Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quinta-feira, 17 outubro 2024 06:52

Eleições 2024: Há votos em branco e de Venâncio Mondlane atribuídos a Daniel Chapo – Mais Integridade

EdsonCortez171024.jpg

Continua a ser narrado a “conta-gotas” o filme da noite eleitoral do dia 09 de Outubro de 2024, dia em que pouco mais de 7.2 milhões de eleitores foram votar o novo Presidente da República, os novos deputados, os novos 10 Governadores Provinciais e os novos Membros das Assembleias Provinciais.

 

Em Relatório Preliminar sobre a votação, divulgado esta quarta-feira, o Consórcio Eleitoral Mais Integridade conta uma história digna de um filme de terror, caraterizado por actos de roubo, inutilização e compra de votos de candidatos e partidos da oposição (PODEMOS, Renamo e MDM) a favor da Frelimo e seu candidato Daniel Francisco Chapo, tendo como protagonistas os Membros das Mesas de Votos.

 

Segundo o “Mais Integridade”, na noite eleitoral de 09 de Outubro de 2024, para além dos já conhecidos e famosos casos de enchimento de urnas, houve também anulamento de votos pelos Presidentes das Mesas, sendo que os casos mais significativos registaram-se nas províncias de Sofala, Zambézia, Nampula e Tete.

 

Por exemplo, na EPC Josina Machel, no distrito de Marromeu, província de Sofala, a delegada do PODEMOS encontrou mais de sete votos em branco e mais de quatro votos do candidato Venâncio Mondlane, que tinham sido qualificados a favor do candidato do partido Frelimo, Daniel Chapo.

 

Na EPC 10 de Maio, no mesmo distrito, o “Mais Integridade” afirma que um dos presidentes de Mesa usou, de forma sistemática, tinta de carimbo para anular os votos a favor candidato Venâncio Mondlane, enquanto na EPC de Mazi Ntunga, um dos presidentes da Mesa agrediu fisicamente o secretário e um dos escrutinadores por reclamarem o facto de o presidente estar a anular os votos a favor dos partidos da oposição.

 

Já na EPC Maulate, no distrito de Namacura, província da Zambézia, os observadores do “Mais Integridade” contam que os delegados da Frelimo e do PODEMOS confrontaram-se fisicamente devido aos ilícitos eleitorais praticados pelos presidentes das Mesas, em particular o apuramento tendencioso a favor do candidato da Frelimo.

 

“Na EPC Nhamiasse (Morrumbala-Zambézia), para além dos MMV terem votado mais de uma vez, durante a contagem nem sempre marcavam no quadro negro os votos atribuídos ao PODEMOS e à Renamo. Na EP1 Napote, (Gilé - Zambézia), votos considerados nulos foram transformados em votos a favor do partido Frelimo”, narra o Relatório.

 

Na EPC de Tacuane (Lugela-Zambézia), antes do início da contagem, no tempo dedicado ao descanso, o presidente da Mesa foi encontrado a abrir a urna e acrescentar boletins de voto pré-marcados; e na EPC de Marrupa-Sede (Marrupa-Niassa), a contagem foi paralisada durante largos minutos pelo facto de um dos escrutinadores ter sido encontrado com mais de dois dedos pintados com tinha de carimbo, que usava para invalidar os boletins de voto favoráveis ao PODEMOS.

 

Um dos casos mais gritantes narrados pelo Consórcio “Mais Integridade” ocorreu na EPC de Chamissava, no Distrito Municipal de KaTembe, na Cidade de Maputo, onde, dos 230 votos que o PODEMOS tinha obtido na eleição legislativa e marcados no quadro negro, apenas um foi registado no edital oficial publicado pela Mesa.

 

Para além do roubo e inutilização de votos de Venâncio Mondlane e PODEMOS, houve casos de tentativa de compra de votos da oposição para Frelimo. Um dos casos ocorreu no Posto de Votação de Magumbo, no distrito de Tsangano, província de Tete, onde o presidente da Mesa de Voto propôs ao delegado do MDM que lhe vendesse os votos daquele partido a troco de 4.000,00 MT para a Frelimo.

 

Já na EPC de Nanene, distrito de Maganja da Costa, província da Zambézia, registou-se uma tentativa de compra de votos do PODEMOS e da Renamo com valores que variam entre 5.000 e 30.000 Meticais. Refira-se que o dinheiro foi usado também durante a campanha eleitoral, com o objectivo de comprar cartões de eleitores, na base dos quais o partido no poder preparava a fraude.

 

Em conferência de imprensa concedida ontem, o Director do Centro de Integridade Pública, uma das organizações da sociedade civil integrantes do consórcio, assumiu ser inexplicável o que aconteceu na noite do dia 09 de Outubro.

 

“Temos magia, em Moçambique, porque aquilo que a gente viu a ser contado e aquilo que os editais diziam, no dia seguinte, eram coisas totalmente diferentes. Perante esse cenário, é muito difícil o consórcio vir aqui dizer que nós fizemos contagem, baseada nos editais porque a maior parte tem resultados martelados”, defendeu Edson Cortez.

 

“Mais uma vez, como país, realizamos eleições fraudulentas, que não reflectem aquilo que foi a vontade dos eleitores. Em certas urnas, havia mais gente que só ia votar para as eleições presidenciais e se esquecia do boletim de voto para as eleições legislativas. Isso mostra enchimento de urnas”, sublinhou, apelando à Procuradoria-Geral da República a olhar para os vários ilícitos eleitorais, no lugar de se preocupar apenas com um candidato.

 

Segundo a plataforma, que contou com 1.900 observadores, distribuídos por mais de 1.500 locais de votação nos 161 distritos do país, cobrindo um total de 3.106 Mesas, a noite eleitoral foi marcada também por falta de iluminação, assim como por cortes sistemáticos de energia eléctrica.

 

Por exemplo, as Escolas Secundárias de Pebane (Zambézia); a EPC de Chanica (Mandimba-Niassa); a EPC de Thungo (Lago-Niassa); a Escola Básica 16 de Junho (Mecula); a Escola Secundária de Entre-lagos, (Mecanhelas,); e a EPC de Mucujua (Monapo) tinham problemas de iluminação, enquanto a EPC de Chinga (Murrupula) registava cortes frequentes de energia. “As lanternas disponibilizadas pelo STAE não ofereciam iluminação suficiente para operações de qualificação de votos, o que originou novas interrupções devido a discordâncias na qualificação dos votos”, sublinha.

 

Lembre-se que os resultados oficiais indicam uma vitória de Daniel Chapo e da Frelimo, com mais de 60% dos votos, enquanto a contagem paralela do PODEMOS aponta para uma vitória do partido e do seu candidato Venâncio Mondlane com mais de 53% dos votos. Os resultados finais só serão conhecidos no dia 24 de Outubro. (Carta)

Sir Motors

Ler 2729 vezes