e membros de partidos políticos da oposição foram agredidos e outros assassinados por criticarem a governação do “dia”, Filipe Nyusi insistiu que não se pode ter medo de “quem pensa diferente”.

 

“O pensar diferente é uma riqueza. É no pensar diferente que encontramos alternativas para solucionar os nossos problemas. Os tratados e acordos são imprescindíveis para sanar conflitos. Mas, é no respeito pelos que pensam diferente que está o segredo da verdadeira reconciliação dos irmãos moçambicanos”, defendeu.

 

Aliás, no seu discurso, Nyusi fez questão de “saudar” os cidadãos que não votaram no seu projecto de governação, afirmando que “uma nação é feita destas diferenças”. “De uma vez por todas, temos de tomar essas diferenças como uma mais-valia para aquilo que é o nosso destino comum e que é sempre uma nação, onde todos se sintam em casa, onde todos sejam parte da mesma família”.

 

Lembre-se que Filipe Nyusi foi investido no cargo de Presidente da República, após vencer as VI Eleições Presidenciais que tiveram lugar no passado dia 15 de Outubro de 2019, com 73% do total dos votos, validamente expressos. Em segundo lugar, com 21,88%, esteve o Presidente da Renamo, Ossufo Momade, enquanto Daviz Simango, Líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), obteve 4,38%. Mário Albino, candidato pela Ação de Movimento Unido para Salvação Integral (AMUSI), conquistou apenas 0,73%. (Abílio Maolela)

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