Ontem na abertura da nona legislatura, Filipe Nyusi (que é empossado amanhã para seu segundo ciclo) fez uso daquele seu discurso da esperança ficcionada. Ele disse que a Frelimo, sua bancada com maioria qualificada, pode usar dessa circunstância actual para evitar a ditadura do voto (minhas palavras) e buscar consensos com a oposição, legislando mais em função dos interesses do povo e menos em função de seus interesses particulares. Seus correligionários aplaudiram!
Mas a cadência do “clap” era uma música mentirosa. Nunca a Frelimo procurou consensos com a oposição. Nunca, a não ser quando se tratou de legislar suas gordas mordomias ante o sofrimento do povo. Só acreditaríamos na promessa de Nyusi se a Frelimo, agora com sua maioria retumbante, legislasse, logo na sua primeira sessão, o corte de mordomias dos deputados. Tipo, em tempo de austeridade, o Estado não tem verba para novas viaturas. Se fizessem isso, estariam a dar à esperança de Nyusi algum toque de realismo!
Os próximos meses vão ser de uma maior arrogância par(a)lamentar, sem paralelo. A Frelimo está habituada a espezinhar a oposição e quem, dentro da sua máquina, ousa pensar diferente (que o diga Samora Machel Júnior). No passado, com sua maioria absoluta, o partido legislou contra o povo, como no caso do calote, e nunca viabilizou uma única proposta legislativa da oposição. Não cremos que, agora com maioria qualificada, a Frelimo mostre comportamento distinto.
O discurso de Nsuyi foi pensado para afastar os temores de uma revisão constitucional que lhe dê espaço para voos futuros. Uma coisa impensável na actual correlação de forcas dentro do partido, mas sempre tentadora. E por isso, por ser tentadora, a Comissão Política colocou Esperança Bias, uma guebuzista que regressa ao centro do poder dentro do partido.
Seja como for, esta legislatura vai ser a mais sectária. O discurso de Nyusi valeu apenas por seu tom simpático. Foi como seu discurso inaugural de 2015. Uma panóplia ilusionista. Ontem, ele ainda se esqueceu de uma coisa. Podia ter dito que a Frelimo está aberta a trabalhar com as organizações da sociedade civil, incluindo legislar suas propostas. Isso sim, seria um golpe certeiro. Mas, infelizmente, esta classe política que nos governa e sua franja de deputados ainda não está preparada para mais democracia.(M.M.)