Oficiais da Marinha de Guerra das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) impediram a entrada, no último sábado (14), na costa moçambicana, de um navio carregando mais de 1500 quilogramas de heroína.
Supostamente proveniente do Irão, a embarcação foi, deliberadamente, incendiada pelos respectivos ocupantes (com recurso a uma botija de gás), quando os mesmos se aperceberam que não tinham hipóteses de escapar à acção das forças moçambicanas.
Eram 15 os ocupantes do barco incendiado, sendo que 12 saltaram ao mar (tendo sido resgatados) e três morreram durante o processo de fuga.
Conforme apuramos de fontes envolvidas na operação, tudo ocorreu entre as 10 e as 12hrs do último sábado. O grupo de alegados traficantes pretendia fazer entrar no país as quantidades de droga acima mencionadas, através do corredor de Pemba.
De acordo com uma das fontes ouvidas pela “Carta”, o uso desta táctica (de incendiar o barco) visou destruir evidências e evitar a prisão dos ocupantes.
O grupo foi interceptado a 30 milhas da costa marítima moçambicana, e os 12 cidadãos resgatados (todos de nacionalidade iraniana) encontram-se detidos na cidade de Pemba, onde de acordo com a fonte serão acusados de tráfico internacional de drogas.
A nossa fonte assegurou-nos que esta operação baseou-se numa acção de inteligência coordenada entre os diferentes intervenientes no combate ao tráfico de droga, que nos últimos tempos tem flagelado Moçambique, e em consequência do que já foram detidos vários cidadãos de diferentes nacionalidades, em aeroportos, fronteiras marítimas e terrestres.
A quantidade de droga incendiada no navio, pelos traficantes iranianos, equivale a (quantidade) que entra mensalmente em Moçambique. Ou seja, estima-se que todos os meses entrem, através da costa moçambicana, cerca de 1500 quilogramas de heroína, provenientes de diferentes países da Ásia, principalmente do Afeganistão.
Aliás, é de referir que esta “operação” só vem sedimentar os relatórios internacionais que colocam Moçambique como um dos corredores principais do tráfico de heroína, cocaína e outras drogas, a nível mundial.
Diante da situação, “Carta” procurou ouvir ontem o Porta-voz do SERNIC. Leonardo Simbine disse, no entanto, que devido à sensibilidade do assunto não poderia falar telefonicamente, tendo-nos garantido que a sua instituição se irá pronunciar durante a semana.
Lembre-se que, na senda do combate ao tráfico, o SERNIC incinerou, no passado dia 23 de Outubro em Maputo, 543.793 kg de diversos tipos de drogas apreendidas, entre Julho de 2018 a Outubro de 2019, só em Maputo. À data foi revelado que 319 indivíduos estavam detidos em conexão com esta tipologia de crime, sendo destes 33 estrangeiros e 286 moçambicanos.
Na ocasião, Rainha Joaquim Gamboa, Inspectora de Investigação e Instrução Criminal a nível da cidade de Maputo, disse que a instituição tinha instaurado 223 processos, sendo que 120 já teriam sido concluídos e remetidos à Procuradoria.
De salientar ainda que, na senda das detenções e condenações ligadas ao tráfico internacional de drogas, a 28 de Novembro último, a 7ª Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM) condenou William Vito, cidadão americano de 85 anos de idade, a 16 anos de prisão efectiva, após o que será expulso do país.
Segundo reportamos e ficou provado durante a leitura da sentença, Vito foi detido no Aeroporto Internacional de Maputo, no passado dia 27 de Maio do presente ano, na posse de 3kg de cocaína e 2kg de heroína quando pretendia embarcar para França.
Refira-se que organizações como o Escritório das Nações Unidas e Crime (UNODC) em Moçambique têm-se mostrado preocupadas com a proliferação de drogas pesadas em Moçambique, estando a desenvolver diferentes actividades para reverter a situação que coloca o nome do país na lista negra dos assolados pela calamidade. (O.O.)