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terça-feira, 07 maio 2024 07:07

Ecos de um Comité Central “sinistro” e imprevisível

Caiu o pano, na noite de domingo, sobre a I Sessão Extraordinária do Comité Central, uma reunião “sinistra” e imprevisível, que pôs fim à novela da sucessão no partido Frelimo. Convocada para durar apenas um dia, a reunião acabou levando três dias, tendo havido informações dando conta de um possível adiamento, devido à falta de consenso sobre os nomes que deviam ir à votação.

Ana Rita Sithole, deputada e membro do Comité Central da Frelimo, disse não ter ficado surpresa com a prorrogação do prazo dos debates, em mais de 20 anos de militância, nunca testemunhou um processo de sucessão que tenha durado apenas um dia. Quem também não se recorda de uma sucessão fácil é Celso Correia, que comparou aquele processo ao serviço de parto. “De Partos difíceis sempre nascem meninos bonitos”, defende.

No entanto, se a prorrogação da reunião, de um para três dias, não surpreendeu os “camaradas”, a organização e os resultados do encontro surpreenderam a todos e todos. À partida, Aires Ali, José Pacheco e Basílio Monteiro eram considerados “favoritos” dos membros do Comité central, enquanto Roque Silva despontava como a principal aposta de Filipe Nyusi, tendo Daniel Chapo e Damião José como “fauna acompanhante”, porém, acabou sendo o Governador de Inhambane a estrela da noite.

 

De fora, os jornalistas viviam um dos maiores martírios profissionais da sua vida. Durante os três dias, os profissionais da comunicação social moçambicana foram proibidos de atravessar o portão da Escola Central da Frelimo, tendo montado as suas Redacções numa área destinada ao lazer e ao estacionamento de viaturas.

 

Aliás, diferentemente das reuniões anteriores, os jornalistas não tiveram qualquer crachá para cobrir o evento, sendo que o acesso ao pátio e à sala de sessões, horas antes do encerramento, foi feito mediante uma chamada nominal e pela segurança do Chefe de Estado. Neste quesito, os jornalistas foram submetidos a três processos de “confirmação” dos nomes e presenças. Apenas funcionários do Gabinete de Imprensa do Presidente da República estavam acreditados.

 

Para além das restrições no acesso ao pátio da Escola Central da Frelimo, os jornalistas foram submetidos a uma seca de informação. Durante os três dias do Comité Central, o partido Frelimo não se dignou a prestar quaisquer informações aos jornalistas, sendo que as poucas informações foram obtidas através de Manuel Formiga (antes de ser humilhado publicamente pela sogra) e pelo solícito jurista Teodoro Waty, que se tornou, de forma involuntária, o porta-voz da reunião. Ludmila Maguni, porta-voz do partido, sequer deu a cara aos jornalistas.

 

Com o blackout “declarado” aos jornalistas, as fake news prosperaram e o processo eleitoral correu longe dos holofotes, não tendo sido divulgados os resultados oficiais da primeira volta da eleição. Também não foi possível testemunhar a campanha eleitoral realizada pelos candidatos e muito menos o famoso “jogo das malas”, que reinou no escrutínio de 2014.

 

As restrições no acesso à Escola do partido Frelimo não só eram exclusivas aos jornalistas, mas também aos seguranças da “nomenklatura”, comumente conhecidos como Ajudantes de Campo (ADC). A par dos jornalistas, os seguranças (na sua maioria agentes da Unidade de Protecção de Altas Individualidades) também estavam acantonados no exterior do pátio, sendo que só tinham acesso ao recinto apenas à hora do almoço para passarem refeições.

 

Refira-se que a ausência de informação e as restrições no acesso ao recinto da Escola Central da Frelimo juntam-se aos ajustes às logísticas financeira e operativa dos órgãos de comunicação social, inicialmente desenhadas para um dia e que tiveram de ser reajustadas a cada dia. De resto, tratou-se de um conclave em que os comerciantes (de refeições e bebidas alcoólicas) começaram tímidos, mas acabaram sendo os principais “vencedores” do fim-de-semana, a avaliar pelo fluxo do negócio.

 

Sublinhar que, no conclave do último fim-de-semana, participaram apenas os membros efectivos e suplentes do Comité Central e os Presidentes Honorários, convidados permanentes do órgão, numa reunião “sinistra” e com resultados imprevisíveis. (A. Maolela)

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