O veterano político sul-africano Roelf Meyer, que desempenhou um papel fundamental na implementação da Constituição do país, juntou-se a um coro de especialistas que pede o estabelecimento de um Governo de Unidade Nacional (GUN) em Moçambique para acalmar as tensões políticas e criar estabilidade. “A solução para Moçambique é provavelmente um GUN, o que pode acontecer através do diálogo. A Frelimo, no entanto, resiste a essa possibilidade, reivindicando uma vitória absoluta. O país está a pagar um preço alto e continuará a pagar”, disse Meyer.
“Pelo que ouvi, acho que as pessoas estão fartas da Frelimo, muito parecido com o que aconteceu com a Zanu-FP no Zimbabwe. A diferença é que os zimbabueanos são punidos quando protestam ou vêm para a África do Sul”, disse.
Por outro lado, o economista político Sam Koma descreveu a situação em Moçambique como “um trágico lembrete de como as eleições são geridas nos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Esses países, excepto Botswana e África do Sul, têm um histórico de resultados eleitorais contestados. É importante que essas partes considerem o interesse nacional e ajam de forma colectiva para evitar uma grande agitação civil e catástrofe económica”, disse Koma.
Ele sublinhou que os partidos só poderiam alcançar a estabilidade se “considerassem a formação de um GUN com vista a garantir a partilha do poder”.
Um precedente foi estabelecido no Zimbabwe em 2004, após um resultado eleitoral contestado.
No mesmo diapasão, o professor de política da Universidade de Pretória, Roland Henwood, disse que um GUN em Moçambique só poderia funcionar “se todas as partes estivessem dispostas a se comprometer e trabalhar juntas, algo que a Frelimo deveria aceitar.
“A importância de uma eleição confiável está no cerne da crise. Para que um GUN seja estabelecido, o resultado da eleição terá de ser negociado, uma decisão muito difícil e não necessariamente o melhor resultado".
Frisou que a falta de reacção e orientação da SADC e de países como a África do Sul são indicativos da liderança pobre e egocêntrica que está no centro de muito do que está a acontecer. Henwood avançou que Moçambique entrou “num ciclo de instabilidade e as decisões dos líderes, especialmente no governo e nas instituições alinhadas com o governo, estão a inflamar a situação”.
“Isto é provavelmente o resultado de muitos anos de má governação, uma consequente perda de legitimidade e de confiança”, frisou.
Na segunda-feira, o Conselho Constitucional declarou Daniel Francisco Chapo, da Frelimo, vencedor das polémicas eleições de outubro, obtendo 65,17% dos votos.
O candidato da oposição, Venâncio Mondlane, que conseguiu 24,29%, acusou o partido no poder, Frelimo, de fraude eleitoral, rejeitando a decisão do Conselho Constitucional, com os seus apoiantes nas ruas de Maputo queimando pneus e bloqueando estradas. A tensão ainda é alimentada pelo reconhecimento de irregularidades nas eleições de outubro pelo Conselho Constitucional do país, mas mesmo assim declarou a Frelimo vencedora. (The Citizen)