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sexta-feira, 05 julho 2019 06:20

Caso dos agentes da guarda fronteira: PRM diz que não há nada a partilhar porque ainda aguarda relatório preliminar sul-africano

O caso do baleamento dos dois agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), da especialidade de Guarda Fronteira, entra, esta sexta-feira, para o décimo nono dia. Com intuito de inteirar-se sobre o andamento das investigações iniciadas imediatamente após o sucedido, “Carta” chegou, na manhã de quarta-feira (17º dia), à fala com o porta-voz da PRM, Orlando Mudumane.

 

 

Na breve conversa que manteve com o nosso jornal, Orlando Mudumane foi directo e categórico. Nada de concreto há ainda para partilhar com a comunicação social, no que respeita ao caso dos dois agentes mortos na fronteira da Ponta D’ Ouro e que, no entanto, as investigações tendo em vista o esclarecimento do mesmo prosseguem.

 

A ausência de qualquer informação passível de ser partilhada, explicou Mudumane, funda-se, essencialmente, em dois pressupostos. O primeiro, de a contra parte, no caso a África do Sul, país dos autores dos disparos, ter pedido mais tempo para a produção e elaboração do relatório preliminar sobre as reais motivações e circunstâncias que culminaram com a morte dos dois agentes. Segundo, no facto de a PRM ainda estar no processo de recolha e análise das informações de que actualmente dispõem, entretanto, prontamente recusada de ser partilhada alegadamente porque “comprometeria o bom andamento das investigações”.

 

Aliás, a fonte policial recomendou que se aguardasse pelos resultados da investigação que está a ser levada a cabo pelas Forças Armadas de Defesa da África do Sul, alegando que elas tinham o papel-chave por terem, em sua posse, os indivíduos que protagonizaram aqueles actos. Anotou ainda que a informação preliminar moçambicana está dependente, em grande medida, daquela que virá do trabalho desenvolvido pela parte sul-africana.       

       

“Todas as informações recolhidas pela PRM estão a ser trabalhadas, que é para se encontrar uma informação que tenha 80 por cento da veracidade dos factos. Pedimos a parte sul-africana para que nos desse o relatório preliminar porque eles têm os agentes vivos. Eles solicitaram um pouco mais de tempo por perceberem que o assunto é complexo. Então, aguardemos que a parte sul-africana, que tem maior quota-parte, para trazer toda a verdade material, porque as pessoas que estiveram no local do facto estão vivas. Do lado de Moçambique está a ser feito o trabalho, mas essa investigação não é para ser tornada pública. Não há nenhuma informação preliminar por parte de Moçambique que pode ser tornada pública. Há várias informações que estão a ser recolhidas pelas equipas que estão no terreno. A nossa informação depende, acima de tudo, do que a outra parte vai dizer”, atirou Mudumane.

 

Apesar de, publicamente, se colocar pouco crédito na informação que poderá vir do relatório preliminar a ser elaborado pelas forças da vizinha África do Sul, por se entender que esta última encontra-se numa clara situação de conflito de interesses, Mudumane tem uma outra visão sobre o assunto. Diz ele que as autoridades militares da Africa do Sul “são sérias e rigorosas” e que, por via disso, acreditava que irão apresentar informação “séria e clara”.

 

“Nós entendemos que as autoridades militares sul-africanas são sérias e rigorosas. Entendemos que aquele foi um acto isolado daqueles dois agentes e não a mando das autoridades sul-africanas, por isso nós acreditamos que eles vão trazer uma informação séria e clara”, disse.

 

Adiante, “Carta” questionou, ao porta-voz da PRM, se haviam já sido identificados os militares sul-africanos que balearam Benício Guiruta e Faustino Monteiro, ao que, prontamente, respondeu que, até esta quarta-feira, desconhecia a identidade dos agentes.  

 

Sobre a necessidade de os agentes que alvejaram os dois agentes serem julgados, em Moçambique, e ainda cumprirem as respectivas penas em solo pátrio, Mudumane reagiu nos seguintes termos: “O que virá, a posterior, irá depender muito das informações que estão a ser trabalhadas. Existem instrumentos internacionais que podem ser activados. Se for o caso, acreditamos que sim. Mas, esperemos que as equipas dos dois lados, Moçambique e África do Sul, tragam uma informação”.

 

Num outro desenvolvimento, o porta-voz da PRM tratou de desvalorizar as declarações proferidas por um alto quadro da Forças Armadas da África do Sul que apontou que os agentes teriam sido baleados na terra de ninguém, afirmando que estes foram mortos no território nacional e os vestígios recolhidos no local fazem a melhor prova. 

 

“Mas, isto está claro. Os vestígios estão lá. As manchas de sangue estão a 50 metros da fronteira. Onde estão depositadas as flores, está lá. Isso não é discutível”, sentenciou.

 

Importa salientar que Benício Guirruta e Faustino Monteiro foram baleados no passado dia 16 Junho por militares sul-africanos, na região da Ponta D’Ouro, distrito de Matutuine, província de Maputo, alegadamente durante uma confrontação armada com estes últimos. (Carta)

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