"Há dois resultados possíveis a nível nacional e fora do Cabo Ocidental [bastião do maior partido da oposição Aliança Democrática (DA)]: o ANC ganha a maioria ou é de longe o maior partido e o único capaz de formar uma coligação", escreve Steven Friedman na rede digital universitária 'The Conversation Africa'.
De acordo com o analista e professor de Estudos Políticos na Universidade de Joanesburgo (UJ), as previsões de uma mudança de Governo na África do Sul "ignoram a ausência de outro partido que poderia derrotar o ANC, o que significa que, mesmo que o ANC perca drasticamente o seu apoio eleitoral, como antecipa umas das sondagens, ainda assim permanecerá no poder em quase toda a parte".
"Todavia, embora as eleições não mudem o Governo, pode mudar o equilíbrio de forças entre as duas facções que competem pelo poder dentro do ANC - a do Presidente, Cyril Ramaphosa, e a outra do ex-Presidente, Jacob Zuma", salienta.
O analista sul-africano sublinha que a facção Zuma ainda está fortemente representada nos fóruns de decisão do partido governante.
"A batalha entre as duas facções persiste e o diferendo entre elas é muitas vezes maior do que entre o ANC e alguns partidos da oposição. É impossível analisar seja o que for que o ANC faça sem saber qual é a facção que se encontra por trás", salienta.
Steven Friedman acredita que Cyril Ramaphosa foi eleito em 2017 porque os principais líderes do ANC, nomeadamente o atual vice-presidente, David Mabuza, acreditavam que o partido no poder não ganharia estas eleições sob a liderança da "fação Zuma".
"A credibilidade de Ramaphosa junto de alguns elementos com poder no ANC depende, portanto, dos resultados que demonstrem que pode conter o declínio do ANC nas urnas", sublinhou.
Segundo o analista, se o ANC melhorar o desempenho eleitoral que obteve nas eleições autárquicas em 2016, "Ramaphosa terá presidido ao primeiro incremento de votos no partido nos últimos 15 anos", o que contribuirá para uma reeleição como presidente do ANC na próxima conferência nacional do partido em 2022.
"Se o ANC cair para perto dos 50%, a probalidade de Ramaphosa correr o risco de perder em 2022 dependerá de os membros do ANC serem persuadidos a atribuir responsabilidades a Zuma e aos seus seguidores. O que está claro é que, quanto pior é o desempenho do ANC, melhor é a oportunidade de a fação Zuma afastar Ramaphosa do conselho geral nacional [o maior encontro nacional do partido entre conferências electivas] em 2020", afirma.
Na leitura de Steven Friedman, as duas fações rivais no seio do partido no poder na África do Sul, "têm abordagens muito diferentes para governar [o país] e, portanto, a batalha entre elas afeta o futuro do país."
"É essa a batalha que os resultados eleitoriais irão ditar, ao contrário da rivalidade entre os partidos políticos", disse o analista político sul-africano.
O ANC, no poder desde as primeiras eleições multirraciais e democráticas em 1994 através de uma aliança política com o SACP [South African Communist Party] e a confederação sindical COSATU, conquistou 62 por cento em 2014 e perdeu nas autárquicas em 2016 o controlo das três maiores áreas metropolitanas do país - Joanesburgo, a capital económica do país; Pretória, capital administrativa e sede do Palácio Presidencial, ambas na província de Gauteng, e ainda Nelson Mandela Bay, Cabo Oriental, a província-berço do ANC.
Segundo a Comissão Eleitoral Independente (IEC, sigla em inglês), 48 partidos políticos vão disputar a 08 de maio as eleições gerais e provinciais, tendo-se registado 26,7 milhões de eleitores.
O IEC diz ter instalado para o efeito cerca de 23.000 mesas de voto nas nove províncias do país (Eastern Cape, Free State, Gauteng, KwaZulu-Natal, Limpopo, Mpumalanga, Northern Cape, North West, Western Capa).(Lusa)