O calor intenso que se faz sentir na Cidade de Maputo tem estado a prejudicar mais de 700 produtores de frangos que operam nesta parcela do país. Dados facultados ontem pela Presidente da Associação dos Avicultores de Maputo, Fátima Mussagy, indicam que, desde Agosto passado (altura em que o calor começou a intensificar-se), a classe já perdeu 18 mil frangos – correspondente a 27 toneladas – o que representa um prejuízo de 3.6 milhões de Meticais (Mts), à razão de 200 Mts por frango.
“O calor que, actualmente, se faz sentir está a dizimar milhares de frangos. Em causa está a falta de aviários climatizados. Esta situação prejudica, acima de tudo, os pequenos avicultores”, lamentou Mussagy.
Segundo a Presidente da Associação, nos últimos anos, o calor tem sido tão intenso que supera as médias de temperatura que se registavam nos anos 90, altura em que grande parte dos avicultores começou a fazer o negócio. “Na década de 90, o calor era forte, mas lembro-me que começou a intensificar-se a partir de 2013, ano que registou mais de 40º. A temperatura foi aumentando gradualmente até hoje”, explicou a nossa interlocutora.
Em verdade, dados que têm sido partilhados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) indicam que, durante o pico do verão, as temperaturas chegam a ultrapassar 40 graus.
Para além da Presidente da Associação, “Carta” chegou à fala com alguns produtores. Os relatos que nos descreveram mostram a gravidade da situação.
Pelo menos quatro avicultores interpelados pelo jornal disseram que, no passado mês de Dezembro, por causa do calor intenso, registaram perdas de mais de dois mil pintos/frangos, o que representa um prejuízo em perto de meio milhão de Mts, à razão de 200 Mts por frango.
Os quatro entrevistados têm pelo menos três características em comum. A primeira é que começaram a praticar avicultura na década de 90. O grupo é, igualmente, unânime em afirmar que, em comparação com os primeiros anos, actualmente o calor é mais severo e mata milhares de pintos. Já o terceiro aspecto é que os quatro têm na avicultura o principal sustento das suas famílias.
Entretanto, dos avicultores por nós interpelados há pelo menos dois aspectos que não lhes são comuns: a variação das perdas e os prejuízos acumulados por causa das altas temperaturas.
Ora vejamos, Lázaro Mateus, pequeno avicultor no Bairro de Magoanine C, contou à nossa reportagem que, durante o mês de Dezembro passado, perdeu 250 pintos, o que arruinou o seu lucro em perto de 53 mil Mts, à razão de 210 Mts por frango vivo, aos revendedores dos diferentes mercados da capital. Mateus tem a capacidade de produzir, por ciclo, 2.5 mil frangos.
Já Madina Madane, do Bairro de Albazine, tem capacidade para produzir 3 mil frangos por ciclo. A avicultora lamentou que, devido ao calor, em Novembro passado, perdeu 168 frangos (vendidos a 190 Mts cada), enquanto no mês seguinte perdeu 56 frangos, sendo que cada um deles custaria 200 Mts. Madane sumarizou que as perdas foram de mais de 14 mil Mts, incluindo os custos dos insumos.
Interpelamos, igualmente, Daniel Mabunda, que pratica a avicultura desde 1997, com capacidade para produzir 3 mil frangos, actualmente. À altura da conversa com “Carta”, a fonte disse que se preparava para adquirir novos pintos, após vender quase todos durante a quadra festiva. “Contudo, no mês de Dezembro perdi 230 pintos. E isso é muito. Como consequência, do lucro perdi quase 60 mil, incluindo os custos de produção”, explicou a fonte.
Dina Valda é avicultora associada à empresa Higest, um matadouro. Contou que começou a fazer o negócio há 20 anos, com 2 mil frangos, mas que actualmente tem uma capacidade instalada para produzir pouco mais de 20 mil frangos por ciclo. Para além de Bobole, arredores de Maputo, Valda produz também em outros locais na cidade de Maputo.
A avicultora relatou que, em Dezembro, perdeu em todos os locais de produção 800 frangos por conta do calor. “Como consequência, não tive salário e, por conta disso, ainda acumulei uma dívida com a empresa. Desde 2014 que trabalho com a Higest, tenho uma dívida acumulada de 300 mil Mts”, queixou-se a fonte.
Para além das altas temperaturas, os avicultores queixam-se ainda da falta do mercado, dada a quantidade de importação daquele produto. Associado a isso, os produtores de frango reclamam também a falta de uma linha de crédito dedicada à classe, para além da ausência de matadouros públicos.
De acordo com a Presidente da Associação, Fátima Mussagy, esses desafios têm levado muitos avicultores na cidade de Maputo à falência. Assim, para minimizar o problema, Mussagy – que também é avicultora – instou mais uma vez o Governo a criar uma linha de crédito direccionada aos produtores de frango, para que, com base nesses fundos, estes possam climatizar os seus aviários, o que é, aliás, o principal desafio de todos. Mussagy assinalou que o fundo, aliado aos matadouros, iria, sem reservas, incrementar a produção e processamento do frango nacional e, assim, Moçambique pararia de depender do exterior. (Evaristo Chilingue)